segunda-feira, 11 de julho de 2011

O que OBAMA quer.

PAUL KRUGMAN, hoje na FOLHA DE S. PAULO, esclarece "O que Obama quer".
Sejamos francos. Está ficando cada vez mais difícil confiar nas motivações do presidente Barack Obama na luta em torno do Orçamento, em vista do desvio à direita que seu discurso econômico vem fazendo.
Se você apenas ouvisse os discursos dele, poderia concluir que ele compartilha o diagnóstico republicano sobre o que está errado em nossa economia e o que deveria ser feito para resolvê-lo. Talvez essa não seja uma impressão equivocada.
Um exemplo desse desvio à direita se deu no discurso em que Obama disse o seguinte sobre a base econômica do Orçamento: "O governo precisa começar a viver com os recursos dos quais dispõe, assim como fazem as famílias. Precisamos cortar gastos com os quais não podemos arcar, para colocar a economia sobre uma base mais estável e proporcionar a nossas empresas a confiança de que precisam para crescer e gerar empregos".
São três das falácias econômicas favoritas da direita em apenas duas sentenças. Não, o governo não deve traçar seu Orçamento como fazem as famílias; pelo contrário, tentar equilibrar o Orçamento em tempos de dificuldades econômicas constitui uma receita para aprofundar o declínio. Cortes nos gastos, neste momento, não "colocariam a economia sobre uma base mais estável". Eles reduziriam o crescimento e elevariam o desemprego. E as empresas não estão se contendo porque lhes falte confiança nas políticas do governo, mas porque não têm fregueses suficientes, problema que seria agravado, e não aliviado, por cortes de gastos no curto prazo.
As pessoas têm me perguntado por que os assessores econômicos do presidente não estão lhe dizendo para não acreditar na afirmação, popular entre a direita, mas avassaladoramente refutada pelas evidências, de que reduzir gastos diante de uma economia deprimida vá gerar empregos de maneira mágica. Minha resposta é: "Que assessores econômicos?". Quase todos os economistas destacados da gestão Obama ou já a deixaram ou a estão deixando. E não foram substituídos.
Quem está definindo as posições econômicas da administração? Parte do que temos ouvido está vindo, presume-se, da equipe política.
De qualquer maneira, não acredito que tudo isso se deva a cálculos políticos. Assistindo a Obama, é difícil não ter a impressão de que ele está procurando conselhos de pessoas que creem que o deficit, e não o desemprego, é o problema mais premente que a América enfrenta atualmente e acreditam que a parte maior da redução do deficit deveria vir de cortes nos gastos.
Nem os republicanos sugeriam cortes na Previdência Social; isso é algo que, aparentemente, Obama quer como um fim em si.
E isso levanta a grande pergunta: se um acordo em relação à dívida for fechado de fato, e se ele refletir de modo avassalador as prioridades e a ideologia conservadoras, deveriam os democratas no Congresso votar em favor dele?
O pessoal de Obama vai argumentar que seus correligionários deveriam confiar nele. Mas é difícil entender por que um presidente que vem se dando a muito trabalho para ecoar a retórica republicana e endossar visões conservadoras falsas deve merecer essa confiança.
PAUL KRUGMAN é economista, vencedor do Prêmio Nobel (2008).

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A tragédia grega e a comédia brasileira!

O texto abaixo é do amigo professor CARLOS PIO, que com sua mente privilegiada e ácida analisa o panorama econômico internacional e local. Boa leitura.

Temos assistido, atônitos, o desenrolar de mais uma crise financeira. A Grécia é a bola da vez. Apesar do novo protagonista, o enredo da tragédia é o mesmo das crises anteriores: sistema financeiro globalizado, bancos privados internacionais emprestando muito a governos fiscalmente irresponsáveis, governantes que preferem gastar mais a promover reformas condizentes com os novos tempos, sistemas políticos engessados pela força dos grupos de interesse que representam setores privilegiados das respectivas sociedades.

Mais particularmente, quais são os problemas da Grécia? Primeiro, uma dívida externa superior ao tamanho da economia nacional (€ 340bi, ou o equivalente à metade do PIB do Brasil). Segundo, um estado ineficiente, inchado e gastador. Terceiro, um conjunto de regras econômicas, políticas, sociais e culturais que emperram a produtividade das firmas, desestimulam as pessoas a trabalhar mais e de forma inovadora, impõem custos produtivos elevados, incertezas jurídicas e ineficiências generalizadas. Quarto, a impossibilidade de desvalorizar o câmbio uma vez que integra uma união monetária (a zona do Euro). Desde que acompanhada de medidas voltadas para minimizar seus efeitos inflacionários, a desvalorização é uma das medidas mais eficazes para reequilibrar as transações financeiras entre residentes e estrangeiros – porque ajusta automaticamente os custos e os preços domésticos aos internacionais –, possibilitando gerar e economizar divisas e, assim, pagar a dívida externa.

Qual a solução? A maneira mais eficiente de equacionar tais problemas envolve: reestruturar o estado, promovendo o enxugamento dos desperdícios, a prevalência do mérito na administração pública e profundos cortes orçamentários (de preferência poupando apenas os que beneficiam os cidadãos mais pobres ou vulneráveis); reformar as instituições que inibem os ganhos de produtividade – essenciais à prosperidade das pessoas e empresas; eliminar privilégios concedidos a empresas, setores econômicos e grupos da sociedade (como os funcionários públicos) os quais impõem custos elevados a outros grupos – consumidores (famílias e firmas) e contribuintes, por exemplo.

Mas tudo isso é duro demais, tanto para os grupos privilegiados – que não querem largar o tacho – quanto para os governantes, que nestes se apoiam para obter votos, recursos de campanha e emprego, quando abandonam a política. Sinal disso são as marchas diárias de grupos de comunistas e sindicalistas bem-vestidos e alimentados que enfrentam a polícia nas ruas para protestar contra o austero pacote negociado pelo governo com os credores da dívida externa grega. Há razões de sobra para duvidar de que o governo atual – ou qualquer outro – encontre apoio social ou parlamentar para enfrentar a ida dos que não querem os ajustes às instituições do capitalismo na pátria do teatro, da filosofia, das artes plásticas, da mitologia, e de tantas coisas mais.

Por ironia do destino, no mesmo momento em que hordas acampavam à frente do Parlamento grego, em Washington o representante do Brasil declarava apoio a Christine Lagarde, ministra das finanças da França, na disputa pela diretoria-geral do FMI – um dos fiadores dos pacotes de socorro à Grécia. Foi, de fato, mera coincidência, mas uma daquelas cheias de significado. Explico.

