sábado, 12 de setembro de 2009

ECONOMIA NA REVISTA VEJA

Altamente recomendável a leitura da VEJA que está nas bancas desta semana. Vejam meus caros leitores queem 500 anos, os EUA saltaram à frente da América Latina ao conjugar capitalismo e democracia. No mundo pós-crise, começa a ficar claro que esse binômio se constrói mais na política do que no mercado. Alguém duvida?

No começo da colonização, a América Latina era mais rica e tinha sociedades mais complexas que a América do Norte. O Brasil, com terra e clima promissores, já tinha vida comercial, com o pau-brasil e depois com o açúcar, mercadoria altamente valorizada na época, enquanto as tentativas de colonização nos Estados Unidos eram um fracasso atrás do outro. Nos primeiros 250 anos da colonização europeia, a América ibérica teve alguma vantagem sobre a América inglesa. Nos 250 anos seguintes, período em que as colônias viraram países independentes e republicanos, o jogo inverteu-se brutalmente. A renda per capita dos americanos e canadenses disparou. De acordo com as contas do cientista político Francis Fukuyama, o ex-ícone do conservadorismo americano e editor de Falling Behind, que trata do desnível entre as Américas, o calendário do fosso foi o seguinte.

Até cerca de 1800, o norte e o sul das Américas evoluíram de modo mais ou menos semelhante.

• De 1820 a 1870, período que concentrou as guerras de independência, a América Latina encolheu 0,5% ao ano. Os Estados Unidos cresceram 1,39% ao ano.

• De 1870 a 1970, com uma interrupção durante a depressão dos anos 30, a América Latina cresceu até mais do que os Estados Unidos, mas num ritmo longe de cobrir a diferença.

• De 1970 até agora, os Estados Unidos voltaram a crescer mais que os vizinhos do sul, aprofundando o fosso.

• Em 2001, a renda per capita americana superava 27000 dólares. A latino-americana não chegava a 6 000 dólares.

O Brasil avançou em muitos aspectos, mas ainda é "a eterna promessa de futuro", ora como celeiro do mundo, ora como potência verde, ora com etanol, ora com pré-sal, mas sempre o país em busca de cumprir o vaticínio da aurora redentora."

Triste e sem um futuro de riqueza uma sociedade que não consegue manter o CAPITALISMO e a DEMOCRACIA. Fiquemos pois atentos neste 2010 no qual várias ideias serão lançadas EM BUSCA DE UM TEMPO PERDIDO.

PREVISÃO PIB 2009 - QUEM ACERTA?

O editorial do ESTADÃO de hoje coloca a situação do OTIMISMO pelo fim da recessão de uma maneira real, economicamente didática e com argumentação a produzir nos cérebros uma visão realista do resultado esperado para 2009.

A economia brasileira voltou a crescer, a recuperação ganha impulso e 2010 só será um ano ruim se houver um repique da crise nos países mais desenvolvidos. A recessão no Brasil terminou no segundo trimestre, com um crescimento de 1,9% em relação ao primeiro. A confirmação veio ontem, quando se divulgaram as novas informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Brasil é um dos primeiros países a sair da crise, mas também nos Estados Unidos e na Europa há sinais de melhora. A recessão mundial deverá ser mais curta do que se previa, segundo as principais organizações multilaterais. É cedo para se descartar o risco de uma recaída, mas, por enquanto, as perspectivas globais são razoavelmente animadoras.
O governo festeja, com razão, a relativa brevidade da recessão no Brasil. Mas é preciso apontar dois outros fatos positivos. Em primeiro lugar, não houve crise cambial, embora a receita de exportações tenha diminuído. O País entrou na crise com um robusto superávit comercial e o saldo de exportações menos importações continuou positivo. O déficit em transações correntes aumentou, em parte por causa da maior remessa de lucros. Mas as pressões sobre o câmbio foram passageiras e o Banco Central, com bom volume de reservas, poderia tê-las enfrentado, se fosse necessário.
Dificuldades cambiais poderiam, como noutros episódios, ter provocado uma elevação de preços, mas isso não ocorreu e a inflação permaneceu controlada. Este é outro ponto positivo. Com a inflação contida, evitou-se a corrosão dos salários e também isso contribuiu para a sustentação do consumo, apesar do aumento do desemprego.
Com a contração da economia mundial, as empresas brasileiras passaram a depender quase exclusivamente do mercado interno para se manter. A demanda foi sustentada pelo consumo privado, com expansão de 2,1% sobre o primeiro trimestre. Dos demais componentes da demanda, o investimento se manteve em variação de um trimestre para outro e o chamado consumo do governo continuou em queda.
Do lado da oferta, houve resultados positivos na indústria e nos serviços, enquanto a produção agropecuária diminuiu. A redução de impostos para a compra de veículos deu resultados. O incentivo ao consumo de produtos eletroeletrônicos parece ter sido menos eficiente, mas também contribuiu para manter as fábricas funcionando. O corte de tributos pelo Ministério da Fazenda e as injeções de dinheiro pelo Banco Central foram iniciativas acertadas. Mas o governo foi incapaz de acionar um grande programa de investimentos, embora o Tesouro dispusesse de recursos para isso. A maior parte do aumento do gasto público federal concentrou-se na folha de salários e nos benefícios pagos pela Previdência - na despesa permanente e dificilmente redutível nos próximos anos.
O consumo privado provavelmente se manterá, até o fim do ano, como o principal motor da economia. Mas só haverá expansão econômica segura, nos próximos anos, com mais investimento produtivo e mais exportações. No segundo trimestre, o investimento em máquinas, equipamentos, infraestrutura e instalações ficou 17% abaixo do registrado entre abril e junho do ano passado. Quando se comparam os primeiros seis meses de 2009 e 2008, a diferença para menos é de 16,6%.
Se os empresários não voltarem a investir com certa rapidez, a capacidade produtiva será esgotada em pouco tempo e isso criará pressões inflacionárias. Mas será preciso também cuidar da infraestrutura, para eliminar gargalos cada vez mais prejudiciais ao País.
A importância do outro fator, a exportação, é facilmente compreensível. Maior crescimento da economia resultará em maior despesa com importações. O País precisará de bom volume de receitas com a venda de produtos, para manter a segurança nas contas externas. Isso é especialmente relevante, no Brasil, porque a conta de serviços (viagens, fretes e juros, entre outros itens) é estruturalmente deficitária. Como a recuperação do comércio mundial será provavelmente moderada, os exportadores brasileiros precisarão ser mais competitivos para disputar espaço no mercado. Mais do que nunca será preciso reduzir as desvantagens comparativas. O melhor começo seria a redução de impostos.

