sábado, 17 de março de 2012

Poupar ou viajar?


A revista EXAME destaca que entre os países do BRIC, o Brasil é o que tem a menor taxa de poupança doméstica. Isso significa que depende mais de capitais externos para financiar seus investimentos. E cita que enquanto a China registra a taxa de poupança doméstica (% do PIB) de 53,8%, a Índia de 35,4%, a Rússia de 28,2%, o Brasil tem apenas 17,3%.

Enquanto isso, os aeroportos das maiores cidades do mundo estão recebendo diariamente mais e mais brasileiros. Em 2011 os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 21,2 bilhões. Com isso, as despesas de brasileiros lá fora cresceram 29,2% em relação ao ano de 2010, que totalizou US$ 16,42 bilhões e bateram novo recorde da série histórica do Banco Central, que começa em 1947. O recorde anterior havia sido registrado justamente em 2010.

Acredito que precisamos fazer um estágio no Japão...

Bradesco 2012.


Conforme ranking da Brand Finance, publicado na revista The Banker, o brasileiro BRADESCO, com US$ 15.692 bilhões, é a 9ª marca de banco mais valiosa do mundo.  A 1ª posição ficou com o britânico, o nosso conhecido HSBC, com o valor de US$ 27.597 bilhões. 

sexta-feira, 16 de março de 2012

A reputação da USP.


Editorial da Folha de hoje comenta uma boa notícia sobre a USP.                   

A classificação da USP entre as 70 universidades com melhor reputação no mundo evoca a metáfora um tanto gasta do copo cheio (ou vazio) pela metade. É uma boa notícia, por certo, ainda que não mereça ser brindada com entusiasmo.

A USP é a única instituição da América Latina entre as cem da lista das mais reputadas compilada pelo grupo THE (Times Higher Education). No ano passado, nem aparecia na relação. Fica longe de fazer feio, de toda maneira, uma universidade que se encontra no mesmo patamar de centros como a Universidade Humboldt (Berlim) e o King's College (Londres).

Galgar 30 posições de um ano para o outro, por outro lado, constitui um salto que não pode ser explicado por repentino avanço de qualidade. É provável que fatores externos, como a crescente visibilidade do Brasil -sexta maior economia, a caminho de tornar-se a quinta- no cenário mundial, estejam por trás da arrancada.

Tampouco se descartam mudanças na consulta do THE como explicação para o desempenho da USP. Quase 18 mil pesquisadores de todo o mundo -31% mais que na versão anterior- foram convidados a indicar as 15 instituições de pesquisa mais prestigiosas. Parece plausível que a amostra inclua número relativamente menor de cientistas da esfera anglo-saxã e europeia de pesquisa, o que aumentaria a chance de menções a universidades mais periféricas.

Tais hipóteses não desmerecem a colocação da USP, é claro. Afinal, duas outras nações do festejado grupo dos Brics -Rússia e Índia- desapareceram da lista de cem melhores. Só a China segue na relação, com duas universidades entre as 40 melhores: a Tsinghua (30º lugar) e a de Pequim (38º).

Deslocamentos assim abruptos dão testemunho, ainda, da precariedade intrínseca a essas classificações. Basta variar os critérios -como quantidade de artigos científicos publicados ou número de patentes e prêmios Nobel- e o peso atribuído a eles para chegar a listas díspares entre si. O próprio THE traz a USP na 178ª posição num ranking mais geral, que agrega 12 quesitos ao de reputação.

Tais classificações devem ser tomadas, em conjunto, apenas como guia para traçar um programa de reforma contínua daquela que é a melhor universidade do Brasil.



quinta-feira, 15 de março de 2012

A taxa de juro real: o Banco Central e o mercado.


Cristiane Alkmin J. Schmidt é doutora em Economia pela EPGE/FGV, ex-secretária-adjunta da Seae/MF e professora da FGV. Este artigo foi publicado no Valor Econômico.

O Banco Central (BC) sonda as instituições sobre temas que julga relevantes. O tópico da vez é a taxa de juros real neutra do país, que para o BC pode ser até menor do que 4%, pois, para dezembro de 2012, mesmo com uma inflação esperada em 5,27%, a Selic indicada é 9%. A mediana do mercado, porém, considera que ela seja de 5,5%.

A discussão é pertinente e tempestiva, pois o Brasil, ainda que tenha apresentado mudanças estruturais, está com uma dinâmica peculiar: preços relativos estranhos, custo de vida acima do de economias com renda per capita o dobro da brasileira, muito fluxo de capital entrando no país, inflação acima da meta e crescimento abaixo do potencial. Por isso deve-se questionar qual é o juro real que permite à economia crescer sem criar pressão inflacionária.

Pesquisa feita em 2010 aponta que a mediana da taxa neutra era de 6,75%. Há consenso (88%), assim, de que ela decresceu. Mas mesmo que ela siga sendo uma das mais altas do mundo e que haja o desejo (da sociedade, não só do governo) em diminuí-la, a redução da taxa Selic se sustenta no médio prazo?

Antes de responder, pois, vale tocar em dois pontos. Primeiro que, sem choques na economia, se o Banco Central entende que a taxa neutra é mais baixa do que aquela verdadeira (não observável), a demanda agregada é estimulada, que pressiona a inflação. Segundo, uma forma de inferir como ditas taxas divergem é comparar as taxas de inflação efetiva e esperada com relação à sua meta.

Isso posto, até 2004, esses desvios foram elevados, indicando que o BC estava subestimando a taxa neutra ou que a economia estava sofrendo choques. Em março de 2003, por exemplo, o IPCA foi de 17%, a meta de 4%, e a diferença, assim, de 13 pontos percentuais. De fato, além da crise na Argentina, o evento de 11 de setembro e o racionamento de energia, em 2001, após as eleições em 2002, o Brasil passou por um período conturbado, com real desvalorizado, que pressionou ainda mais a inflação nos períodos subsequentes.

Com respeito ao período após 2004, os desvios não foram grandes ou persistentes. A partir de março de 2010, porém, eles sugerem alguma preocupação. Pode ser que revertam, como ocorreu entre junho de 2004 e abril de 2006, mas já são 23 meses consecutivos de desvios positivos e a expectativa é de que sigam assim por pelo menos mais 24 meses (Focus). Não se pode rejeitar, portanto, a hipótese de que o juro real neutro esteja acima daquele que o BC entende que é.