Lagarde disputava o cargo com o presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens. E o mexicano representava três coisas muito diferentes: uma alternativa latino-americana à dominação europeia no Fundo, justamente quando ele tem que equacionar um problema gigantesco no Velho Continente; uma opção vinda de um país que sofreu mais de uma crise financeira como a que ora afeta a República Helênica; a escolha de um dirigente cujo país realizou diversas reformas econômicas e financeiras nas últimas duas décadas, abriu-se para o mundo e ganhou respeito e mercados ao fazer justamente aquilo que todos, especialmente o FMI, precisará exigir dos gregos – governo, sociedade e empresas.

Mas Guido Mantega preferiu jogar no lixo o discurso (fácil) contra a predominância dos governos de países ricos nos organismos financeiros internacionais, em especial o FMI, a apoiar alguém que tinha todas aquelas qualidades. Ficou com Lagarde para não dar o gostinho da vitória ao liberalismo mexicano. O descompasso de Mantega na política internacional tem uma lógica: procura sonegar, dos brasileiros, tanto o reconhecimento de que o nosso passado grego nacional-desenvolvimentista foi um fracasso retumbante, quanto o árduo aprendizado de que é fundamental reformar as instituições e as mentalidades (política, econômica e empresarial) prevalecentes com vista a promover a eficiência e a prosperidade, como simbolizava o mexicano Carstens.

Diante da tragédia grega, a comédia do governo brasileiro.

Notícias do blog!

Apesar de julho ser o mês favorito de uma legião de brasileiros para as férias anuais, aviso aos meus quase dois (milhões) de leitores que este blogueiro encontra-se em atividade.
No entanto, por 1001 razões, as postagens estão em menor quantidade, mesmo com diletos amigos abastecendo-me diariamente de notícias econômicas. E tem cada uma.
Trata-se de uma questão pontual e que será corrigida o mais breve possível.
Um ótimo final de semana para todos!

domingo, 3 de julho de 2011

Breve comentário sobre o debate do estímulo.

Paul Krugman no ESTADÃO on line comenta:

Um breve comentário sobre o fato de eu estar prematuramente correto a respeito do problema das proporções insuficientes do estímulo: talvez você ache que hippies como eu estavam apoiando suas opiniões em algum tipo de versão louca, selvagem e nada ortodoxa das leis da economia, enquanto as pessoas sábias e ponderadas que defendiam US$ 787 bilhões como um montante ideal recorriam às análises tradicionais.

Mas o que ocorria era exatamente o contrário. A defesa de um estímulo muito maior era inspirada pelos manuais mais básicos de macroeconomia e podia ser justificada também por modelos econômicos mais extravagantes, mas ainda tradicionais.

Em comparação, a ideia de um estímulo bem menor tinha como base uma combinação de improviso, intuição e simbolismo político: sem ter como base prova nenhuma, os governantes acreditaram que um estímulo maior acabaria inquietando o mercado de títulos, e/ou que um empurrão temporário seria suficiente para restaurar a tão importante confiança, ou que seria politicamente crucial manter o montante total abaixo da marca de US$ 1 trilhão. (Que diferença faria se nossa álgebra funcionasse na base 12?)

Em outras palavras, a sabedoria – conforme entendida pelo público – estava em rejeitar análises econômicas criteriosas em favor do tato, e só atinar para o fato de que a análise estava correta depois que tivessem se passado alguns anos de desemprego em massa. Os hippies leem os manuais; as Pessoas Muito Sérias confiam na análise detalhada das tripas de um animal, ou algum outro ritual do tipo.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

A velha superstição.

PAUL KRUGMAN, no ESTADÃO, comentando sobre a velha superstição.

Achei um exemplar da obra A Grande Depressão, de 1934, de Lionel Robbins, numa livraria de livros usados em Norwich. É muito revelador: sensato, repleto de tabelas e fatos, é um livro que, claramente, tem de ser visto como o trabalho de um observador sagaz – na verdade um sujeito muito sério.

Mas totalmente, completamente equivocado.

“A primeira razão fundamental para uma recuperação a partir da posição em que o mundo se encontra neste momento é reconquistar a confiança do setor privado”, afirma Robbins. “Mas como a confiança pode ser restaurada?” Ele se pronuncia contra a política monetária expansionista, mesmo para reverter a deflação de 1929 a 1933 – mas não dá nenhuma explicação lógica para isso; ao decidir que o problema era de “confiança”, declara que a expansão monetária cria “incertezas” e, em consequência, prejudica a confiança. E condena a política de taxas de câmbio flexíveis, porque isso cria incertezas e debilita a confiança.

Ao avaliar os escombros à sua volta, declara que a causa da depressão foi a intervenção excessiva do governo e que a solução, o que seria necessário para restaurar a confiança, seria (rufar de tambores) um retorno ao padrão ouro.

Você pode ver como este tipo de análise política baseada na superstição pode ter parecido plausível em 1934, embora mesmo a Teoria Geral de Keynes pudesse explicar como Robbins estava errado (e o fez). Mas, hoje, o que se esperava era que esses argumentos fossem coisa do passado.

O problema é que não. O novo informe do BIS vai muito no caminho de Robbins em 1934, com muito menos desculpas. Robbins sofria com a falta de uma estrutura para dar sentido aos fatos. O BIS, com tantos economistas, deparando exatamente com a síndrome econômica que Keynes analisou e, nesse aspecto, até Milton Friedman exigiria uma ação vigorosa, preferiu ignorar essa estrutura e, em vez disso, jogar o Calvinball monetário.

Eu, originalmente, concluiria esta postagem falando alguma coisa sobre estupidez, mas não é correto: as pessoas que trabalham no BIS não são estúpidas. O que ocorre neste caso é algo diferente e pior: estamos observando o desejo de uma respeitabilidade convencional pesando mais do que as lições da história; e observando um vago preconceito (que existe para servir aos interesses dos rentistas) triunfando sobre a análise.

A história não perdoará essas pessoas.

O mistério de Lagarde!

PAUL KRUGMAN, no ESTADÃO, comentando sobre o mistério de LAGARDE.

Pois bem, teremos Christine Lagarde no comando do FMI. Desejo a ela toda a sorte. E desejaria também que algum de nós fizesse a mínima ideia de como será o desempenho dela no cargo.

Não estamos falando de uma pessoa especialmente enigmática: além de inteligente, suas credenciais mostram uma mulher séria, responsável e criteriosa. Mas é justamente isso que me preocupa.

Afinal, estamos vivendo numa era na qual, no momento, a prudência convencional é tolice e a virtude convencional é vício. Tudo aquilo que as Pessoas Muito Sérias querem fazer – cortar os déficits imediatamente, “normalizar” os juros, preocupar-se com a inflação – consiste exatamente no tipo de medida que poderia transformar o declínio de 2008-? em décadas de estagnação.