PREVISÃO PIB 2009 - QUEM ACERTA?

Ainda sobre a previsão do PIB 2009, leio agora no blog da Miriam Leitão que o PIB brasileiro cresceu 1,9% no segundo trimestre e o país saiu da recessão. Para frente, as perspectivas são de um crescimento ligeiramente melhor no terceiro trimestre, de 2% na margem, diz Sérgio Vale, da MB Associados.

Segundo ele, os dados divulgados até aqui indicam que o comportamento positivo na margem vai se manter neste terceiro trimestre, com recuperação das indústrias (no lado da oferta) e dos investimentos (pelo lado da demanda).

Isso não muda, no entanto, a perspectiva de crescimento zero ou baixo crescimento da economia neste ano. Indústrias seguem abaladas, com fortes quedas na comparação interanual. E permanecem riscos de pequena queda do PIB em 2009.

A consultoria mantém, desde o final do ano passado, a projeção de 0,2% de expansão do PIB neste ano. Um desempenho positivo considerando-se a crise. Mas muito aquém das previsões de 4% em 2009 traçadas antes de setembro do ano passado.

— No segundo semestre não existem mais grandes transferências de renda do governo, a não ser a adição de um milhão de famílias no Bolsa Família. Mas a recuperação da renda deve manter-se pela recuperação da classe média, que está em pleno curso — acrescenta.

Ele entende que os destaques do semestre devem ser ainda o varejo, que ajudará a indústria a se recuperar no final do ano. E a própria indústria pode ser destaque, principalmente de bens duráveis e de construção.

— Alguns testes serão importantes ainda, como a diminuição da redução do IPI de automóveis, mas que não acreditamos que vá ter grandes impactos negativos.

Para o próximo ano, a MB manteve as perspectivas de crescimento de 4%, embora entenda que o número caminhe para se tornar um piso.

Para os meus quase dois (milhões de) leitores, ao final de 2009, veremos quem tem razão ou apenas faz o jogo político.

PREVISÃO PIB 2009 - JOELMIR BETTING

Esta eu li hoje na página do JOELMIR BETING http://www.joelmirbeting.com.br/noticias.aspx?IdNews=32471&IdgNews=2:

Com o PIB verde-amarelo trocando o vermelho pelo azul, já se admite para 2009 uma expansão de até 2%, contra 5,1% em 2008.
Para o Brasil como um todo, o solavanco da crise importada durou de outubro a março. Agora, neste segundo semestre, o impulso de banguela já é de 5% para toda a travessia de 2010.
O duro é agüentar a lorota de analistas desenganados, que saem agora, de dedo em riste na cada da gente, vociferando: "Cuidado com o excesso de otimismo"! Alguém berrou contra o excesso de pessimismo, na virada do ano?
Sim, o presidente Lula e eu.

Caro JOELMIR, o ano ainda não terminou e seu OTIMISMO político econômico não encontra razões técnicas o suficiente para tornar-se realidade. Pelo menos por enquanto...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A ECONOMIA NUM ARTIGO DO LE MONDE

Direto do LE MONDE, um artigo com o sugestivo nome “A economia não mente, mas também não prevê o futuro”, que deve ser lido com atenção por todos os economistas e/ou interessados pela nossa ECONOMIA. Quanto a prever o futuro, é discutível. Vejamos que temos mais acertos do que erros. Como qualquer animal humano...

Para aqueles que se irritam com a economia e ainda mais para quem a economia de mercado é insuportável, a recessão é toda uma bênção: "Os franceses não têm a cabeça econômica, mas política", descreveu Alexis de Tocqueville em 1848. A essa pouca afinidade pela economia se acrescentam nos franceses uma aversão pelo capitalismo e uma inclinação pela intervenção forte do Estado. Acusar os economistas de não ter previsto a crise e os liberais de tê-la provocado com seus excessos se inscreve em uma batalha na qual a ciência econômica não é a única que está em jogo: a economia e os economistas se encontram no cruzamento da ideologia com a ciência.

Mas de todo modo a economia é uma ciência. O é porque os economistas - reconhecidos como tais por seus pares - seguem um processo verdadeiramente científico. Partindo de fatos constatados, os medem, buscam recorrências, daí tiram modelos, submetem esses modelos à crítica e os comparam com a realidade: assim a ciência econômica avança de uma hipótese refutável para outra.