Tome-se, por exemplo, o ano de 2011. Como o IPCA foi de 6,5% e a média Selic de 11,62%, a taxa de juros real implícita foi de 4,81%, valor abaixo da mediana de mercado (5,5%). Não por menos o desvio entre o IPCA e a meta (4,5%) ficou positivo todo o ano de 2011. Em janeiro de 2012, com a inflação em 6,22% e a média-Selic em 10,69%, a taxa de juros real implícita ficou ainda menor, em 4,21%. Finalmente para o ano de 2012, com a inflação projetada em 5,25% e média-meta-Selic ao redor de 9,5%, a taxa real deverá ser de 4%, também abaixo do consenso do mercado.

Em suma, o juro real efetivo (induzido pelo BC ao impor a meta-Selic) parece não estar condizente nem com o que o mercado estima como sendo o neutro, nem com o verdadeiro. Ou seja, esta taxa hoje não parece estar condizente com os fundamentos da economia brasileira.

De certo, os fatos falam por si. Para crescer precisa-se de investimento (a taxa é de 19,3%), que, por sua vez, precisa-se de poupança, que tem sido baixa (17,2%). Adiciona-se o fato de que há 6 trimestres a produtividade não cresce (Ibre/FGV, Valor, 5/3/12) e de que o Brasil parece estar passando pelo "Lewis turning point" (o ponto em que o mercado de trabalho saturado passa a pressionar os salários). Assim, por mais que o produto esteja crescendo abaixo do seu potencial (argumento para reduzir a Selic), o desemprego está baixo (o que pressiona o custo das empresas) e a inflação, mesmo decrescente desde outubro de 2011, está há dois anos acima da meta e pode ficar assim por pelo menos mais um. A inflação de serviços, que representa 25% do IPCA, está acima de 9% e não parece que dará trégua. E com o governo evitando a valorização do real e impondo barreiras à importação, a inflação dos bens comercializáveis pode deixar de ajudar a arrefecer o IPCA.

Impor juro real baixo como o governo vem fazendo e dizendo que continuará a fazer, é, portanto, discutível. Enquanto o BC sustenta que haverá convergência da inflação para a meta, o mercado não enxerga este cenário nem para 2013.

Para dar mais transparência, o BC poderia aumentar a meta de inflação ou, talvez, alterar a sua estratégia com relação à Selic. Diminui-la hoje (até 6%!) para conter o fluxo externo de capitais e estimular o PIB pode significar ter que aumentá-la mais ainda no futuro para frear a inflação.

A realidade é que há dúvidas quanto à meta de inflação que o BC de fato persegue e também sobre o juro real que ele julga ser o neutro. Mesmo considerando os complexos desafios que o BC tem passado, há questionamentos quanto à redução da taxa de juro real, que, como parece ser insustentável, acaba sendo uma estratégia não crível no médio prazo.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Mises, sempre atual.


Se caem as importações, as exportações também caem. Os cidadãos que foram impedidos de comprar mercadorias importadas, de pagar dívidas a estrangeiros e de viajar ao exterior não vão entesourar o dinheiro não gasto, aumentando os seus encaixes. Irão aumentar as suas compras de bens de consumo ou de produção, provocando, assim, maior tendência de aumento dos preços domésticos. E quanto mais os preços internos aumentam, mais difícil exportar.

Ludwig von Mises em “Ação Humana – Um Tratado de Economia" – página 905.      

Microcrédito.


Antonio Delfim Netto, hoje na Folha de S. Paulo.

Talvez um dos fatos importantes a respeito da sociedade brasileira seja a afirmação de "identidade" de um enorme contingente populacional que gosta de imaginar-se como "classe média".

Isso, obviamente, não é acidente nem produto espontâneo. É consequência de um processo civilizatório recente em que as políticas sociais sujeitas a algumas condicionalidades foram mais bem focadas.

Paralelamente, houve uma "inclusão" desses cidadãos na economia de "mercado" devido ao forte aumento das oportunidades de emprego e ao acesso ao crédito.

Uma das características mais marcantes desses novos cidadãos é a "internalização" de que o fator mais importante para "subir na vida" é a conquista da educação para si e para seus filhos, ainda que lhes custe enormes sacrifícios.

Só não percebe essa ascensão social quem sofre de miopia. É tal ascensão que vai continuar a permitir a construção de um mercado interno capaz de garantir o mínimo de economicidade e "incluir" o Brasil, de forma adequada e relativamente segura, na globalização avassaladora que fragmentou o processo produtivo.

Esses fatos são visíveis na recente pesquisa feita pela Fondapol (Fondation pour l'Innovation Politique), em meados de 2011, com jovens de 25 países, em que se perguntou: 1º) Você acha seu futuro promissor ("prometteur")?; 2º) Você acha o futuro do seu país promissor?

À primeira pergunta 87% dos jovens brasileiros responderam afirmativamente, e à segunda, 72%. Isso contrasta com os EUA, onde à primeira pergunta 81% responderam afirmativamente, mas à segunda, apenas 37%. O curioso é que na China a coisa se inverte: 73% creem que têm futuro promissor, mas 82% creem no futuro promissor do seu país.

O governo decidiu estimular o Banco do Brasil -agora proprietário do Banco Postal- e a Caixa Econômica Federal -que controla as "lotéricas"- a expandirem cuidadosa e seguramente o microcrédito, com taxas de juros mais acessíveis e menor burocracia, o que deve aumentar a "inclusão" social.

É importante dizer que, para fazê-lo, não se cogita subsídio do Tesouro ou violação das garantias exigidas pelo Banco Central, mas, sim, redução da distância entre os bancos e o tomador de crédito, diminuindo o evidente constrangimento dos mais pobres de acessarem os bancos.

Isso vai ser feito aproveitando a "imagem" e a reputação secular do BB e da CEF -que, para os mais simples, significam segurança absoluta. A economia de escala deve tornar os seus "spreads" mais atrativos do que os dos bancos privados que só agora começam a "descobrir" os potenciais novos clientes e vão ter que disputá-los.

terça-feira, 13 de março de 2012

USP é universidade que mais forma doutores no mundo.


Agência FAPESPA Universidade de São Paulo (USP) é a universidade que mais forma doutores mundialmente. A constatação é do Ranking Acadêmico de Universidades do Mundo (ARWU, na sigla em inglês) por indicadores, elaborado pelo Centro de Universidades de Classe Mundial (CWCU) e pelo Instituto de Educação Superior da Universidade Jiao Tong, em Xangai, na China, que aponta a universidade paulista como a primeira colocada em número de doutorados defendidos entre 682 instituições globais.

O ranking também indica a USP como a terceira colocada em verba anual para pesquisa, entre 637 universidades, além de a quinta em número de artigos científicos publicados, entre 1.181 instituições em todo o mundo, e a 21ª em porcentagem de professores com doutorado em um universo de 286 universidades.