Sob a batuta de Strauss-Kahn, o FMI estava se firmando na posição menos dogmática e mais aberta das grandes organizações internacionais. Isso não quer dizer muita coisa, mas era nítida a diferença do FMI em comparação aos loucos que comandavam a OCDE ou o Banco de Compensações Internacionais.

Assim, a pergunta é: será que o FMI vai se tornar mais razoável sob o comando de Lagarde? Pelo bem da economia, vamos torcer para que a resposta seja não.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Carrefour + Pão de Açúcar?

Tenho preocupação pela provável fusão Carrefour e o Pão de Açúcar. Os dois gigantes ditarão seus preços e os consumidores ficarão sem concorrência. Uma pena. Além do que, para fechar esse negócio, o santo BNDES precisa entrar com alguma coisa na ordem de R$ 4 bilhões para o Sr. Abílio Diniz "comprar" o Carrefour. E lá vai quase 32% do varejo nacional somente com esse novo "grupo". Quem ganha com a história? Claro que serão "eles". E com dinheiro "nosso". Quem perde: quem comprar neles.
Compete ao governo analisar se a fusão desses dois gigantes varejistas tornará o mercado menos competitivo, reduzindo o bem-estar de todos.
A confirmar.

A pergunta de Delfim Netto.

Antonio Delfim Netto, hoje na FOLHA DE S. PAULO e a pergunta que não quer calar.

A grande pergunta a ser feita à sociedade brasileira (e, em particular, ao poder incumbente de plantão) é: como vamos proporcionar empregos de boa qualidade a quase 150 milhões de cidadãos com idade entre 15 e 65 anos que viverão em 2030?
Talvez seja bom recordar alguns preliminares:
1) Nossa memória é curta e nosso entusiasmo é grande. Esquecemos que "quebramos" duas vezes nos últimos 16 anos (1998 e 2002) e fomos socorridos pelo FMI para honrar nossos compromissos externos, o que garantiu a continuidade de nossa democracia;
2) Todas as crises que abortaram o crescimento do Brasil nos últimos 50 anos foram produzidas por dificuldades no financiamento do deficit em conta-corrente ou por uma crise de energia;
3) A grande mudança da situação externa não foi resultado de particular melhoria na política macroeconômica. Foi consequência da expansão mundial (da China, especialmente), que aumentou a demanda dos produtos que estávamos preparados para exportar (alimentos e minérios), cujos preços beneficiaram-se, adicionalmente, de um fantástico aumento. Parte importante de tal aumento deve-se à desvalorização do dólar promovida pela política monetária americana.
Tais setores são poupadores de mão de obra. Suas cadeias de serviços são suscetíveis de serem ampliadas, mas absolutamente incapazes de dar resposta à grande pergunta.
É uma grave ilusão supor que nada vai mudar nos próximos 20 anos. A "oferta" de alimentos e minérios está sendo estimulada em quase todos os países, inclusive pela própria China. Não existe, portanto, razão para acreditar que o nosso modelo agromineral-exportador induzido seja bem sucedido no longo prazo.
Além do mais, quem pode garantir que a China manterá, por mais 20 anos, a estrutura política atual (que já dá alguns sinais de fadiga)?
A alegre aceitação dessa "nova" divisão internacional do trabalho (para a China a indústria, para a Índia os serviços e para o Brasil alimentos e minérios) põe em risco o futuro da economia brasileira como necessário instrumento de construção de uma sociedade mais justa, com pequeno desemprego e suficiente emprego de boa qualidade em 2030.
Precisamos aproveitar a oportunidade (os bônus!) dos setores agrícola e mineral (o pré-sal) para nos livrar da trágica dependência externa e impedir que o pré-sal nos leve a outra dependência.
O que precisamos mesmo para responder à grande pergunta é continuar a aproveitar com inteligência os dois "bônus" e dar condições isonômicas a nossos empresários e trabalhadores para que construam o mercado interno que vai assegurar os bons empregos para nossos filhos e netos.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Déficit externo não é sinal de crise, mas deve ser monitorado

Também no completo blog da MIRIAM LEITÂO, leio que “o BC divulgou hoje que o déficit em transações correntes (balança comercial, viagens, pagamentos de juros e remessas de lucros e dividendos no país) ficou em US$ 4,1 bilhões em maio. No acumulado em 12 meses, está negativo em US$ 51 bilhões. Não vamos entrar em crise por causa disso, mas é um dado que temos de acompanhar sempre.

O Brasil de hoje é diferente do do passado. Antes, quando o país fechava no vermelho, tremíamos na base, porque devíamos muito, tínhamos poucas reservas, enfrentávamos crise cambial, dólar alto. A situação hoje é diferente.

Mas é preciso olhar para esses números com atenção: só gastos com viagens internacionais registraram saldo negativo de US$ 5,450 bilhões no ano.

Em junho, o déficit em transações correntes também deve ficar em torno de US$ 4 bi, segundo o BC. As previsões do BC para a balança comercial, que faz parte da conta, melhoraram: o superávit deve passar de US$ 15 bilhões para US$ 20 bilhões.

Vale a pena explicar isso: o Brasil está com superávit na balança comercial, apesar de o dólar estar baixo, porque os produtos que o país exporta estão com preço elevado no mercado internacional. Isso nos favorece, serve um pouco como anestesia para esconder alguns desequilíbrios que a economia brasileira acumula nos últimos tempos.

Por outro lado, o país recebeu muito investimento direto, aquele direcionado ao setor produtivo. Apesar de o governo não se mostrar preocupado, tem gente, como o FMI, achando que tem dinheiro entrando que finge ser para o setor produtivo, que não paga IOF, quando não é.

O momento é outro, como disse, mas é melhor olhar o que o Brasil fez de errado no passado pra não repetir as mesmas coisas. Hoje, quando analisamos o caso da Grécia, sabemos que não será fácil resolver o problema da dívida, vivido aqui nos anos 80.

Quando a conta externa fica negativa por muito tempo e o país se descontrola, pode virar um problema. O Brasil, hoje, está bem, porém há dias de sol e outros de chuva. Temos de nos preparar para enfrentar momentos piores. Para isso, é preciso olhar os dados com cuidado, identificar por que não estamos conseguindo atrair mais turistas, por exemplo. O turismo doméstico está caro inclusive para os brasileiros. Por isso, muita gente pensa em viajar para fora, porque faz a conta e vê que ficaria mais barato.

Temos alguns pontos para acertar para que essa conta não fique excessivamente alta. É preciso abrir espaço para que esse período de déficit seja para a modernização da economia brasileira, não apenas para gastos no exterior.”

O FMI MUDOU MESMO. Ela ganhou!!!

Leio no sempre atualizado blog de MIRIAM LEITÃO que “o apoio dos EUA à candidatura de Cristine Lagarde sela a vitória virtual da ministra de Economia da França para a chefia do FMI, segundo as agências internacionais de notícias. Em nota divulgada mais cedo, o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, disse que "o talento excepcional da ministra e a ampla experiência oferecerão uma liderança inestimável para esta indispensável instituição em momentos críticos para a economia global".