Alguns modelos resistem à prova do tempo e dos fatos: transformam-se em leis expressas em linguagem matemática. O número dessas leis econômicas, que passaram da teoria à ação, vai aumentando e produz resultados mensuráveis: principalmente o crescimento. A economia é uma ciência porque progride, conforme a própria definição de toda ciência, segundo Karl Popper, e melhora o destino de uma parte crescente da humanidade.
Consideremos a história do século 20 desde 1945: é inegável que milhões de seres humanos saíram da pobreza e que esse número está aumentando. Milagre? Se o Leste Europeu se reconstrói, se Brasil, Índia e China progridem, não é por terem mudado de cultura, nem sequer de regime político, nem por terem descoberto riquezas naturais. A única mudança que os fez passar da miséria à melhora foi a das estratégias recomendadas pela ciência econômica: o livre comércio, a concorrência entre as empresas, a emissão de moedas estáveis.
Essas estratégias foram receitas de crescimento transferidas do laboratório para a prática. Esses princípios - tais como a relação entre o nível de salário e o desemprego, a "criação destrutiva" ou princípio de Schumpeter, as vantagens da distribuição de riscos financeiros - são conhecimentos que formam um consenso. As disputas entre economistas são vivas mas geralmente se situam no interior desse paradigma: os que refutam o próprio princípio do livre comércio ou preconizam a inflação são para a economia o que os curandeiros são para a cirurgia.

Os economistas americanos que são elogiados na Europa, como Paul Krugman, porque é social-democrata, e Joseph Stiglitz, porque é antiglobalização (ambos mantidos à margem por Barack Obama), se situam no entanto no interior do paradigma: Joseph Stiglitz não nega a eficácia do livre comércio contra a pobreza; Paul Krugman não propõe substituir o capitalismo pelo socialismo. Ambos, tanto em seus trabalhos universitários como em suas posições públicas, salientam até o cansaço as imperfeições do mercado. Mas nenhum economista as nega, nem mesmo os ultraliberais. O debate entre liberais e intervencionistas gira em torno da maneira de conter tais imperfeições.
Eliminá-las? Ninguém acredita nisso. No século 20 se experimentou ao vivo com sistemas econômicos que pareciam ideais no papel, com os resultados trágicos que todos conhecemos. A grande disputa entre economistas refere-se apenas à regulamentação pública.
Os intervencionistas esperam que o Estado reduza os desequilíbrios nos mercados, dos quais os bônus dos corretores são uma manifestação entre outras nem tão visíveis. Os liberais não negam esses desequilíbrios, mas duvidam de que o governo seja mais racional que o mercado: os mercados fazem bolhas, mas os governos fazem a guerra. Os capitalistas são agitados por paixões irracionais, mas os políticos e os burocratas não são necessariamente mais sensatos e desinteressados.
Os economistas liberais, portanto, convidam a reforçar a informação sobre os mercados. Nesta análise liberal, as bolhas especulativas não surgem devido à ausência de regras, mas à falta de informação, que conduz aos abusos cometidos pelos iniciados.

Se a economia é uma ciência, de que serve uma ciência que não prevê nada? "Os economistas sabem fazer tudo, menos prevenir", declarou Gérard Debreu ao receber o prêmio Nobel de economia em 1983. Na realidade, os economistas sabem prever que as más políticas conduzem ao pior. Congelar preços e salários, nacionalizar indústrias, fechar as fronteiras, imprimir mais e mais notas: tudo isso garante a miséria. E é algo previsível.
E no curso da atual recessão é notável que todos os governos tenham concordado em preservar o livre comércio (ao contrário de 1930), refinanciar os bancos (ao contrário de 1930), evitar a inflação (ao contrário de 1974): os conhecimentos da ciência econômica evitaram repetir os erros cometidos em crises anteriores. Mas ninguém felicita os economistas pelos 25 anos de crescimento anteriores à crise, nem quando evitam que a recessão degenere.
Prever e evitar a crise de 2008? A posteriori sempre há adivinhos que a teriam anunciado, mas no estado atual dos conhecimentos ninguém poderia tê-la garantido. As crises são imprevisíveis porque são o resultado da cristalização de inúmeros fatores que ninguém poderia citar.
Inclusive podemos considerar, como faz o matemático e economista francês Benoît Mandelbrot, que, sendo os mercados financeiros aleatórios por definição, as crises sempre serão inevitáveis. Só um sistema financeiro fixo, sem inovação, seria previsível. Inovação, crescimento, crise: tudo isso está ligado, e regulamentar um só desses fatores teria reações em todos os demais.
Essa complexidade esclarece o desacordo entre os economistas sobre a causa da crise, supondo que não houvesse mais que uma. Os liberais têm como culpado o Federal Reserve dos EUA por ter suscitado a bolha especulativa graças às facilidades de crédito. Os intervencionistas atribuem essa mesma especulação à falta de regras. Talvez pudéssemos discernir a causa dentro de dez anos, quando estiverem reunidos os dados necessários; também se poderia chegar a uma conclusão sobre a utilidade ou não da reativação pública. Mas até esta data isso não é possível.
A economia de mercado é imperfeita e conduz somente a progressos materiais e relativos. Esses matizes jamais seduzirão os amantes da perfeição. Também se decepcionarão aqueles que apostam no apocalipse: de crise em crise, o capitalismo não morre, mas se recupera. E também, de crise em crise, os economistas aprendem.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O CAPITALISMO AMERICANO

Recomendável o artigo do colega LUIGI ZINGALES – “Capitalism After the Crisis” na “National Affairs – Fall 2009”. Peguei esta frase de lá e, mais uma vez, continuamos capitalistas. Afinal, o mundo capitalista é terreno fértil para a liberdade.
The United States developed a system of capitalism that comes closer than any other to the ideal combination of economics freedom and open competition.”