Na avaliação de Vahan Agopyan, pró-reitor de Pós-Graduação da USP e membro do Conselho Superior da FAPESP, a liderança mundial na formação de doutores, apontada pelo levantamento global, deve-se à tradição da pós-graduação da USP no Brasil.

Em 1965, quando foram definidas as novas diretrizes da pós-graduação no país, baseadas no trabalho de Newton Sucupira (1920-2007) – responsável pela criação do Conselho Federal de Educação, atualmente Conselho Nacional de Educação – a USP já possuía um número muito expressivo de docentes com doutorado, e se destacou como a universidade que viria a suprir a demanda do país por mestres e doutores.

Nas décadas de 1970 e 1980, praticamente metade dos doutorados no Brasil eram realizados na USP, e hoje mais de 20% dos pós-graduandos no país também obtém o título de doutor aqui. Isso permitiu que a universidade se tornasse um grande centro mundial de pós-graduação, agora confirmado por esse ranking internacional”, disse Agopyan à Agência FAPESP.

Nos últimos dez anos tem diminuído o número de mestrandos e de doutorandos na USP. Em 2011, pela primeira vez o número de doutorandos na universidade, que celebrou em agosto a concessão de 100 mil títulos de pós-graduação, foi maior que o de mestrandos.

“É um reflexo do aumento no número de programas de mestrado oferecidos em todo o país. Em função disso, os pós-graduandos estão preferindo realizar mestrado em sua própria região e procuram a USP para fazer doutorado ou alguma outra atividade mais especial”, avaliou Agopyan.

Por outro lado, o número de estudantes de pós-graduação da USP tem se mantido estável nos últimos anos. Atualmente, a universidade conta com cerca de 23 mil alunos de pós-graduação stricto-sensu e titulou 2.192 doutores e 3.376 mestres em 2011 – números que oscilaram pouco nos últimos 15 anos.

“Nós já somos grandes e estamos trabalhando no máximo da nossa capacidade há vários anos. Cada um dos nossos docentes tem, em média, mais de cinco orientandos, que é um número elevadíssimo”, afirmou Agopyan.

Segundo o pró-reitor, esse fenômeno também é comum às principais universidades no mundo, como as norte-americanas, europeias e chinesas listadas no ranking, cujo número de pós-graduandos também está bastante estável e seus programas de pós-graduação operam no limite de suas capacidades.

Um dos fatores atribuídos por Agopyan para a USP continuar liderando a formação de doutores é a atuação da universidade em todas as áreas do conhecimento, sendo que as universidades no exterior normalmente têm algumas áreas de especialidade. “Somos uma instituição pluridisciplinar”, destacou.

Na avaliação de Agopyan, o desafio agora é ser não apenas a maior, mas a melhor em formação de doutores no mundo. Para isso, a USP tem buscado padrões internacionais de qualidade, por meio da promoção da mobilidade de seus docentes e alunos para outros países, da avaliação e do apoio aos seus programas de pós-graduação. “Não queremos apenas quantidade, mas sim qualidade”, afirmou.

A FAPESP desembolsou R$ 277,3 milhões em 2010 com Bolsas no país, dentro de seu Programa de Bolsas. Desse total, por vínculo institucional do pesquisador responsável pelo projeto ou do bolsista, a USP recebeu R$ 132,7 milhões (ou 47,87%).  Em 2010, a FAPESP concedeu 1.362 bolsas de Doutorado e Doutorado Direto.

Além da USP, o ranking elaborado pela CWCU apontou a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) como a 38ª colocada em número de doutorados defendidos, a 138ª em número de artigos publicados e a 62ª em percentual de professores com doutorado.

Por sua vez, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) obteve a 55ª posição em doutorados concedidos, a 150ª colocação em número de artigos publicados e o 31º lugar em percentual de professores com título de doutor.

Um outro ranking divulgado em janeiro, o Web of the World Universities, conhecido como Webometrics, que mede a visibilidade das universidades nos principais mecanismos de busca da internet, apontou a USP como a 20ª colocada e a primeira da América Latina, seguida na região pela Universidade Nacional Autônoma do México, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Unesp. A Unicamp obteve a 9ª colocação entre as universidades latino-americanas.

Outras universidades brasileiras que figuram entre as dez mais bem colocadas no ranking latino americano são a Universidade Federal de Santa Catarina, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade de Brasília e a Universidade Federal do Paraná.

The Brazilian Economy.


A revista The Brazilian Economy — versão eletrônica em inglês da Conjuntura Econômica — comemora seus três anos de circulação com uma novidade. Agora, ela também pode ser baixada gratuitamente direto do iPad. Esse é o primeiro aplicativo oficial da FGV na Apple Store, que pode ser acessado através do link: http://itunes.apple.com/br/app/the-brazilian-economy/id499233709?l=en&ls....

Desde que entrou no ar até hoje, a revista The Brazilian Economy ajuda a internacionalizar o nome da FGV/IBRE, já que se encontra disponível em sites como o da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, da Câmara de Comércio Brasil-Índia; da Câmara de Comércio Brasil-Nova York; da Câmara de Comércio Brasil-Flórida e do site da George Washington University, além de ser distribuída para todos os membros da Câmara Brasil-Austrália.

Em breve, os leitores também poderão conferir a revista Conjuntura Econômica no iPad. O processo de inclusão na nova ferramenta está em fase final de conclusão. O desenvolvimento desse projeto, coordenado pela Superintendência de Comunicação do IBRE, teve apoio do Núcleo de Administração do Portal e de Infraestrutura Tecnológica (NAPI).

Deixem o cinto para lá.

Do blog de Paul Krugman, a consciência de um liberal, aqui no Brasil publicado pela Estadão.

Algumas pessoas me pediram uma explicação rápida e fácil para a diferença entre um governo e uma família – basicamente, o problema que haveria em dizer que, quando as coisas vão mal, o governo deve apertar o cinto. Estou trabalhando numa resposta. Mas, quem sabe, possamos usar a Grécia como uma rápida ilustração do problema.

Afinal, poderíamos encarar a Grécia como uma família que gastou demais, endividou-se e, agora, seus membros vêem-se obrigados a fazer tudo aquilo que as famílias fazem quando se descobrem em tal posição: cortar os gastos com aquilo que não é essencial, adiar despesas grandes como o atendimento médico e coisas do gênero, largar seus empregos e reduzir a própria renda – ei, espere aí.