Ele destacou ainda o "amplo apoio" que Lagarde obteve entre os membros do Fundo, incluindo as economias emergentes. Rússia e China já anunciaram que estão com Lagarde, que disputa a chefia da instituição com o presidente do BC do México, Agustín Carstens. O conselho executivo do FMI deve escolher hoje o substituto do ex-diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn.”

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Universidade brasileira se fecha para o mundo

Gostei de ler na FOLHA DE S. PAULO de hoje o texto abaixo. É a realidade de nossas universidades. Ainda estamos longe do 1º mundo. Por enquanto...
Se você está na universidade, faça o teste. Conte quantos alunos ou professores internacionais existem na sua instituição. Provavelmente, a resposta vai ser nenhum ou poucos. As universidades brasileiras são muito fechadas para o mundo: difícil para quem é de fora vir para cá. Quem já visitou uma universidade nos EUA ou na Europa sabe que a situação é diferente. Existe uma batalha pela "internacionalização". As escolas competem por professores e alunos no mercado global. Afinal, muitas das inovações tecnológicas dos EUA, por exemplo, foram feitas por "forasteiros". Sergey Brin, do Google, é russo; Jerry Yang, do Yahoo, é taiwanês; o fundador do eBay, Pierre Omidyar, é franco-iraniano. Há relação direta entre universidades, estrangeiros e inovação. É claro que o Brasil ainda luta para abrir espaço para seus próprios jovens. Só 20% estão na universidade (são 43% no Chile e 61% na Argentina). Mas o desafio é fazer as duas coisas ao mesmo tempo: ampliar o acesso local e internacionalizar. Ninguém disse que seria fácil ser potência emergente! Um bom primeiro passo é prestar atenção ao básico. A maioria dos sites estão só em português. Vale traduzir um mínimo. Professores estrangeiros também se surpreendem com a dificuldade em reconhecer seus diplomas. O de Harvard precisa ser "revalidado", o que pode levar meses ou anos. Além disso, os principais rankings globais exigem internacionalização. Saldo: apesar dos centros de excelência, nossas universidades acabam mal posicionadas. É claro que o esforço não pode ser isolado. Precisa acompanhar o desenvolvimento do país. Só que já crescemos nos últimos 16 anos, e a questão continua a não ser pensada. Para quem quiser saber mais sobre o tema: bit.ly/jMGIMf.

domingo, 26 de junho de 2011

A realidade na Amazônia de hoje.

Ler LEONARDO SAKAMOTO no http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/06/25/quando-o-preco-sobe-a-amazonia-despenca/ é sempre motivo para o livre exercício do pensamento. Vide abaixo o que ele escreveu sobre a região amazônica, onde trabalho desde 2005. Alguém discorda? Na realidade é tudo uma questão financeira, onde o poder econômico sempre prevalece em detrimento da floresta. Até quando?

Há alguns anos, venho escrevendo que, no que pese os seus louváveis esforços, o Ministério do Meio Ambiente tem menos controle sobre o desmatamento na região amazônica do que a Chicago Board of Trade, nos Estados Unidos, onde se define o preço mundial da soja. O grão passou um longo período com preço baixo no mercado internacional, o que freou sua expansão sobre a Amazônia e o Cerrado. Agora está nas alturas (“Nunca este tão alto nos últimos 70 anos” , como bem afirmou à Folha o ex-governador e senador Blairo Maggi).

Como não valia a pena economicamente, o agronegócio não se expandiu sobre novas áreas. Agora, que o preço atingiu alegres patamares, ouve-se o ronco das motosserras. Em 2006, quando falei sobre isso, me chamaram de “arauto do pessimismo”. Hoje, posso dizer com a tranquilidade dos arrogantes: eu disse.

Noves fora, o fato do Brasil ter virado o açougue do mundo. Por um lado, isso significa mais dinheiro entrando. Por outro, mais desmatamento (a Amazônia está virando o pasto do país) e mais trabalho escravo (mais de 60% dos casos desse tipo de exploração são de pecuária bovina, considerando a “lista suja” do trabalho escravo do governo federal).

Paulo Renato Souza.

É com tristeza que registramos o falecimento do economista PAULO RENATO SOUZA, personalidade ímpar na política nacional. Foi Ministro da Educação no governo de Fernando Henrique e criou o ENEM. Também foi reitor da UNICAMP. Homem público exemplar, mantinha um blog onde discutia assuntos de interesse nacional. Para o Brasil, uma perda enorme de um jovem homem de 65 anos que tinha ainda muito a acrescentar ao país.

sábado, 25 de junho de 2011

Uma aula na internet.

Para quem ainda não conhece, é altamente recomendável o site da KHAN ACADEMY http://www.khanacademy.org/. Trata-se do site do americano, descendente de indiano, Salman Khan, matemático do MIT, no qual ele explica de forma extremamente simples problemas complexos de várias áreas do conhecimento. Ele é um professor extraordinário e tem como alunos até os próprios filhos de Bill Gates.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Classes A e B no Brasil!

Segundo pesquisa realizada pela Cognatis Geomarketing e divulgada pela EXAME as capitais brasileiras mais RICAS são Florianópolis, Vitória, Belo Horizonte, Brasília e Goiânia. As mais POBRES são Maceió, Belém, Manaus, Fortaleza, Boa Vista.
O critério é a quantidade de habitantes pertencentes as classes A e B. Hoje o Brasil possui 20.000.000 de ricos. Em 2014 serão mais de 30.000.000.
Enquanto 41% da população de FLORIANÓPOLIS pertencem as classes A e B, apenas 8% dos habitantes de BOA VISTA estão na mesma situação.

PALESTRA COM GUSTAVO FRANCO!

O Instituto Millenium tem a satisfação de convidá-lo(a) para a palestra "A incrível história da moeda e da hiperinflação no Brasil", com Gustavo Franco.

A palestra será no dia 05 de Julho, das 17h às 19h, na Casa do Saber (Av. Epitácio Pessoa, 1164, Lagoa - Rio de Janeiro). O convite está em anexo.

Inscrições pelo telefone: (21) 2227-2237.

A luta do século: FHC x LULA em 2014!

Que ler NELSON MOTTA é um prazer, nós, seus leitores há anos, sabemos disso. Porém, hoje ele faz uma previsão que bem poderia tornar-se realidade. Com vocês: FHC x LULA, via ESTADÃO.