DA SÉRIE: LEITURA INEVITÁVEL

Direto da Folha de S. Paulo, um artigo do colega ANTONIO DELFIM NETTO, com o sugestivo nome de “Lucas e a rainha”.
Em novembro de 2008, a rainha Elizabeth da Inglaterra visitou a London School of Economics. Surpreendeu seus professores reunidos com uma pergunta tão inconveniente quanto pertinente: como foi possível que, em mais de um século de dedicação ao estudo e à pesquisa do sistema econômico, a tragédia que tomou conta da economia inglesa não tivesse sido "prevista" e, tanto quanto podem os homens, evitada? Todos sabemos que a London School of Economics nasceu "heterodoxa", em 1895, pelo acidente de uma herança (da ordem de 10.000) deixada por um certo senhor Henry Hutchinson. Este fora "convertido" à doutrina da "Fabian Society" criada em 1884 (basicamente por Sidney Webb e George Bernard Shaw), que seria possível construir (pacificamente!) "uma sociedade eticamente superior à prevalente". Sidney Webb - o executor da herança - nunca foi um marxista (Marx havia morrido em 1883): sempre recusou, intuitivamente, o seu "determinismo histórico". Acreditava, entretanto, na possibilidade de que a análise científica da realidade concreta inglesa poderia sugerir uma sociedade moralmente mais decente. O ar "científico" do marxismo parecia óbvio. E os argumentos realmente antológicos do grande cientista R.B. Haldene (recolhidos depois num artigo que pode ser lido até hoje como "vacina" para prevenir a infecção do "socialismo científico") convenceram Webb (e seu grupo) de que o caminho era mesmo a análise científica da realidade.Na sua origem, ela negava o estudo da economia como parte das artes (o que faziam os "economistas") e tentava levá-lo para o campo das ciências (matemática, física e biologia). Isso encontrou séria oposição de Cambridge e Oxford (inclusive do grande Alfred Marshall). A tristeza é que mesmo esta semente (que a rigor frutificou muito pouco) foi incapaz de responder à crueza da pergunta da rainha! As respostas foram (como sempre) justificativas evasivas: a geologia também é incapaz de "prever" (e logo de "prevenir") os terremotos! A pequena diferença é que não é a ação dos geólogos que produz as flutuações das placas tectônicas! Mas talvez a maior desilusão da profissão tenha sido a resposta do que se supõe ser a "Teoria Econômica Moderna". A pobreza, a falácia, o escapismo e o cinismo da resposta de Robert Lucas (o Nobel de 1995) em "The Economist" (6/8/ 2009) sobre o assunto. O seu artigo ("Em Defesa da Ciência Trágica") foi o enterro de toda a mistificação da pseudociência que tentou substituir a humilde e útil economia política que estava na origem da London School...

PREVISÃO DO PIB PARA 2009

Com o final do ano chegando e a minha aposta sobre o resultado do PIB 2009 também, direto do blog da MÍRIAM LEITÃO, um breve trecho do Boletim Focus. De qualquer maneira, mantenho o já que escrevi antes.
O mercado financeiro melhorou de forma mais significativa sua previsão para o desempenho da economia brasileira neste ano, embora as perspectivas permaneçam de retração. Segundo a média das projeções de cem instituições financeiras, consultadas pelo boletim Focus, do Banco Central (BC), a economia deve encolher 0,16% neste ano. Na semana passada, o mercado previu no boletim que a economia deveria encolher 0,3% neste ano. Ainda em retração, porém mais próximo de crescimento zero. Em maio e abril deste ano, o mercado chegou a estimar um tombo de 0,73% do PIB. Muitos economistas esperam que o PIB deverá ter crescimento zero ou mesmo pequeno crescimento neste ano. O Focus pode estar caminhando para essa direção. Mas o mercado também já previu antes da crise que a economia cresceria algo como 4% neste ano. Isso foi perdido, quatro pontos percentuais.

EDUCAÇÃO É TUDO - 09/09/09

Neste 09/09/09, evidentemente um dia inesquecível, não poderia deixar de divulgar uma nota que li no blog do NOBLAT: O Brasil tem o menor índice de adultos com diploma universitário, entre 36 nações pesquisadas pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). A entidade divulgou ontem o relatório Education at a Glance 2009 (Panorama da Educação), mostrando que apenas 10% dos brasileiros de 25 a 64 anos concluíram o ensino superior. Não é nada não é nada, não é nada mesmo, mas o resultado está lá em Brasília...

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

ECONOMIA TAMBÉM NO CINEMA - VENEZA 2009

Ainda bem que não agendei o FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE VENEZA nestes dias. Seria demais para as minhas idéias assistir SOUTH OF THE BORDER, do diretor americano OLIVER STONE, elogiando o coronel HUGO CHÁVEZ. No documentário CHÁVEZ é o protagonista absoluto, sendo apresentado como o máximo expoente de uma nova política na América Latina. Mas o fundo do poço não parou nele.

Nesse famoso festival o também americano MICHAEL MOORE denuncia o capitalismo perverso e desumano no seu “CAPITALISM: A LOVE STORY.” Para MOORE, o capitalismo é ruim e não pode ser reformado. O livre mercado na realidade é um sistema para roubar os trabalhadores e garantir que 1% da população dos Estados Unidos mantenha sua riqueza, enquanto 99% se empobrecem dia a dia.

Uma pergunta que não quer calar: como vivem financeiramente STONE e MOORE? Por que eles não pegam suas roupas e vão viver(?) em CUBA?

Fiz muito bem ficando aqui no interior desta quente e poeirenta floresta amazônica. É dose dupla para leão nenhum, preferenciamente de OURO, botar defeito...