É este o ponto, é claro. Quando uma família aperta o cinto, ela não acaba com os empregos que a sustentam. Quando um governo aperta o cinto diante de uma economia deprimida, muitas pessoas são privadas de seus postos de trabalho; e isto traz efeitos negativos até sob o ponto de vista estritamente fiscal e míope do governo, pois uma economia em retração significa uma arrecadação menor.

Ora, alguém poderia dizer que cortar gastos governamentais não significa realmente eliminar postos de trabalhoalguém que tenha passado os últimos anos numa caverna ou num centro de estudos estratégicos de viés conservador, alheio às informações a respeito de como a austeridade tem funcionado na prática. Pois o resultado das políticas de austeridade na Europa são o máximo que conseguiremos em termos de testes macroeconômicos e, sem exceção, os grandes cortes nos gastos governamentais foram seguidos por declínios acentuados no PIB.

Assim, é melhor deixar o cinto para lá; trata-se de uma péssima metáfora.

segunda-feira, 12 de março de 2012

O PIB de 2011 e depois.


David Kupfer é professor e pesquisador licenciado do Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da UFRJ (GIC-IE/UFRJ) e assessor da presidência do BNDES. Escreveu este artigo no VALOR ECONÔMICO. As opiniões expressas são do autor e não necessariamente refletem posições do banco.


Já se disse que toda unanimidade é burra mas no caso do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, dez entre dez analistas econômicos concordaram que a taxa de 2,7%, recém-divulgada pelo IBGE, embora muito abaixo das previsões vigentes ao final de 2010, foi satisfatória para um ano que, ao fim e ao cabo, revelou-se bastante conturbado, cheio de nuvens negras no cenário internacional e de reviravoltas na política econômica interna. Em comparação com os trimestres anteriores na série com ajuste sazonal, após apresentar uma evolução negativa de 0,1% no terceiro trimestre do ano passado, a informação de que o crescimento do PIB no quarto trimestre foi ligeiramente positivo, nada mais do que 0,3%, serviu para afastar o temor de que a economia brasileira pudesse estar entrando em rota de recessão.

Ao contrário, a sensação dominante é de que o país superou um miniciclo contracionista e que nos próximos trimestres os números deverão exibir comportamento melhor, levando a economia a sua marcha habitual, como expresso na manutenção pela maioria de expectativas de crescimento para este ano em torno dos 3,5%.

A observação do PIB pela ótica da demanda ajuda a dar substância a esse quadro. O crescimento de 4,1% apresentado pelo consumo das famílias em 2011, em parte devido ao crescimento da massa salarial (4,8% em termos reais, segundo o IBGE), em parte devido a evolução favorável do crédito, sugere que o polo dinâmico da economia brasileira na última década está preservado. Em paralelo, embora a taxa de investimento como proporção do PIB não tenha conseguido avançar em relação a 2010 (19,3% ante 19,5%), a formação bruta de capital expandiu-se em 4,7%, um resultado positivo, em particular, quando se observa a expansão do uso de máquinas e equipamentos, que foi de 6% no ano.

No entanto, se visível, e mesmo justificável, para o conjunto da economia, essa sensação de relativo conforto não se aplica igualmente a todos os setores componentes do PIB. Passando-se para a ótica da oferta, especialmente a evolução da indústria tem provocado preocupações generalizadas. O recuo da indústria geral, que foi de 0,5% em relação ao terceiro trimestre de 2011 e, especialmente, a forte retração da indústria de transformação, cujo desempenho foi de -2,5% em relação ao trimestre anterior e de -3,1% em relação ao quarto trimestre de 2010, indicam tendências negativas de evolução do produto industrial que não podem ser compreendidas nem muito menos atribuídas somente às questões de conjuntura.

Esse desbalanceamento entre demanda e oferta é revelado pela evolução das importações de bens e serviços, que cresceram 9,7% em 2011. Levando-se em conta a variação total do PIB, está-se diante de uma elasticidade-renda na qual para cada ponto percentual de crescimento do PIB, as importações crescem 3,6%. A partir dessa relação estrutural, pode-se imaginar qual seria a taxa de expansão das importações se a economia estivesse em franco crescimento: mantida essa elasticidade, um hipotético crescimento de 5% do PIB implicaria expansão de 18% das importações. Trata-se de um montante que evidentemente exerceria pesado impacto sobre a conta corrente que já vem se mostrando deficitária há alguns anos.

Esse aumento na propensão a importar da economia, que vem se verificando de forma contínua nos anos recentes, sinaliza que é inegável que a indústria brasileira vem percorrendo uma trajetória de perda de competitividade. Parte desse fato está realmente na questão cambial. Como está claro desde que a poeira da grande crise financeira de 2008 assentou e tornou possível enxergar a nova arquitetura da economia mundial, a taxa de câmbio competitiva de hoje é mais desvalorizada do que a de antes. Quer dizer, mantidas as demais condições de formação de custos, diante de moedas de referência mais desvalorizadas, preservar a competitividade efetiva da moeda exigiria desvalorizá-la em alguma proporção, exatamente o contrário do que ocorreu com o real.

No entanto, outra parte igualmente importante do problema não está no mundo dos preços e custos e sim no mundo das quantidades. Com a redução do ritmo de crescimento das economias líderes, e o consequente aumento da capacidade ociosa da indústria mundial, ocorreu inegável acirramento na disputa pelos mercados nacionais em expansão e o Brasil, positivamente, está nesse grupo. Metaforicamente, nesse novo quadro a produção made in Brazil teria que correr mais rápido para conseguir permanecer no mesmo lugar.

A economia brasileira enfrentou 2011 dando sinais de que o mix macroeconômico que, ao longo de quase 20 anos, vem propiciando alguma estabilidade às custas de algum crescimento, pode ser reformulado e que o país pode enfim começar a se beneficiar de juros consistentemente menores e de taxas de câmbio senão competitivas, pelo menos não tão nocivas à atividade industrial.

Mas o novo quadro competitivo internacional sugere que o sucesso na mudança do mix macroeconômico não será suficiente. Políticas competentes de desenvolvimento industrial que defendam a produção nacional - o que não necessariamente significa defender os produtores nacionais - e assegurem o crescente conteúdo tecnológico dessa produção - o que não necessariamente se resume a garantir qualquer conteúdo local - são imprescindíveis.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Juros de um dígito.


Editorial da FOLHA de hoje comenta a redução da taxa básica de juros (Selic). 

Há algumas semanas, quando a valorização do real voltou a se acelerar, o governo reagiu aumentando a tributação sobre entradas de capitais e comprando dólares.