Poucos brasileiros chegaram aos 80 anos com o prestígio, o reconhecimento e as homenagens que recebeu o professor Fernando Henrique Cardoso. Nem adversários políticos, nem mesmo Lula, ousaram dizer que ele não os merece. Sem botox nem cabelos pintados, sem falsa modéstia, o homem está com a bola cheia, em excelente forma física e intelectual, ao contrário do companheiro Raúl Castro, que fez 80 e se diz com corpinho de 70, mas diante de FHC está uma ruína.

Nenhum político da oposição sequer se aproxima do peso e da altura de Fernando Henrique, nem da lucidez e clareza de suas ideias, amadurecidas pela vivência da realidade, geralmente estúpida e mesquinha, da política e do poder.

Ninguém tem mais autoridade do que ele na oposição, nem merece tanto respeito, e até temor, da atual base governista. Além disso, continua elegante, articulado e agudo em seu discurso, sem perder o humor e a (auto) ironia. Está mais simpático e relaxado, e até se permite generosidades e tolerâncias da maturidade. Hoje não haveria melhor candidato da oposição à Presidência da República.

Em 2014 ele terá 83 anos. Mas, com os avanços da ciência, a expectativa e a qualidade de vida crescem em proporção geométrica, há cada vez mais homens e mulheres lúcidos, vigorosos e produtivos nessa faixa etária, além de naturalmente mais sabidos, pela experiência adquirida.

Deng Xiao Ping, que viveu até os 95, governou até os 86 e deixou como legado as grandes transformações que resultaram na China moderna. Konrad Adenauer foi chanceler da Alemanha do pós-guerra até encerrar o seu histórico mandato com 87 anos. O marechal Tito governou a Iugoslávia com mão de ferro até os 88.

No Brasil há exemplos como o centenário Oscar Niemeyer, que nos seus oitentas estava em pleno vigor e criatividade. João Havelange,95, presidiu a FIFA até os 82, e, pela forma em que está, poderia estar lá até hoje. O presidente Venceslau Braz (1914-18) viveu até os 98.

Se o governo Dilma se arrastar até 2014, que espetáculo seria ver Fernando Henrique e Lula se enfrentando cara a cara em debates sensacionais. A eleição é só um pretexto.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A covardia do FED!

Paul Krugman, no seu blog, aqui publicado pelo ESTADÃO: Não surpreende, realmente, mas choca mesmo assim. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) prevê um desemprego desastrosamente alto até onde a vista alcança: E em resposta a essa perspectiva tétrica, ele declara seu trabalho encerrado. Notem que o Fed não compra a ideia de que há um grande aumento da taxa de desemprego estrutural, de que 9% é o novo normal. Essa coisa mais para a direita, rotulada “longer run” (longo prazo), é de fato a estimativa do Fed para quão baixo o desemprego poderia e deveria ir sem causar problemas de inflação. De modo que o Fed concorda em que alguma coisa deve ser feita para aumentar bastante a demanda. Mas ele lava as mãos do problema, apesar de Bernanke e seus colegas estarem perfeitamente cientes de que ninguém mais agirá. Eu estou ciente de que há dúvidas sobre quanto o Fed poderia realizar; eu compartilho essas dúvidas. Mas isso não é razão para não tentar. Essa exibição de passividade é assustadora. E vergonhosa.

Stan rejeitado!

Paul Krugman, no seu blog, aqui publicado pelo ESTADÃO: Uma rápida nota atrasada sobre a decisão do Fundo Monetário Internacional proibir Stan Fischer de se candidatar porque tem mais de 65 anos: que coisa ultrapassada! Uma justificativa existe contra Fischer. Mas o debate deveria se basear nela. De fato, deixar que ele concorresse exigiria uma modificação das normas – mas estamos no meio de uma crise, com uma necessidade desesperada de uma liderança firme, e usar de detalhes técnicos para limitar a competição sugere que os principais candidatos mostram não se destacam muitos pelos méritos. Torço pelo melhor, se este for de fato a Christine Lagarde; mas o processo já teve um mau começo.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Melhor gestão!

Hoje, na FOLHA DE S. PAULO, Antonio Delfim Netto, escreve sobre “melhor gestão”. Temos insistido, nesta coluna, que a ideia ingênua e simplista de que todos os nossos problemas seriam resolvidos com a redução da carga tributária é irrealista. Pela simples e boa razão que ela contraria a preferência "revelada" na Constituição de 1988. Gostemos ou não, na Assembleia Nacional Constituinte, por seus representantes livremente escolhidos, a sociedade brasileira "revelou" o seu desejo de construir um processo civilizatório apoiado em três pilares: 1º) Um regime republicano onde todos, inclusive o poder incumbente, devem estar sujeitos à mesma lei; 2º) Um sistema de escolha democrático, em que o poder incumbente deve ser submetido, de maneira periódica, ao voto universal absolutamente desimpedido; 3º) Um processo de construção paulatina de uma sociedade razoavelmente justa que amplie, continuamente, a igualdade de oportunidades para todo cidadão pela universalização gratuita do direito à saúde e à educação, sem distinção de qualquer natureza (origem, etnia, religião etc.). Trata-se de um projeto grandioso (envolve uma necessária dose de utopia) que vale a pena perseguir. Como é evidente, ele exige uma carga tributária maior que a dos países com o nosso mesmo nível de renda per capita, mas que têm objetivos menos ambiciosos. Em compensação, tal construção precisa de um Estado enxuto preocupado prioritariamente com: 1º) A eficiência de seus agentes; 2º) O controle rigoroso e exigente das políticas públicas de transferência de renda. O problema não é a alta tributação, mas o lamentável nível de sua devolução à sociedade com serviços públicos oferecidos em pequena quantidade e baixa qualidade, que salta aos olhos nas comparações internacionais. A complicação -nos três níveis de governo- não é propriamente a carga tributária, e sim a tragédia com os recursos que são dissipados pela ineficiência dos serviços públicos. O grave é que esse desperdício é mais manifesto na prestação de serviços de má qualidade na saúde e na educação, exatamente os setores críticos para o aumento da igualdade de oportunidades necessária para acelerar o desenvolvimento sustentável e inclusivo que o país mostrou desejar na Constituição de 1988. A boa notícia é que a presidente Dilma Rousseff montou uma nova estrutura de apoio externo para tentar fazer mais e melhor com os recursos de que já dispõe o setor da saúde. É o primeiro passo para a melhoria da gestão dos recursos públicos, exatamente no setor que o Brasil mais precisa.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Teoria e prática econômica.