A CHINA AINDA TEM MUITO O QUE FAZER

Para quem acredita que a CHINA substituirá imediatamente os Estados Unidos na liderança econômica, militar e política mundial, vejam o que diz BARRY EICHENGREEN, Professor de Economia e Ciências Políticas na Universidade da Califórnia, Berkeley, na CONJUNTURA ECONÔMICA da nossa FGV: "A CHINA NÃO conseguirá compensar sozinha o declínio do consumo nos Estados Unidos. O que significa que deverá haver um aumento do consumo em outros grandes mercados emergente, como o BRASIL, ÍNDIA e RÚSSIA."

ECONOMIA NO FERIADO DE 07 DE SETEMBRO

Direto da Folha de S. Paulo neste 07/09/2009,com os feriados da Independência do Brasil e do Trabalho nos EUA, hoje, os mercados retomam os negócios só amanhã. O destaque no Brasil será o resultado do PIB no segundo trimestre, que sai na sexta e deve carimbar oficialmente o fim da recessão no país. A expectativa é que a economia tenha tido crescimento entre 1,6% e 2% no período, em relação ao trimestre anterior.
Na quinta, o IBGE divulga o IPCA de agosto, que deve ficar em 0,2%. O evento mais aguardado é a ata do Copom, embora o mercado dê como certo que os juros serão mantidos em 8,75% até dezembro.
Nos EUA, o destaque fica para a divulgação na quarta do Livro Bege, que traz a interpretação do Federal Reserve (BC dos EUA) sobre a recuperação”.

domingo, 6 de setembro de 2009

ECONOMIA - PROFISSIONAIS NA REDE

Obrigado ao colega ENOCH FILHO, lá da famosa BAHIA DE TODOS OS SANTOS pela inclusão deste blog na página http://profissionais.nacumbuca.com/Economia, na companhia de outros colegas dos quais sou fiel leitor há tempos.
Habitualmente acompanho os posts do ENOCH FILHO lá no Além das Curvas http://profissionais.nacumbuca.com/Economia e é prazerosa essa troca de informações entre colegas distantes, mas que a internet nos torna tão próximos. Afinal, o prazer de estudar ECONOMIA é o elemento motivador que nos faz a cada dia aprender um pouco mais. E, se em boa companhia, melhor ainda.

MESTRADO NA FGV - DIVULGAÇÃO

A FGV - EESP Escola de Economia de São Paulo divulgou na CONJUNTURA ECONÔMICA de agosto as inscrições para os Mestrados Profissionais em Finanças e Economia e o outro em Agroenergia. Além das qualidades da FGV, a beleza do anúncio está na definição de ECONOMIA: QUANTO MAIS VOCÊ APRENDE, MAIS SIMPLES ELA PARECE.

UM MINUTO DE SILÊNCIO POR TED KENNEDY.

Fã da família KENNEDY desde os meus auréos tempos de IBIAPINA-CEARÁ, não poderia de divulgar a coluna do jornalista ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR, sobre a morte do TED KENNEDY. Quanta diferença dele para os nossos políticos (?), se é que podemos chamá-los assim...

Bebum, mulherengo e autodestrutivo, Ted Kennedy, senador americano morto aos 77 anos na semana passada, era um político com todas as letras maiúsculas. P-O-L-Í-T-I-C-O.
Seu obituário tomou sete páginas do "New York Times" on-line. Não há nem houve ninguém parecido no Brasil.
De família riquíssima, Ted era o Kennedy caçula. Viu o irmão, John, presidente, ser assassinado em 1963. Outro irmão, mais velho, tinha morrido na Segunda Guerra. Em 1968, um maluco matou mais um irmão, Robert.
Coube a Ted manter viva a chama da política entre os Kennedy. Difícil.
Foi estudante vagabundo e trapaceiro em Harvard (acabou afastado e voltou, anos depois, convertido em ótimo aluno).
Bebeu, aprontou, calcinou o filme dezenas de vezes. A pior: 18/7/1969, ilha de Chappaquiddick, litoral de Massachusetts. Depois de um churrasco, Ted "ofereceu carona" a Mary Jo Kopechne, jovem ex-secretária do mano Bob.
Numa ponte precária de uma estradinha, Ted caiu com o carro na água. Conseguiu se salvar. Mary Jo morreu afogada. Ted levou dez horas para avisar a polícia. Antes de ligar para o resgate, passou horas conversando com assessores.
Incrivelmente, não teve a carreira arruinada. Foi à TV pedir desculpas. Os eleitores o perdoaram.
Transformou-se num senador obstinado. Envolveu-se profundamente em questões políticas delicadas, com efeito direto sobre as pessoas: imigração, saúde. Votou contra a invasão do Iraque. Apoiou Obama num momento crucial. A socidade americana lhe deve muito.
Sua vida louca não afetou o desempenho como senador. Era assíduo, presente, preparado. Ia direto a vários pontos.
No obituário, assim o definiu o "New York Times" (traduzir estragaria a poesia): "He was a celebrity, sometimes a self-parody, a hearty friend, an implacable foe, a man of large faith and large flaws, a melancholy character who persevered, drank deeply and sang loudly. He was a Kennedy".

DA SÉRIE: VOCÊ SABIA?

Você sabia, antes da EXAME divulgar, que:

  • Os Estados Unidos respondem, sozinhos, por 23,5% do PIB mundial, algo em torno de 14 trilhões de dólares?
  • Dos 120 trilhões de dólares em investimento direto estrangeiro no mundo em 2008, 20% saíram dos Estados Unidos?
  • Das 100 maiores empresas do mundo, 29 são americanas. Em segundo lugar vem a Alemanha, com 15 empresas?
E ainda tem quem admire a Coréia do Norte e CUBA...

BRASIL: 1822 - 2009 - INDEPENDÊNCIA?