Ao perceber o fôlego limitado das medidas, o mercado financeiro avaliou que o BC (Banco Central) poderia acelerar os cortes de juros. Com isso, o BC reduziria mais depressa a distância entre a taxa básica brasileira (Selic) e as taxas baixíssimas praticadas nos países ricos. Esse é um fator importante de atração de dólares ao Brasil, pois investidores no exterior podem lucrar com a diferença.

A confirmação de que o PIB brasileiro continuou com desempenho fraco no trimestre final de 2011, somada à forte queda da produção industrial de dezembro para janeiro, reforçou a impressão de que o corte da taxa básica poderia ir além do meio ponto percentual das decisões anteriores.

O BC, ao optar por reduzir os juros de referência de 10,5% para 9,75% ao ano, ratificou a expectativa de que remaria com mais força contra a apreciação do real e a favor do aquecimento da economia.

Comparando a Selic com a inflação esperada para os próximos meses, constata-se que o juro real caiu para a faixa de 4,3% ao ano.

Segundo levantamento do BC, os analistas de mercado estimam que o juro "neutro", aquele que não pressiona nem alivia a inflação, está na faixa de 5% a 5,5% ao ano. Com o juro real abaixo disso, o banco estaria pisando fundo no acelerador, podendo incorrer em exagero indutor de inflação.

O comportamento recente da inflação, mais comedido, e a possibilidade de reverter os cortes de juros à frente limitam esse risco. Mas há outro, que também cabe assinalar: que a redução de juros se revele insuficiente para reanimar a indústria combalida.

O PIB industrial caiu, no quarto trimestre, pela terceira vez seguida. E o segmento da indústria de transformação vem tendo desempenho muito pior do que os demais, menos expostos à concorrência dos importados (como construção civil ou produção e distribuição de energia elétrica, gás e água).

O PIB da indústria de transformação caiu significativos 4% no segundo semestre de 2011. Cortes de juros não vão solucionar as dificuldades do setor. Faltam medidas estruturais para reforçar a competitividade.

Ainda mais urgente é a eliminação de distorções, como a "guerra dos portos": alguns Estados, ao conceder descontos na cobrança de ICMS, barateiam e atraem importações que entrariam por outros portos. Com isso, prejudicam a competitividade do produto nacional e destroem empregos aqui

quarta-feira, 7 de março de 2012

A Selic de 9,75% e o meu cartão de crédito.

Enquanto o Bacen reduz nesta data a taxa básica de juros (Selic) para 9,75% ao ano, o meu extrato mensal da fatura do cartão de crédito registra taxas conforme abaixo:
  • Pagamento parcial: 12,89% ao mês;
  • Saques: 14,89% ao mês;
  • Compras parceladas com juros: 5,99% ao mês;
  • Parcelamento da fatura: 9,89% ao mês;
  • Pagamento em atraso: 15,89% ao mês;
  • Custo Efetivo Total (no período): 368,29% ao ano.
Afinal, quando as reduções da taxa de juros irão chegar ao conhecimento da administradora do meu cartão de crédito? Pelo que tenho acompanhado, esse tempo está demorando demais... Reclamações sobre este assunto deverão ser direcionadas ao Frederico, leitor fiel deste espaço.

MÁRIO HENRIQUE SIMONSEN.


Formado em engenharia civil, com especialização em economia, Mário Henrique Simonsen foi considerado um dos homens mais inteligentes de sua geração. Durante quase cinqüenta anos, manteve sempre o mesmo ritual: depois do almoço, dedicava 50 minutos do seu dia para estudar matemática, uma de suas maiores paixões.

O gosto pelos números marcou a sua vida. Aos 21 anos, começou a dar aulas de Matemática Pura e Aplicada, ao mesmo tempo em que entrou para o mercado financeiro, fundando uma distribuidora de valores, tendo como parceiro o banqueiro Júlio Bozano.

A carreira política de Mário Henrique Simonsen começou em 1964, ano marcado na história do país pelo golpe que derrubou o presidente João Goulart. Nesta época, passou a colaborar com o então ministro do Planejamento, Roberto Campos. Com pouco tempo na atividade, Simonsen ganhou a antipatia das centrais sindicais, ao apresentar um novo cálculo salarial, pelo qual os vencimentos dos trabalhadores deveriam ser baseados na média dos dois anos anteriores, o que reduziu o poder aquisitivo dos empregados.

Em 1974, Simonsen atingiu o ápice de sua carreira política, ao assumir o Ministério da Fazenda. Sua gestão foi marcada pela racionalidade econômica e contenção de gastos. Quando o general João Figueiredo assumiu a Presidência da República, Simonsen trocou o Ministério da Fazenda pela Secretaria do Planejamento. Ao deixar a vida pública, em 1979, Mário Henrique Simonsen voltou a fazer o que mais gostava: dar aulas. Contratado pela Fundação Getúlio Vargas, Simonsen nunca deixou de dar palpites em relação à política econômica do país.

Até poucos meses antes de sua morte, todos os ministros da Fazenda o consultavam com freqüência, antes de tomar qualquer decisão. O seu primeiro contato com a FGV, no entanto, não aconteceu somente quando Simonsen deixou a vida pública. Na década de 60, ajudou na criação da Escola de Pós-Graduação da entidade, numa época em que os cursos de especialização no Brasil eram uma raridade.

Especialista em música clássica, Mário Henrique Simonsen também foi considerado um excelente barítono. Quando viaja para o exterior, visitava as principais salas de espetáculos de cada país. Também colaborou com diversas publicações brasileiras, escrevendo artigos sobre música clássica.

Em 1994, após realizar um exame de rotina, foi informado pelos médicos que tinha um tumor no pulmão que havia se espalhado pela cabeça. A partir do diagnóstico, começou a enfrentar uma rotina de internamentos, mas jamais perdeu o humor. Após ficar quase três meses internado no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Samaritano, Mário Henrique Simonsen morreu de insuficiência respiratória no dia 9 de fevereiro de 1997, dez dias antes de completar 62 anos.

Fonte: UOL Educação.

O PIB da ineficiência.


