Jeffrey D. Sachs é professor de economia e
diretor do Instituto Terra, na Columbia University. Ele é também assessor
especial do secretário-geral da ONU para os Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio. Escreveu neste artigo especialmente para o Valor Econômico uma aula
sobre sustentabilidade.
Desenvolvimento sustentável significa atingir
um crescimento econômico que seja amplamente compartilhado e que proteja os
recursos vitais do planeta. Nossa economia mundial atual não é sustentável - mais
de um bilhão de pessoas deixadas para trás pelo progresso econômico e o
ambiente terrestre sofrendo danos resultantes da atividade humana. Um
desenvolvimento sustentável exige a mobilização de novas tecnologias norteadas
pelo compartilhamento de valores sociais.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon,
declarou que o desenvolvimento sustentável está no topo da agenda mundial.
Adentramos um período perigoso, em que uma população enorme e crescente,
associada a com rápido crescimento econômico, agora ameaça produzir um impacto
catastrófico no clima da Terra, na biodiversidade e no suprimento de água
potável. Antropoceno é como os cientistas denominam esse novo período - em que
os seres humanos tornaram-se os principais causadores de mutações físicas e
biológicas na Terra.
O Painel de Sustentabilidade Mundial (PSM) do
secretário-geral da ONU publicou um novo relatório que delineia um referencial
para o desenvolvimento sustentável. O PSM corretamente observa que o
desenvolvimento sustentável tem três vertentes: erradicar a pobreza extrema,
garantir que a prosperidade seja compartilhada por todos, - mulheres, jovens e
minorias -, e proteger o meio ambiente natural. Esses objetivos podem ser
denominados pilares econômico, social e ambiental do desenvolvimento
sustentável.
O PSM exortou os líderes mundiais a adotarem
um novo conjunto de Metas de Desenvolvimento Sustentável (MDS) que ajudarão a
moldar as políticas e ações mundiais após 2015, ano alvo das Metas de
Desenvolvimento do Milénio (MDM). Considerando que o foco das Metas do Milênio
é reduzir a pobreza extrema, as MDS deverão contrar-se nos três pilares do
desenvolvimento sustentável: erradicar a pobreza extrema, compartilhar os
benefícios do desenvolvimento econômico entre toda a sociedade e proteger a
Terra.
Uma coisa, é claro, é definir as metas
sustentáveis e outra alcançá-las. O problema pode ser percebido examinando um
desafio crucial: as mudanças climáticas. Hoje, há sete bilhões de pessoas no
planeta, e cada uma é responsável, em média, pela liberação um pouco superior a
quatro toneladas de dióxido de carbono na atmosfera por ano. Esse CO2 é emitido
quando queimamos carvão, petróleo e gás para produzir eletricidade, conduzir
carros ou aquecer nossas casas. Ao todo, os seres humanos lançam cerca de 30
bilhões de toneladas de CO2 por ano na atmosfera, o suficiente para mudar
acentuadamente o clima em poucas décadas.
Em 2050, provavelmente haverá mais de nove
bilhões de pessoas na Terra. Se essas pessoas forem mais ricas do que as
pessoas atualmente são (e, portanto, consumirem mais energia), o total mundial
de emissões poderá dobrar ou mesmo triplicar. Esse é o grande dilema:
precisamos emitir menos CO2, mas estamos, mundialmente, a caminho de poluir
muito mais.
Precisamos nos preocupar com esse cenário porque
a permanência em um caminho de crescentes emissões em escala mundial produzirá,
certamente, estragos e sofrimento para bilhões de pessoas que serão atingidas
por ondas de secas e calor, furacões e muito mais. Já experimentamos o início
desse sofrimento nos últimos anos, com uma série de fomes devastadoras,
inundações e outros desastres relacionados ao clima.
Então, como poderão as pessoas no mundo -
especialmente os pobres - beneficiar-se de mais eletricidade e mais acesso a
transportes modernos, mas de uma forma que salve o planeta em vez de
destruí-lo? A verdade é que não poderão - a menos que melhoremos as tecnologias
que usamos.
Precisamos usar energia com muito mais
sabedoria, e ao mesmo tempo precisamos abandonar os combustíveis fósseis e
adotar fontes de energia que emitem pouco carbono. Essas melhorias são
possíveis e economicamente realistas.
Considere, por exemplo, a ineficiência
energética de um automóvel. Nós atualmente movimentamos uma máquina que pesa
entre 1 mil e 2 mil quilos para transportar uma ou duas pessoas, cada um
pesando talvez 75 quilos. E fazemos isso usando um motor a combustão interna
que aproveita apenas uma pequena parte da energia liberada pela queima da
gasolina. A maior parte da energia é perdida na forma de calor.
Poderíamos, portanto, conseguir uma grande
redução nas emissões de CO2 por meio da adoção de veículos pequenos e leves
dotados de motores elétricos de alta eficiência alimentados por baterias
carregadas a partir de uma fonte de energia de baixo carbono, como a energia
solar. Ainda melhor: adotar veículos elétricos, em vez de continuar usando os
atuais, nos permitiria aproveitar os mais avançados recursos de tecnologia da
informação para tornar tais veículos inteligentes - suficientemente inteligentes
para até mesmo possibilitar que se movimentem sozinhos usando sistemas
avançados de processamento de dados e de posicionamento.
Os benefícios das tecnologias de informação e
de comunicação podem ser observados em todas as áreas da atividade humana:
melhor agricultura utilizando GPS e microdosagem de fertilizantes; fabricação
de precisão; edifícios que sabem como consumir menos energia, e, claro, o poder
transformador da internet. Recursos de banda larga móvel já estão conectando
até mesmo as aldeias mais distantes na zona rural da África e da Índia,
reduzindo assim significativamente a necessidade de viagens.
Movimentações bancárias são agora feitas por
telefone, assim como uma diversidade crescente de diagnósticos médicos. Livros
eletrônicos são transmitidos diretamente para dispositivos portáteis sem
necessidade de livrarias, deslocamentos pessoais ou da celulose e do papel nos
livros físicos. A educação também baseia-se cada vez mais na internet e em
breve permitirá que alunos em toda parte recebam educação de primeira qualidade
a um custo marginal quase zero para a inclusão de mais um aluno.
No entanto, para migrar de onde estamos até o
desenvolvimento sustentável não dependerá apenas de tecnologia. Isso envolverá
também incentivos de mercado, regras governamentais e apoio público à pesquisa
e desenvolvimento. Mas ainda mais fundamental do que políticas de governança
será o desafio dos valores. Precisamos compreender nosso destino comum e
abraçar o desenvolvimento sustentável como um compromisso comum de decência
para todos os seres humanos, hoje e no futuro.
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