Amanhã, 7 de Setembro de 2009, o que temos para comemorar neste Brasil que ainda acha que é um país do futuro. Até quando? Com a riqueza que fez a taxa de crescimento das 500 maiores companhias brasileiras em 2008 ser mais de cinco vezes superior a das 500 maiores americanas (sim, dos Estados Unidos), por que não temos uma liderança competente a fazer que o nosso BRASIL seja um país sério, respeitado e onde os quase duzentos milhões de brasileiros possam se orgulhar dele, sem a necessidade de bolsas esmolas?

DA SÉRIE: TEXTOS INTERESSANTES - MENDONÇA DE BARROS

Neste caso, vamos ler e apostar como estará o dólar ao final de 2009? Direto do ESTADÃO, o colega José Roberto Mendonça de Barros, irmão do também colega Luiz Carlos, comenta "O Real e o futuro da produção".

O real voltou a se valorizar e tudo indica que irá para algo como R$ 1,75 por dólar em futuro próximo.
Desta vez, a valorização decorre muito mais de fatores externos que internos. Embora a taxa de juros ainda seja elevada, a atração da arbitragem (considerando os riscos) é muito menor do que antes, como mostram os dados do mercado cambial. Por outro lado, o dólar tem-se desvalorizado consistentemente contra diversas moedas, e todos os analistas esperam que isso continue nos próximos períodos. Neste caso, a busca por alternativas tem levado, entre outras coisas, a uma forte procura pelas chamadas moedas commodities, grupo que tradicionalmente inclui Austrália, Nova Zelândia, Noruega e Canadá.
A novidade recente é que o real foi incluído nesse clube, não só por conta da relativa resistência à crise, como especialmente porque o País é claramente ganhador na reestruturação produtiva global no quesito cadeias de recursos naturais. Daí decorre uma elevação do fluxo de exportações, nos investimentos diretos e na compra de ações de empresas brasileiras.
Muitos analistas e produtores se inquietam com o novo quadro, resgatando as teses de desindustrialização. Sigo acreditando que há muito exagero nessa percepção, inclusive porque não se pode projetar a frio um momento de ajuste à recessão mundial. Ademais, creio que existe uma clara subestimação do resultado da expansão das cadeias de recursos naturais no dinamismo do aparelho produtivo (revelado pelo breve período de aceleração do crescimento de 2007/2008), em termos de impactos na indústria de bens de capital, nas inovações da engenharia de produtos e de processos, na ligação com serviços de elevada produtividade e no emprego. Uma análise cuidadosa dos novos "players", das inovações e dos projetos que estão ocorrendo na cadeia da cana-de-açúcar certamente surpreenderia os mais afoitos.
Os analistas da desindustrialização também subestimam a relevância do tamanho do mercado interno, que permite a produção de muitos produtos de forma competitiva, bem como das dificuldades de ter fornecedores distantes quando se utilizam processos de "just in time". Essas dificuldades vão desde as maiores necessidades de capital de giro, do risco de flutuação das moedas, dos riscos de logística, etc.
É interessante que várias análises recentes apontam que a atual crise internacional está levando a uma revisão e a um encurtamento de certas cadeias de produção, afetando positivamente países como o México. Também é útil aqui lembrar que a queda das exportações de manufaturados brasileiros tem, além do câmbio e outras causas domésticas, muito que ver com a crise de nossos clientes, como atesta a crise da Argentina, o maior deles.
Mesmo após essas observações é evidente que muitos produtores menos competitivos sentem o aperto resultante do movimento do real. Muito mais que o câmbio, a questão central é que o País vem perdendo competitividade ao longo dos últimos anos. Sinais disso podem ser encontrados na contínua elevação da carga tributária e de sua complexidade administrativa, agravada pelo absurdo anúncio da tentativa de aprovação da nova CPMF. Reduções temporárias e localizadas de alíquotas não enfrentam minimamente a questão.
Em segundo lugar, é tedioso, porém necessário, relembrar a questão da infraestrutura logística brasileira. Nem com a avalanche de publicidade oficial dá para esconder que estradas e portos continuam a erodir a competitividade da produção brasileira. Na verdade, tirando a Petrobrás, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é composto por algo como 80% de fumaça, pedras fundamentais, placas, obras não iniciadas, paralisadas ou atrasadas. Ademais, a energia elétrica está mais cara pela contínua criação de encargos adicionais, resultante, entre outras causas, da construção de usinas movidas a óleo. Na mesma direção vai a regulação complexa e muitas vezes de má qualidade. Em suma, nossa competitividade sistêmica está pior e isso se deve em muito a uma fantástica expansão dos gastos de custeio em vez do investimento, ocorrida nos últimos anos.
O Banco Central pode e deve continuar a elevar as reservas do País. Entretanto, intervenções no câmbio são ações de curto prazo que não encaminham a questão da competitividade ao longo do tempo, que é o que garante, de fato, o desenvolvimento.

KRUGMAN E A ECONOMIA - CRISE E HISTÓRIA

Apesar de ser obrigatória neste blog a publicação integral do artigo ou texto disponibilizado para a leitura de seus quase dois (milhões) leitores, neste caso específico realmente o texto é longo, mas vale pelas palavras do autor, Nobel de Economia em 2008. Direto do The New York Times, PAUL KRUGMAN e seu “How Did Economists Get It So Wrong?” no link http://www.nytimes.com/2009/09/06/magazine/06Economic-t.html, que nem por isso deixa de estar dentre os mais lidos, pela sequência dos fatos e visão geral da economia desde SMITH até KEYNES.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A PODEROSA ECONOMIA AMERICANA NA EXAME

Preparem-se, pois a EXAME que estará nas bancas neste final de semana é daquelas de ler com prazer. Para começar, deixo com eles o melhor da edição: “As vésperas do primeiro aniversário da eclosão da maior crise das últimas décadas, os Estados Unidos tentam se reerguer. EXAME percorreu o país e entrevistou dezenas de empresários, pessoas comuns e quatro prêmios Nobel de Economia para construir a imagem da América após a quebra do banco Lehman Brothers. O resultado está nesta edição especial com oito reportagens, que mostram como os pacotes econômicos, a reinvenção das montadoras, a ressurreição de Wall Street e os investimentos em energia e inovação farão com que o país permaneça como a mais poderosa economia do planeta.”
E ainda tem colega que aposta na CHINA...