Editorial do ESTADÃO comenta o resultado do PIB de 2011: 2,7%.
Baixo crescimento, alta inflação e piora das contas externas marcaram a economia brasileira em 2011. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 2,7%, segundo o cálculo divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A inflação chegou a 6,5% e bateu no teto da meta. Foi impulsionada não só pela alta dos preços internacionais de petróleo, metais e produtos agrícolas, mas também por uma forte demanda de consumo. Além disso, pioraram as transações com o exterior. A receita de exportações de bens e serviços elevou-se 4,5%, enquanto a despesa com importações subiu 9,7%. Mais uma vez o setor externo deu uma contribuição negativa para o PIB, subtraindo 0,7% do crescimento. Essa tendência, observada há alguns anos, deve acentuar-se neste ano, a julgar pela evolução do comércio exterior brasileiro no primeiro bimestre e pelas projeções tanto oficiais quanto do setor privado.
Se dependesse apenas da demanda interna, a economia brasileira teria crescido 3,4%, de acordo com os dados do IBGE. Mas a indústria foi incapaz de atender ao apetite dos consumidores, por causa dos custos elevados e da valorização do real. Com o real valorizado, os produtos nacionais ficam mais caros, quando seu preço é convertido em dólares ou euros. Além disso, o dólar barato estimulou as viagens ao exterior, bem como as remessas de lucros e dividendos, e também esses fatores pesaram nas contas.
Houve um claro descompasso na economia brasileira. O consumo das famílias cresceu 4,1%, impulsionado pela expansão do emprego, pelo aumento de 4,8% da massa de salários reais e por empréstimos pessoais 18,3% maiores que os do ano anterior. Enquanto isso, a produção industrial avançou apenas 1,6% - deslocada pela competição estrangeira - e a de serviços, 2,7%. A inflação teria certamente superado a marca de 6,5%, se a importação não tivesse coberto uma parcela considerável da demanda dos consumidores.
O governo aponta como dado positivo a expansão de 4,7% no investimento em máquinas, equipamentos, construções e obras públicas. O crescimento do PIB, segundo o discurso otimista, foi puxado pela aplicação de recursos no fortalecimento da capacidade produtiva e, portanto, o Brasil está no caminho certo. No entanto, o investimento, equivalente a 19,3% do PIB segundo as contas do IBGE, continua longe do necessário para um crescimento econômico igual ou superior a 5% ao ano sem pressões inflacionárias e sem grave desequilíbrio externo.
Esse nível mínimo de investimento, segundo cálculos correntes entre profissionais independentes e economistas do governo, deve corresponder a uns 24% do PIB. Mas a diferença entre o valor investido nos últimos anos e o mínimo desejável não é o único problema, quando se trata do objetivo de ampliar e modernizar a capacidade produtiva. A poupança interna ficou em 17,2% do PIB, no ano passado. A diferença entre o valor poupado e o investido foi coberta com recursos externos.
Em princípio, não há problema na captação de poupança estrangeira para investir. Mas a distância entre a poupança atual e a necessária para um crescimento sem risco de grandes desajustes também é muito ampla. Isso se deve principalmente à propensão do governo para a gastança. Essa propensão limita a capacidade de poupança do setor público e, ao mesmo tempo, dificulta qualquer revisão séria do sistema tributário. Impostos excessivos e mal concebidos encarecem a compra de máquinas e equipamentos e acabam limitando também o investimento privado.
A baixa taxa de poupança, especialmente do setor público, dificulta a redução do juro real no Brasil e também isso impõe restrições importantes às políticas de reforço produtivo das empresas. Essa constatação foi confirmada há poucos dias por um estudo de economistas do Fundo Monetário Internacional. Em suma: os dados da economia brasileira em 2011 apontam para algo mais grave que problemas conjunturais. Refletem deficiências associadas a um padrão de governo ineficiente e perdulário. O País pode voltar a crescer mais que em 2011, mas dentro de limites estreitos, enquanto aquele padrão persistir.

Mudanças na política monetária?


MARIO MESQUITA,  doutor em economia pela Universidade de Oxford, escreveu este artigo na FOLHA DE S. PAULO.

Reportagens recentes sugerem que uma das razões para manter, ou quiçá aprofundar, a trajetória de redução das taxas de juros seria o fato de que o grosso da pressão inflacionária estaria associado aos preços dos serviços, que correspondem a cerca de um terço do IPCA (índice oficial de inflação), ao passo que os demais itens teriam inflação bem comportada.

Trata-se de uma variação surrada do tema da inflação estrutural, contra a qual nada pode ou deve ser feito. Essa é uma tese que tem popularidade impressionante na nossa região, que é também a que tem um dos piores históricos inflacionários do mundo, com o Brasil em papel de destaque.

Os países da Ásia, para sua sorte, nunca se empolgaram muito com esse atalho latino-americano, e decidiram perseguir o crescimento acelerado sem abrir mão da estabilidade de preços. Mas por aqui a tese da inflação estrutural ou inevitável ainda campeia.

Para ser geograficamente preciso, contudo, cabe reconhecer que a tese da inflação estrutural tem perdido seu "appeal" na parte setentrional da América Latina.

O Banco do México, por exemplo, tem recorrentemente notado em seus documentos oficiais que a inflação subjacente de serviços é aquela que melhor reflete os determinantes domésticos da inflação.

É fato que a inflação de serviços tem maior persistência do que a de mercadorias, mas ela é também menos sensível a fatores externos -à chamada inflação importada. É por essa razão que a maioria dos bancos centrais olha com atenção para a dinâmica de preços de serviços.

Outra forma de encarar o problema é notar que as medidas de núcleos de inflação por exclusão, no Brasil e em outros países, em geral descontam do índice cheio a variação de itens mais voláteis, como alimentos perecíveis e combustíveis, mas não o preço dos serviços.

Cabe notar também que, se a dinâmica dos preços de serviços manifesta inércia e reflete em parte indexação informal à inflação passada, é porque não conseguimos reduzir a inflação para um patamar que torne essas práticas obsoletas.

De fato, é plausível supor que a indexação só não é mais generalizada porque em diversos setores da economia a concorrência efetiva, ou temida, dos importados a tem inibido -evidentemente, maior protecionismo tenderia a favorecer o recrudescimento da indexação também nos mercados de produtos.

É verdade, também, que fatores estruturais, típicos do processo de desenvolvimento, tendem a promover a elevação dos preços dos serviços, mas, se isso ocorre com inflação de serviços a 5%, 6% ou 9%, como agora no Brasil, depende também da posição da política monetária.

Em suma, não faria sentido calibrar a política monetária apenas para conter a inflação dos serviços, mas excluí-la do conjunto de informações relevantes não parece razoável.

As inovações no campo do debate doméstico sobre política monetária não param por aí. Nas últimas semanas voltou a emergir a corrente dos que defendem que a política monetária deve dar peso não apenas à inflação e à atividade mas também à taxa de câmbio (é isso, um instrumento e três objetivos).

Mesmo que consideremos que o Banco Central dispõe também de instrumentos macroprudenciais, como sugerem muitas leituras da crise mundial de 2008, continuaríamos com um objetivo de sobra. Não parece muito sensato esperar tanto de uma só instituição.