Hoje estou na UnB justamente para conversar sobre Moeda, Inflação e Política Econômica. Que bom poder ler logo cedo na FOLHA DE S. PAULO, materia que mistura a teoria e a pratica economica. A equipe econômica vai propor à presidente Dilma manter inalterada a atual meta de inflação de 4,5% ao ano em 2013 e sua tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Na próxima semana, o CMN (Conselho Monetário Nacional) se reúne para definir a meta de 2013. Segundo a Folha apurou, a equipe econômica avalia que reduzir a meta neste momento seria o mesmo que forçar o Banco Central a manter por mais tempo o atual ciclo de alta dos juros, de forma a garantir queda rápida dos índices de preços para o patamar desejado. Esse movimento poderia colocar em risco um momento de retomada do crescimento da economia. Dentro da estratégia do governo, o primeiro ano de Dilma deve ser de menor crescimento da produção nacional para controlar a inflação, que está elevada. A expectativa é que a economia cresça este ano entre 3,5% e 4%. No mercado financeiro, as apostas são de crescimento de 3,9%. Esse recuo mais forte em 2011, depois dos 7,5% registrados no ano passado, é considerado importante para compatibilizar nos próximos anos da gestão Dilma crescimento em torno de 5% ao ano com preços sob controle. Essa taxa, almejada já para 2012, está acima dos 4,10% previstos por analistas de mercado. Segundo técnicos do governo, se for incluída nessa equação uma meta de inflação menor para 2013, ela se transformaria numa "armadilha" para o BC. A autoridade monetária teria que elevar os juros para conter os preços já no ano que vem, para garantir o alcance da meta do ano seguinte, considerando que a política monetária tem um período de defasagem de seis a nove meses para que seus efeitos sejam sentidos. Além disso, a equipe de Dilma avalia que a redução da meta inflacionária deveria ocorrer ao mesmo tempo ou depois da adoção de medidas para reduzir a indexação da economia brasileira. O ministro Guido Mantega (Fazenda) costuma lembrar que resíduos de indexação como, por exemplo, reajustes de contratos de acordo com a inflação passada, fazem com que os preços do ano seguinte já partam de uma base mais alta. Esse efeito leva a uma realimentação da inflação, tornando mais difícil o combate às pressões sobre os preços. Durante o governo Lula, o BC chegou a defender uma redução da meta de 4,5% para 4% ou uma redução no intervalo de tolerância de 2 pontos para 1,5 ponto, mas foi voto vencido na disputa com a Fazenda. O atual presidente do BC, Alexandre Tombini, manifestou em seu discurso de posse a necessidade de, no futuro, o país discutir uma redução das metas, mas segundo assessores o cenário atual não é propício para esse tipo de discussão. A expectativa do ministro da Fazenda é que a inflação feche 2011 em 6,2%, muito próxima, portanto, do teto da meta, que é de 6,5%. Para Mantega, os últimos indicadores mostram que a política de combate à inflação está acertada. Mas ele admite que ainda é preciso ter cuidado. "O desafio continua e vamos tomar as medidas para que a inflação permaneça sob controle."

sexta-feira, 17 de junho de 2011

FHC: parabéns e obrigado!

Leio na FOLHA DE S. PAULO artigo de Luiz Carlos Mendonca de Barros e os 80 anos de FHC, dentre outros comentários.
Em carta enviada ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a presidente Dilma Rousseff reconhece -de forma clara e inequívoca- a paternidade do Plano Real, que devolveu à economia brasileira a estabilidade e o crescimento.
Foram quase 20 anos em que estivemos condenados à mediocridade e à estagnação da renda, principalmente dos mais pobres. Com o Plano Real, esse passado vergonhoso foi superado e voltamos ao grupo de nações emergentes com futuro.
O que seria considerada uma observação apenas formal em sua carta de congratulações pela passagem do aniversário de 80 anos de FHC, esse reconhecimento passou a ter uma grande relevância política.
Com razão, pois o ex-presidente Lula passou os oito anos de seu mandato renegando a importância de FHC e do Plano Real na construção da sociedade brasileira de hoje.
Além disso, Lula sempre espalhou aos quatro ventos a tese de que os anos FHC tinham deixado uma "herança maldita" a seus sucessores. O reconhecimento de Dilma do papel de FHC na estabilização e na política brasileira tornou as bravatas de Lula algo do passado. Espero que, a partir de agora, nem seu autor tenha coragem de voltar a elas.
Quero aproveitar este momento em que o papel de FHC na construção da nova economia brasileira voltou ao debate público para dividir com o leitor da Folha um trabalho sobre a evolução dos salários no Brasil, nos últimos 20 anos, feito por Fabio Ramos, economista da Quest Investimentos.
Os dados que constam do gráfico falam por si só e mostram como a posição de Lula em relação ao Plano Real é inaceitável em uma sociedade guiada pela verdade dos fatos -não pela história forjada por seus dirigentes.
Os dados representam uma estimativa do total da remuneração do trabalho no Brasil, calculados em reais e já descontados os efeitos da inflação, entre 1992 e o primeiro trimestre de 2011. Chamo a atenção do leitor para os seguintes pontos principais:
1) Entre 1993, quando Fernando Henrique assumiu o Ministério da Fazenda no governo de Itamar Franco, e 1997, já presidente da República, o total de salários pagos passou de R$ 600 bilhões para R$ 1,1 trilhão, com aumento de 83% no período, o que equivale a um crescimento anual de mais de 12%;
2) Apenas no segundo mandato de Lula (2007-2010) é que os salários superam o nível de R$ 1,1 trilhão verificado entre 1993 e 2002 e começam a crescer a uma taxa anual de pouco mais de 5%;
3) O aumento dos salários reais nos quatro anos do chamado Lula-2 foi, entretanto, menos da metade do verificado no período de implantação do Plano Real;
4) Ou seja, a contribuição da estabilidade alcançada pela ação de FHC nos salários dos trabalhadores brasileiros foi o dobro da proporcionada pelos quatro anos de crescimento verificado no segundo mandato de Lula. Os dados históricos aqui apresentados não permitem que a farsa da "herança maldita" se sustente por mais tempo.
O trabalho feito por Ramos mostra, de forma cristalina, como a inflação elevada confiscava a renda real do trabalhador antes da ação decisiva de FHC.
A presidente Dilma apenas reconhece -com anos de atraso- isso.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Juros: equívoco ou jabuticaba?

Recebi a pouco do Professor Carlos Pio, artigo abaixo do economista André Lara Resenda, com o sugestivo título: Juros: equívoco ou jabuticaba, publicado no VALOR ECONOMICO de hoje.

Os juros no Brasil continuam a causar perplexidade. Enquanto no mundo todo, desde a crise financeira de 2008, as taxas estão excepcionalmente baixas, o Brasil é uma exceção. A taxa de juros continua alta; não apenas alta, mas muito alta.

Durante duas décadas, entre o primeiro choque do petróleo em 1973 e o Plano Real em 1994, a inflação brasileira desafiou políticos e intelectuais em busca de uma saída para um mal que corroía os salários, concentrava a renda, distorcia os preços, aumentava a incerteza e dificultava a avaliação dos investimentos. Independentemente da velocidade com que governos, ministérios e métodos foram testados e substituídos, a inflação seguia seu curso, parecia alimentar-se das tentativas fracassadas de controlá-la e ameaçava até mesmo a estabilidade institucional.