POLÍTICA ENQUANTO É TEMPO E POSSÍVEL

Leio na Folha que o Congresso (sempre eles) está insistindo em votar uma lei eleitoral que compara a web a TV/rádio. Será possível isso? Estamos em Cuba e não me falaram nada? Enquando podemos, deixo com os meus quase dois fiéis leitores, diretamente de FORTALEZA, lá do nosso DIÁRIO DO NORDESTE, o traço generoso do colega SINFRÔNIO.
E que SETEMBRO seja um mês de ótimas notícias, começando claro, com o COPOM mantendo a SELIC nos 8,75% ao ano, que era o que esperávamos. E que venham mais news, com sal ou sem sal...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A ECONOMIA REAL DE LOYOLA

Cheguei a pouco da empresa e hoje, último dia de AGOSTO/2009, neste meu 350º post não poderia encerrar o mês sem publicar um artigo do colega GUSTAVO LOYOLA, que também é da nossa FGV, publicado hoje no ESTADÃO. Sabemos que o nosso tempo é muito pouco, mas precisamos, pelo menos de vez em quando, ler mais do que a manchete da matéria. E que venha setembro, um mês muito especial para mim.

CONTRARREFORMAS AMEAÇAM O PAÍS

A resiliência da economia brasileira à presente crise econômica internacional se deve, em ampla medida, aos avanços institucionais observados nos últimos 15 anos no Brasil. Em que pese a unanimidade desse diagnóstico, o segundo mandato do presidente Lula tem-se caracterizado por uma sucessão de contrarreformas que, pouco a pouco, minam as instituições econômicas laboriosamente construídas a partir do início dos anos 1990. Quando Lula se tornou forte candidato à sucessão presidencial, em 2002, o medo dos agentes econômicos era o de ruptura com as políticas econômicas de FHC. Felizmente, o pânico do período eleitoral se mostrou injustificado, já que o novo presidente preferiu sabiamente ficar do lado certo, preservando a responsabilidade macroeconômica. Ademais, no quadriênio inicial do governo Lula, alguns avanços institucionais importantes ocorreram no bojo das reformas microeconômicas patrocinadas pelo ministro Palocci e sua equipe. A expansão forte do crédito bancário nos anos subsequentes, por exemplo, deveu-se muito a tais esforços. Porém, no segundo mandato, os avanços institucionais se tornaram parcos. Ao contrário, o que se tem verificado é que, pela ação ou omissão do governo, iniciativas cada vez mais numerosas vão corroendo o edifício institucional que permitiu à economia brasileira deixar para trás a década perdida da hiperinflação e do baixo crescimento. Vivemos, hoje, a era das contrarreformas. Há a contrarreforma fiscal, a contrarreforma previdenciária, a contrarreforma do Estado, a contrarreforma trabalhista e até, para alguns, a contrarreforma ortográfica, que nos obriga a abusar da consoante dupla nesse parágrafo. Com relação à Previdência Social, o recente acordo com os sindicalistas que enfraquece o chamado "fator previdenciário" e atrela o reajuste dos benefícios à variação do PIB é desastre de grandes proporções, pois agrava ainda mais o déficit previdenciário ao longo dos próximos anos. O desempenho um pouco melhor das receitas previdenciárias nos últimos anos parece ter ofuscado a realidade de que as contas da Previdência continuam no vermelho e que há uma tendência estrutural de aumento dos desequilíbrios, em razão principalmente da dinâmica demográfica. Contudo, o risco de retrocesso não se restringe à Previdência. No campo trabalhista há iniciativas para aumentar ainda mais os custos de contratação formal de mão de obra. Com o beneplácito do governo, o Congresso se prepara para votar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que reduz a jornada de trabalho para 40 horas semanais, como se isso tivesse o condão de criar mais empregos. Despreza-se a experiência recente da França que indica que a diminuição da jornada de trabalho não contribuiu para a redução do desemprego. Por sua vez, a expansão forte dos gastos de custeio do governo, notadamente com a folha de pagamento de servidores, indica agravamento da rigidez do orçamento público e perda de espaço para redução da carga tributária e/ou aumento do investimento público no País. Com isso, as condições para a atividade empresarial podem piorar, já que a competitividade da produção nacional estará crescentemente comprometida pelo trinômio: juros altos, tributação elevada e infraestrutura precária. Não fossem suficientes os problemas acima, a tentativa de recriação da CPMF, disfarçada de contribuição para a área da saúde, demonstra que há muita gente que ainda acha a carga tributária pequena, o que é de uma absoluta falta de senso de medida. O mais estranho, porém, é que o governo tacitamente apoie a ideia de recriar um tributo de péssima qualidade que incide em cascata sobre as operações financeiras. Tais retrocessos potenciais ou efetivos, infelizmente, não são o bastante. Percebe-se que está em marcha uma redefinição para pior do papel do Estado na economia, seja por meio da criação, disfarçada ou aberta, de novas empresas estatais, seja pelo aumento da intervenção regulatória nos mercados, ao mesmo tempo que a autonomia das agências reguladoras é flagrantemente reduzida, em nome de um pretenso "controle social". Tais iniciativas vão desde o modelo de exploração do petróleo no pré-sal - de viés notoriamente intervencionista - até a intenção de reativar a defunta Telebrás, como se a privatização da telefonia não tivesse trazido benefício nenhum ao País. Em resumo, o rol de contrarreformas iniciadas, incentivadas ou toleradas pelo governo Lula é extenso. Se nada for feito, o Brasil encontrará mais à frente uma nova "década perdida" em termos de crescimento e de estabilidade econômica. A experiência brasileira e de outros países, inclusive da vizinha Argentina, revela claramente os riscos da excessiva intervenção estatal e dos desequilíbrios fiscais, duas pragas crônicas dos países da América Latina. Por isso, é urgentemente necessário interromper essa marcha acelerada rumo ao passado que tem caracterizado as últimas ações e omissões da administração Lula.