Nesse ambiente, não surpreende que reine certa confusão no processo de formação de expectativas dos investidores sobre qual seria a real função da autoridade monetária no atual arcabouço de política -justiça seja feita, essa confusão não deriva dos documentos oficiais do Banco Central, ou de pronunciamentos de seus dirigentes, que mantém o compromisso com o regime de metas para a inflação.

Mas a confusão existe, influencia os preços de ativos e reflete ao menos em parte as sugestões de outras áreas do governo e de círculos alegadamente próximos ao poder.

Há limites para o que a comunicação oficial pode conseguir, e essa confusão acabará sendo dirimida pelas decisões a serem tomadas proximamente pelas autoridades.

Tsunami.


Antonio Delfim Netto, hoje na FOLHA DE S. PAULO e o seu tsunami.   

É decepcionante e assustador assistir a alguns economistas bem apetrechados com rica formação e títulos de Ph.D nas mais renomadas instituições continuarem a afirmar que as intervenções cambiais executadas em legítima defesa pelas autoridades produzem "distorções", como se um câmbio extremamente valorizado não as produzisse ainda em maior dimensão.

Mas contra que modelos eles aferem tais "distorções"? Não importa a sofisticação, a complexidade ou a distância desses modelos da realidade. É axiomático que extrair deles recomendações normativas é um salto que não encontra justificativa lógica e, muito menos, empírica.

Em 29 de fevereiro, Jonathan Ostry, a estrela emergente dos economistas do FMI, afirmou, sem nenhum remorso, que: 1º) os altos e baixos da taxa cambial podem ser menos benignos para as economias emergentes do que são para as desenvolvidas; 2º) quando a taxa cambial se valoriza e os setores de bens e serviços perdem competitividade, ela pode ter efeitos sobre a economia, mesmo se, depois, voltar ao seu nível inicial.

Há poucos meses, o FMI era o templo da ortodoxia que condenava qualquer intervenção no mercado de câmbio flexível, regime ao qual ele chegou empurrado pelos fatos: o abandono da relação fixa entre o dólar e o ouro.

Por que aconteceu? Porque o regime de Bretton Woods, com taxas de câmbio fixas e reajustáveis sob a supervisão do FMI, não funcionou por muitos motivos, entre os quais a assimetria do "excessivo privilégio" que beneficia o emissor da moeda reserva.

Nada de novo. Basta lembrar Keynes e Triffin! A conclusão é a de que nem o regime de câmbio fixo nem o de câmbio flexível entregam, no longo prazo, o que prometem. Quem decide o "melhor" para cada momento é a história e suas "circunstâncias", e não a "ciência" econômica.

O velho e sábio Bismarck dizia que não se deve acreditar em alguma coisa enquanto o governo não desmenti-la. É o caso. Só os inocentes não reconhecem o fato, negado tanto pelos EUA quanto pela "Eurolândia", de que eles têm como objetivo desvalorizar suas moedas, transferindo parte dos seus ajustes para os ingênuos que acreditam na OMC. A China é a exceção: surfa no "dollar standard" e não lhes dá a menor confiança.

Não é por outra razão que a chanceler alemã Angela Merkel prometeu à presidente Dilma que a "farra" acabou. Infelizmente, o "tsunami" está nas ruas e suas consequências não podem ser recolhidas.

Dilma tem razão: a gentileza conforta, mas é irrelevante. Vamos nos defender com toda nossa disposição, inteligência e coragem, a despeito do que pensam saber os missionários do equilíbrio geral... 

terça-feira, 6 de março de 2012

Metas inflacionárias.


Antonio Delfim Netto, no Valor Econômico de hoje.  

O sistema de metas inflacionárias tem características interessantes: 1) O poder incumbente eleito fixa a "meta" para a taxa de inflação. Reconhecendo as tecnicalidades e incertezas da tarefa, e a necessidade de preservá-la da influência da política partidária, escolhe para o comando do Banco Central, e submete ao Senado, nomes de técnicos independentes e competentes para atingi-la, atribuindo-lhes inamovibilidade com mandatos fixos; 2) Para cumpri-la, o Banco Central tem que construir sua credibilidade. Trabalhar não apenas para fazer a sociedade acreditar que pode fazê-lo, mas ancorar fortemente a "expectativa" da taxa de inflação com comportamento persistente e coerente; e 3) O Banco Central tem que criar relações de absoluta confiança com a sociedade, particularmente o seu setor produtivo (trabalhadores, industriais, banqueiros), com uma comunicação sem ruídos, total transparência e adequada prestação de contas ("accountability").

A entrega, pelo poder incumbente, eleito por milhões de votos, a um grupo de cidadãos sem representação direta, da responsabilidade de administrar um importante bem público (o valor da moeda) exige uma explicação convincente. Para construir uma ponte, atendendo à necessidade de quem o elegeu, o poder incumbente procura o melhor engenheiro especializado para projetá-la. É essa mesma exigência que justifica, pela especificidade da tarefa, a sua entrega a pessoas com um conhecimento adequado.

Mas há uma diferença. No caso da ponte existem conhecimentos físicos objetivos e materiais testados secularmente, que "garantem" que, em condições normais de pressão e temperatura ("ceteris paribus" = todo o resto igual), a ponte vai resistir à carga e servir por muitos anos. No caso da "garantia" do valor da moeda é diferente.

No sistema econômico, temos relações tênues entre o que se supõe causa e seu efeito. O tempo para uma causa produzir um efeito é variável e depende da circunstância que o cerca. Exatamente porque a complexidade do processo impede a existência de relações estáveis, o exercício da difícil arte de controlar o valor da moeda precisa ser entregue a profissionais que têm consciência de tais dificuldades e reconhecem os limites do seu conhecimento.

É uma grave ilusão supor que apenas a política monetária pode levar a um resultado satisfatório. Não apenas a teoria é precária, mas seu exercício envolve alguma bruxaria: adivinhar qual é a taxa de juro "neutra", qual é o "produto potencial", qual é a taxa de desemprego "natural" e, acima de tudo, "prever" a taxa de inflação. Basta olhar com atenção os resultados da recente pesquisa estimulada pelo Banco Central para senti-la.

As respostas não são completamente coerentes dentro dos modelos conhecidos. Olhando os gráficos, há sinais que eles parecem combinar "distribuições" produzidas por informantes com diferentes modelos e diferentes definições do objeto da estimativa. Sem o conhecimento de como essas foram produzidas, não há garantia que a mediana, a média e a moda façam sentido, da mesma forma que ocorre quando misturamos uma distribuição de pesos de laranja com outra de maçãs...