A inflação brasileira do último quarto do século XX era diferente da inflação encontrada nos países desenvolvidos à mesma época. Não era a mesma inflação, apenas mais alta, como a totalidade dos analistas externos e a grande maioria dos analistas no Brasil supunham. Tinha um elemento novo, uma especificidade própria, que lhe dava um caráter essencialmente distinto*.

A inflação no Brasil tinha se tornado uma doença crônica. Após anos de inflação, formas de conviver com a alta generalizada de preços foram desenvolvidas e até mesmo inteligentemente institucionalizadas nas reformas modernizadoras de 1965. Os mecanismos de indexação de salários, preços e contratos tinham se generalizado. A indexação permite conviver com uma inflação moderada sem desorganizar completamente o sistema de preços relativos, mas em contrapartida, por ser retroativa, projeta a inflação passada na inflação futura. Introduz uma rigidez no processo inflacionário que o torna muito mais resistente aos esforços para controlá-lo. Uma vez atingido um determinado patamar, ainda que na ausência de novas pressões, a taxa de inflação perpetua-se, por meio do que se convencionou chamar de inércia inflacionária.

A indexação permite melhor conviver com a inflação, mas introduz um forte componente inercial que a torna resistente aos métodos tradicionais para combatê-la. Um longo período de altas taxas de inflação, numa economia onde há indexação generalizada, muda a natureza do processo inflacionário e lhe dá características e complexidades específicas, diferentes das inflações moderadas encontradas nas economias desenvolvidas da segunda metade do século XX.

Numa época em que o mundo era menos interligado do que é hoje, em que o desconhecimento do que se passava nas economias periféricas era grande, não se podia contar com o auxílio dos centros acadêmicos desenvolvidos para se debruçarem sobre uma especificidade subdesenvolvida. Ao contrário, toda tentativa de argumentar que o processo inflacionário brasileiro requeria análise diversa e políticas específicas era recebida, no mínimo, com ceticismo e, na maior parte das vezes com ironia. Obrigados a pensar por conta própria, houve no Brasil um intenso debate sobre a natureza da inflação que, depois de muita tentativa e erro, levou-nos, com o Plano Real. A URV, uma moeda indexada virtual, foi solução sofisticada e original para o problema da inércia da inflação crônica.

A alta taxa de juros no Brasil de hoje nos remete à questão do processo inflacionário crônico do século passado. Estamos diante de uma nova especificidade brasileira, uma jabuticaba, ou trata-se meramente de um oneroso equívoco?

Em 2004, Edmar Bacha, Pérsio Arida e eu argumentamos que poderia haver uma especificidade na alta taxa de juros brasileira**. Descartamos como uma mera curiosidade teórica, a hipótese de que a política monetária pudesse estar excessivamente apertada, presa num "mau equilíbrio". Um equilíbrio perverso, onde a taxa excessivamente alta leva a uma despesa excessiva com juros, que aumenta o risco percebido dos títulos públicos, que por sua vez exige taxas mais altas.

A possibilidade de que a própria política de juros altos provoque a necessidade de juros altos, embora tenha grande apelo ideológico à esquerda, foi originalmente formulada por Olivier Blanchard, macroeconomista de credenciais inquestionáveis, atualmente economista-chefe do FMI***. Como a carga fiscal no Brasil já estava entre as mais altas do mundo e à época havia um expressivo superávit primário, procuramos encontrar uma possível razão além de um ajuste fiscal insuficiente e de uma dívida pública muito alta, para que a taxa de juros fosse tão excepcionalmente alta. Não nos parecia viável exigir um novo aperto fiscal pelo lado da tributação e as dificuldades de reformas e de redução dos gastos públicos são conhecidas. Haveria um fator específico na economia brasileira, uma jabuticaba, que pudesse explicar a anomalia dos juros?

Introduzimos a especificidade brasileira como uma conjectura teórica: a possibilidade de que houvesse uma "incerteza jurisdicional". A incerteza da jurisdição brasileira provocaria, por parte dos agentes detentores de poupança, uma resistência insuperável ao alongamento dos prazos das aplicações financeiras. A evidência do risco jurisdicional era o fato de que os mesmos credores, que resistiam a alongar os prazos em reais, estavam dispostos a fazê-lo nos títulos financeiros denominados em outras moedas, contratados em outras jurisdições. A "incerteza jurisdicional" seria decorrente de um viés anti-credor generalizado, encontrado principalmente, mas não apenas, no executivo, que sistematicamente subestimou a correção monetária, aplicou redutores nos contratos financeiros públicos e privados, taxou de forma discriminatória as aplicações financeiras e chegou ao extremo de congelar e expropriar a poupança financeira e monetária privada com o Plano Collor. Gato escaldado tem medo de água fria - o brasileiro, depois de tanto ser maltratado e espoliado, teria desenvolvido uma resistência a poupar a longo prazo, sobretudo em moeda nacional.

Embora tenhamos deixado claro que a incerteza jurisdicional era essencialmente uma percepção, associada a um viés anti-credor histórico de difícil mensuração, algumas tentativas de encontrar evidência da sua presença, em amostras com diferentes países, foram feitas, mas sem sucesso****.

Hoje, com significativos avanços, tanto em relação à conversibilidade do Real, como em relação à extensão dos prazos de financiamentos domésticos denominados em reais, a taxa de juros no Brasil continua extraordinariamente alta. A incerteza jurisdicional pode ter contribuído para que a taxa de juros fosse excepcionalmente alta logo após a estabilização da inflação, mas nos últimos anos, a incerteza diminuiu, o mercado interno de crédito de longo prazo evoluiu e a taxa de juros continua muito alta. Fica evidente que algo mais estrutural está por trás das altas taxas de juros no Brasil.

Há os que atribuem a culpa exclusivamente à política monetária do Banco Central, que teria sido - e continuaria - excessiva e equivocadamente restritiva. Segundo estes, os juros altos têm explicação simples: são resultado do equívoco do Banco Central. Um equívoco que resistiu às mudanças de governo e da composição de sua diretoria, mas apenas um longo e insistente equívoco.

O argumento de que se trataria apenas de um equívoco pode variar entre uma versão mais tosca, onde a política exageradamente dura do Banco Central é quase que pura perversidade, até os mais sofisticados, que são variantes da tese da "dominância fiscal" de Blanchard. A mais razoável é a tese de que o Banco Central, sem independência formal e cuja diretoria não tem mandato, está sujeito a pressões políticas. Para ganhar credibilidade precisou ser mais realista do que o rei. Manteve as taxas sistematicamente acima do necessário para conter a inflação dentro das metas.