Gustavo Loyola, doutor em Economia pela EPGE/FGV, sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, em São Paulo, foi presidente do Banco Central.

domingo, 30 de agosto de 2009

FERGUSON E STIGLITZ NA CRISE MUNDIAL

Em entrevista ao vetusto ESTADÃO, NIALL FERGUSON, historiador escocês e professor da Universidade Harvard, alerta que o mundo conseguiu evitar uma Grande Depressão, MAIS HÁ MUITOS PROBLEMAS PARA SEREM RESOLVIDOS. Para ele, a crise ainda continua, agora com um agravante: a falta de plano do presidente OBAMA para controlar o déficit fiscal americano.
Como já postei anteriomente, a crise atual NÃO acabará com o CAPITALISMO e, em algum momento, ela terá fim, como aconteceu em outras crises e acontecerá em novas crises. Nesse caso, concordo com as ideias de FERGUSON e discordo do colega JOSEPH STIGLITZ pelo seu, (na minha opinião), EXAGERO, ao declarar a destruição do motor global, ou seja, o modelo de consumo dos Estados Unidos.
Calma STIGLITZ, a recuperação chegará antes que a Venezuela ataque os Estados Unidos...

DA SÉRIE: TEXTOS INTERESSANTES - MENDONÇA DE BARROS

Direto da Folha de S. Paulo, mais um artigo do sempre lúcido LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, que compartilho com os meus quase dois (milhões) de e-leitores.

Meu irmão José Roberto tem usado uma imagem do atletismo para melhor explicar o momento atual da economia mundial. Segundo ele, nos próximos meses, a passagem do bastão de um corredor - o governo - para outro - o consumidor no mundo desenvolvido - será uma condição necessária para levar o processo de recuperação a bom termo. Nos últimos meses temos assistido a um aumento gradativo da atividade econômica em um grande número de países, tanto no âmbito do chamado G7 como no mundo emergente.

Essa recuperação foi induzida por recursos públicos injetados na economia privada em volume nunca antes visto. O primeiro movimento foi liderado pelos bancos centrais com a mobilização de recursos monetários, por meio de mecanismos clássicos e de corajosas inovações.

Com isso foram criadas as condições para se manter o sistema bancário mundial com um mínimo de funcionalidade, evitando o estrangulamento total da atividade produtiva. Em um segundo momento foram os governos que mobilizaram recursos de natureza fiscal para sustentar um nível mínimo de renda e consumo, afetados pela onda de desemprego que se espalhou por grande parte do mundo. Aqui também foram usados instrumentos tradicionais - como obras públicas e redução de tributos - ao lado de medidas criativas, como a compensação para a manutenção de emprego na Alemanha e os programas de subsídio para troca de carros. Foram os vários trilhões de dólares injetados em um grande número de economias que evitaram uma catástrofe inimaginável e que está agora afastada.

Todo esse esforço dos governos foi realizado no pressuposto de que, passada a tempestade e com a volta da confiança de consumidores e de empresas, a dinâmica privada voltará e recolocará a economia em uma rota de crescimento sustentado. É isso que diz o manual de enfrentamento de uma crise como a que ocorreu no ano passado.

Por isso, a imagem da passagem do bastão criada por meu irmão me parece muito feliz. Apenas a complementaria com algumas observações mais específicas quanto à natureza dessa troca de bastão. Em alguns países, como os EUA e a Inglaterra, o revezamento se parece com o chamado 4 x 100 metros. Ou seja, é uma corrida rápida, onde a passagem do bastão é sempre complicada e tensa. Em outros casos, como a China, a corrida é mais longa - algo como a corrida de 4 x 400 metros -, quando a passagem do bastão pode ocorrer de maneira mais tranquila.

No primeiro grupo estão países em situação fiscal mais complicada, em que o espaço para gastos fiscais por mais tempo é muito menor. No caso americano, há um grande mal - estar com os deficit já realizados, de modo que uma eventual necessidade de renovação dos estímulos fiscais no ano fiscal 2010/2011 pode criar uma crise com o dólar. O mesmo ocorre na Inglaterra e nas maiores economias da Europa Unida.

Já na China - e de certa forma no Brasil - o esforço fiscal do governo pode se estender por um período bem maior, tornando a passagem do bastão mais tranquila e segura. Nesse caso, o instrumento do gasto público em obras de infraestrutura ganha um peso maior. A sustentação do crescimento em 2010 dependerá do sucesso da passagem do bastão do gasto do governo para o setor privado. Nesse processo, o consumidor terá importância crucial, pois os investimentos privados ainda permanecerão deprimidos por algum tempo em razão da enorme capacidade ociosa hoje existente na grande maioria das economias. A conferir... LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...