Antonio Delfim Netto, hoje na FOLHA DE S.
PAULO e sua homenagem a um professor. Um texto emocionante e verdadeiro.
Peço permissão à Folha e aos seus leitores
para usar este espaço lembrando e homenageando um velho e querido professor e
amigo.
Ele influenciou de forma importante várias
gerações de economistas formados na FEA (Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade), na USP, nos idos dos anos 1950 e 1960. Morreu, no começo de
fevereiro, aos 96 anos.
O professor Dorival Teixeira Vieira
(1915-2012) formou-se na Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da USP no
final da década de 1930.
No campo da economia, que concentrou
posteriormente seu interesse, recebeu as lições de alguns docentes de economia
política, todos franceses de orientação literária e institucional.
Como todos os economistas brasileiros do
início da década de 1940, foi praticamente um autodidata que se produziu no
isolamento intelectual imposto pelos anos de guerra (1939-45).
Foi um mestre sério, assíduo e exigente. Um
pouco rabugento, mas sempre disposto a ajudar os alunos que o procurassem.
Devido à falta absoluta de profissionais, ele acumulava quatro disciplinas e
acompanhava os alunos do segundo ao quarto ano.
Naquele tempo, a disciplina teoria do valor
era autônoma e ocupava o segundo ano inteiro. Dorival percorria a história do
pensamento econômico desde Aristóteles até os austríacos com as sutilezas
psicológicas que o agradavam enormemente.
Quando chegava a Marx, entretanto, a teoria
do valor-trabalho era submetida a uma complicada tortura intelectual que,
paradoxalmente, terminava mal ajeitada e pouco convincente.
No terceiro ano, Dorival ministrava um curso
trabalhoso sobre a teoria dos preços. Por meio de geometria plana, em quadros
negros quadriculados adrede e cuidadosamente preparados, com giz de várias
cores, explorava um grande número de possíveis "tipos" de mercado e
sua formação de preços. Nem uma só equação.
A definição de "elasticidade" usava
apenas acréscimos finitos. Não raramente, portanto, as aulas terminavam em
interessantes discussões sobre a generalidade das conclusões. A sua tese de cátedra
foi sobre um dos regimes de formação de preços (monopólio bilateral) e foi
obscurecida por aquelas razões.
Ainda no terceiro ano, ele promovia
interessantes lições sobre a teoria da moeda. Quantitativista e repetindo sua
ênfase histórica, ia de Locke até o Keynes de 1930.
No quarto ano, ele ministrava um excelente
curso sobre teoria do comércio internacional.
Dorival Teixeira Vieira foi um grande
brasileiro e excelente professor.
Ele deixa saudades!
Um comentário:
Fiquei emocionada! Desde que me conheço por gente o Sr. Dorival estava casado com minha avó Isaura. Além de tudo isso que vc citou sobre a trajetória da vida dele, ele era uma homem generoso e MUITO amoroso! Deixou paa nós, netos - não de sangue, mas de coração - o exemplo do verdadeiro amor! Saudades do vô Dorival...
Ass: Carol
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