O Professor Antonio Delfim Netto, hoje na FOLHA DE S. PAULO.
Desde Adam Smith, os economistas têm se dedicado a encontrar a
fórmula que revelaria a condição "suficiente" para a realização do
desenvolvimento econômico. Após o término da Segunda Guerra Mundial, o
progresso tem sido lento e, de fato, ainda não sabemos se a fórmula existe e se
seria de aplicação universal.
Mesmo com o aperfeiçoamento das estatísticas, a construção de
infindáveis modelos -muita matemática e econometria (às vezes com uma pitada de
história)-, depois de dois séculos e meio na busca do graal cuidadosamente
escondido (ou talvez apenas sonhado!), temos resultados práticos pífios.
Talvez tenhamos encontrado algumas condições
"necessárias", mas não muito mais do que Adam Smith já conhecia...
Trata-se do mais importante problema a ser esclarecido pela
economia. Afinal, por que na longa caminhada desde o neolítico até a segunda
metade do século 18 a produção per capita cresceu num ritmo extremamente baixo?
Talvez uma armadilha malthusiana. E por que sofreu uma rápida transformação
depois de 1750?
Porque, a partir daí, pelo menos uma economia, a britânica, foi
capaz de capturar a energia dispersa em seu território (água, madeira e
carvão), auto-organizar-se com instituições convenientes e dissipá-la na
produção de itens e serviços consumidos por uma população crescente.
Há alguns anos, Gregory Clark ("A Farewell to Alms",
2007) propôs uma interessante hipótese que continua gerando uma enorme
literatura. A causa eficiente do desenvolvimento da Inglaterra teria sido a
emergência de uma classe média, com seus valores de prudência, poupança e
disposição para o trabalho.
Clark reduz o foco do desenvolvimento da "qualidade das
instituições" ou, pelo menos, sugere que diferentes
"instituições" podem produzir o desenvolvimento econômico.
A hipótese de Clark é compatível com a pesquisa de Acemoglu et. Al
(2005) quando afirma que os ganhos do comércio exterior apropriados pelas
classes médias da Holanda e da Inglaterra foram a causa eficiente do seu desenvolvimento.
A contraprova desse fato foi a estagnação de Portugal e Espanha, onde os mesmos
efeitos foram apropriados por uma pequena elite.
Infelizmente, não existe (e provavelmente nunca existirá) a
receita que nos diga qual é a condição "suficiente" para garantir o
desenvolvimento econômico.
Mas existem, sim, condições "necessárias" observadas na
história e racionalizadas na economia, sem as quais ele não prosperará.
Para o Brasil, é muito bom saber que uma forte classe média é uma
delas.
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