Nada disso sugere que não devamos levar a sério o sistema de metas inflacionárias. Quando a expectativa de inflação está bem ancorada, ele é um instrumento formidável para diminuir as tensões da distribuição da renda entre o trabalho e o capital. O seu exercício, entretanto, deve ser cuidadoso, como mostra o exemplo seguinte.

Lars Erik Oskar Svensson é um competente economista monetário sueco. É conhecido na academia e nos bancos centrais de todo o mundo como um dos mais importantes pesquisadores do sistema de metas inflacionárias. Desde 1990, Svensson foi assessor do Sveriges Riksbank, o banco central da Suécia, que há alguns anos utiliza o sistema. Em 2007, foi nomeado para a diretoria do banco para um mandato de seis anos e serviu por um ano como um dos seis membros do seu comitê executivo.

Ele acaba de publicar um artigo imperdível (Svensson, L. - "Practical Monetary Policy: Exemples from Sweden and the United States", NBER - WP. 17823, Feb. 2012) para mostrar o papel das "circunstâncias", isto é, das condicionalidades não explícitas, nas previsões que informam a política monetária. É um breviário contra a arrogância e a intolerância de alguns analistas.

No terceiro trimestre de 2010, os EUA e a Suécia estavam nas mesmas condições: 1) taxa de inflação abaixo da meta; e 2) taxa de desemprego maior que a natural. Tanto os EUA (com sua "meta" escondida, e agora anunciada) quanto a Suécia, que aplica o regime de metas, tinham de fazer a mesma coisa: reduzir a taxa de juros. Pois bem, os EUA fez o correto (baixou o juro, fez o QE2) e se deu mal. A Suécia fez o errado (elevou os juros) e se deu bem. Tudo por conta das "circunstâncias"...

Isso não é desculpa para fazermos o errado. A política monetária exige modéstia e cuidado e só funciona quando apoiada por uma robusta política fiscal. A nossa tem nos servido bem. O crescimento robusto sem pressões inflacionárias exige que enfrentemos corajosamente o desequilíbrio do mercado de trabalho e aceleremos a aprovação dos projetos de mudanças estruturais que estão dormindo no Congresso.

PIB 2011 = 2,7%


No ano de 2011, em relação a 2010, o PIB aumentou 2,7%, fruto do crescimento de 2,5% no valor adicionado e 4,3% nos impostos. Nessa comparação, a agropecuária (3,9%), os serviços (2,7%) e a indústria (1,6%) cresceram. 

Assim, segundo as informações das Contas Nacionais Trimestrais, em 2011, o PIB em valores correntes alcançou R$ 4,143 trilhões. O PIB per capita ficou em R$ 21.252, apresentando uma alta de 1,8%, em volume, em relação a 2010.

Fonte: IBGE

segunda-feira, 5 de março de 2012

Ciência sem Fronteiras.


Editorial de hoje do ESTADÃO sobre o programa “Ciência sem Fronteira”.  

Para que o ensino superior dê um salto de qualidade, o governo lançou em 2011 o programa Ciência sem Fronteira, que prevê a concessão de bolsas a estudantes que queiram fazer mestrado, doutorado e pós-doutorado no exterior. Pelas regras do programa, a definição dos critérios de seleção dos candidatos, das áreas a serem financiadas e do valor das bolsas é de responsabilidade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Nos próximos quatro anos, o governo pretende oferecer 101 mil bolsas, das quais 75 mil com recursos próprios e 26 mil custeadas por empresas estatais, empresas privadas e bancos. As primeiras bolsas se destinam a estudos nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e Itália e as áreas escolhidas são matemática, física, química e biologia.

As próximas chamadas públicas previstas para 2012 devem privilegiar as engenharias e as ciências aplicadas, como nanotecnologia, biotecnologia, tecnologia mineral, petróleo, gás e carvão mineral - áreas que o governo considera estratégicas para a qualificação da mão de obra e o desenvolvimento econômico.

O Ciência sem Fronteiras foi bem recebido pela iniciativa privada, que reivindica mão de obra altamente qualificada. Já a comunidade acadêmica, apesar de também ter recebido bem o programa, adverte que o governo relegou para segundo plano o problema do excesso de burocratização no processo de reconhecimento dos diplomas emitidos no exterior.

Essa tem sido uma das maiores reclamações de quem concluiu uma graduação ou uma pós-graduação no exterior. A legislação que trata da matéria foi editada em 1996, e as resoluções baixadas desde então pelos órgãos educacionais tornaram o processo lento. A validação do título de mestre ou doutor emitido no exterior é realizada por universidades brasileiras credenciadas pela Capes. Muitas delas tendem a ver as universidades estrangeiras como concorrentes - isso quando não há preconceito ideológico de comissões de pós-graduação, congregações e comitês de área da própria Capes contra determinadas instituições, especialmente as americanas.

Por isso, há exigências estapafúrdias - como exigência da mesma carga horária, das mesmas disciplinas e currículos, do mesmo esquema de avaliação de teses, de traduções juramentadas e de documentos expedidos por consulados. "Do ponto de vista acadêmico, é uma insensatez", disse a professora Maria Cecília Coutinho de Arruda, da Fundação Getúlio Vargas, em entrevista ao jornal Valor. Além dessas exigências, as universidades escolhidas pela Capes, alegando que não dispõem de funcionários em número suficiente e que os docentes nada ganham para avaliar os pedidos, limitam o número de processos de reconhecimento de diploma.

A Universidade de Brasília, por exemplo, analisa apenas seis processos por área de conhecimento a cada semestre. Em algumas universidades federais, o processo de revalidação de diplomas obtidos no exterior chega a demorar um ano.

Para o governo, as universidades aptas a revalidar diplomas emitidos por instituições estrangeiras de ensino superior não estão preparadas para o aumento do número de pedidos. Só em 2011, a Capes concedeu 8,7 mil bolsas de estudos no exterior - 26% a mais do que em 2010. A comunidade acadêmica lembra que, além dos entraves burocráticos impostos aos brasileiros formados no exterior, as exigências absurdas para revalidação de diplomas dificultam o processo de internacionalização das universidades brasileiras, por meio de parcerias, com parte do curso de pós-graduação feita no Brasil e parte fora.

Ao lançar o Ciência sem Fronteiras, o governo acertou no alvo, uma vez que esse programa reduz a distância entre as universidades brasileiras e as universidades estrangeiras mais bem classificadas nos rankings internacionais. Mas é preciso desburocratizar o processo de revalidação dos diplomas, a fim de que o programa não seja comprometido por exigências burocráticas absurdas.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...