Para que esta tese se sustente, dado que a inflação nunca esteve abaixo da meta, é preciso recorrer à hipótese do duplo equilíbrio. Existiria uma taxa de juros, mais baixa do que a efetivamente praticada pelo Banco Central, que teria igualmente sido capaz de manter a inflação dentro das metas. O equilíbrio dos últimos anos, desde o Real, seria um equilíbrio perverso, onde alta taxa de juros eleva o custo da dívida pública, agrava o desequilíbrio fiscal, que por sua vez eleva o risco dos títulos públicos e a taxa de juros de equilíbrio. Tudo mais constante, teria sido possível manter a inflação dentro das metas com uma taxa de juros mais baixa e menor risco percebido da dívida pública.

Assim formulada, a tese do duplo equilíbrio é uma possibilidade teórica, mas não há, nem certeza da existência prática de um segundo equilíbrio com taxas de juros mais baixas, nem garantia de que, na hipótese de efetivamente existir um melhor equilíbrio, dado que estamos no "mau equilíbrio", fosse possível atingí-lo pela mera redução, brusca ou gradual, da taxa de juros. Em termos técnicos, o entorno do equilíbrio perverso pode ser instável e não garantir a convergência para o melhor equilíbrio. Do ponto de vista prático, a existência de um equilíbrio superior é irrelevante, dado que o risco fiscal percebido é efetivamente alto, e não se pode correr o risco de baixar os juros e perder controle da inflação.

Parece-me, entretanto, que a hipótese da dominância fiscal e do duplo equilíbrio de Blanchard foi descartada como uma curiosidade teórica, sem que a devida atenção tivesse sido dada à única recomendação prática que dela se pode extrair.

A hipótese de Blanchard inverte a premissa clássica de que existe um "trade-off" entre a taxa de juros real e o déficit fiscal. Este "trade-off" pode ser deduzido da equação de equilíbrio no mercado de bens, onde juros mais altos reduzem a demanda privada e abrem espaço para maior gasto do governo, sem pressão inflacionária. Inverter a relação negativa entre juros e demanda agregada tem sido uma tentação recorrente ao longo dos tempos. Não é difícil compreender por quê. Invertida a relação entre a taxa de juros e a demanda agregada, torna-se possível compatibilizar uma política fiscal e monetária demagógica com a teoria e a racionalidade.

A hipótese de Blanchard, onde esta inversão ocorre pela percepção de risco da dívida pública, quando tanto a dívida como a taxa de juros são muito altas, embora sofisticada e conceitualmente possível, é efetivamente apenas uma conjectura teórica. Dela não se pode extrair a recomendação de que o Banco Central deveria baixar os juros, pois nada garante que um novo e melhor equilíbrio seria encontrado.

Ainda que a hipótese de Blanchard fosse demonstrada verdadeira, a única conclusão possível de ser extraída é de que para baixar a taxa de juros, com garantia de que a inflação se manterá dentro das metas, é preciso reduzir o risco percebido da dívida pública. Para isto, o único caminho direto e seguro é aumentar o superávit fiscal e reduzir a dívida.

Cabe aqui um paralelo entre a questão da taxa de juros hoje e a questão da inflação crônica do século passado. Uma identidade básica das contas nacionais nos mostra que o déficit público deve ser igual à soma da poupança privada e do déficit em conta corrente do balanço de pagamentos. Ou seja, o déficit público é necessariamente financiado pela poupança privada doméstica e pelo financiamento do déficit da conta corrente, que pode ser chamado de poupança externa. Uma questão fundamental a ser superada por países pobres é a insuficiência de poupança. A insuficiência de poupança decorre tanto da premência das necessidades básicas de consumo, quanto da falta de instituições e hábitos indutivos da poupança. Na ausência de poupança voluntária institucionalmente canalizada para o financimento do investimento, tanto público quanto privado, a inflação pode servir como uma forma de criar poupança forçada. A inflação transfere recursos dos trabalhadores para o governo e as empresas. Se o governo gasta e investe mais do que arrecada, mas não há poupança privada suficiente para financiar o seu déficit, a inflação é a forma de transferir poupança forçada para o setor público, através da redução da renda e do consumo privado. A incompatibilidade, a priori, entre o déficit público e a poupança privada resolve-se, a posteriori, por meio da inflação.

Sem inflação, mas mantida a incompatibilidade entre o déficit público e a poupança voluntária - a taxas de juros razoáveis - é preciso recorrer a taxas de juros extraordinariamente altas para inibir o consumo privado e estimular a poupança. Na raiz das altas taxas de juros do Brasil de hoje está a mesma incompatibilidade entre a poupança voluntária e o desejo de investimento e consumo, público principalmente, que alimentou o processo inflacionário crônico do século passado. Apesar dos inegáveis avanços, ainda não conseguimos superar integralmente a restrição de poupança interna necessária para financiar nossas ambiciosas metas de investimentos e de gastos públicos.

Pode-se sempre recorrer à chamada poupança externa. A poupança externa é equivalente ao déficit em conta corrente que o resto do mundo está disposto a nos financiar. O excesso de importações sobre as exportações de bens e serviços é consumo interno financiado pela poupança do exterior. O recurso à poupança externa pode efetivamente aliviar a restrição da poupança interna, mas precisa ser utilizado com cautela, ao menos para os países que não são emissores de moedas-reserva*****. Financiar o excesso de gastos sobre a renda com déficits em conta corrente significa sujeitar-se às mudanças de humores, quase sempre bruscas, dos investidores internacionais. Pode ser uma forma legítima de aliviar a restrição doméstica de poupança e acelerar o crescimento, se o déficit em conta corrente estiver sendo utilizado para financiar o investimento e não - como ocorre com frequência - o consumo.

De toda forma, para que a poupança externa reduza a pressão sobre as finanças públicas é preciso que a moeda nacional possa flutuar livremente. É preciso aceitar, nos períodos em que o financiamento externo é abundante, uma valorização expressiva da moeda, com todas suas implicações favoráveis e desfavoráveis. Da mesma maneira, é preciso aceitar os impactos simultaneamente inflacionários e contracionistas decorrentes da redução, ou até mesmo do desaparecimento temporário, do financiamento externo. Se o Banco Central intervém para evitar a valorização percebida como excessiva da moeda, a necessidade de esterilizar os recursos emitidos para a compra de reservas internacionais restabelece a pressão sobre a necessidade de financiamento do setor público. A existência de financiamento externo só alivia a restrição de poupança interna para o financiamento público se a moeda puder flutuar livremente e não houver intervenção esterilizada para evitar a sua valorização. ******

À época da formulação do Real, insisti que era um equívoco pensar que o fim da inflação pudesse depender apenas de um plano de curto prazo. A inflação é sempre um sintoma. Sintoma de problemas que podem ser muito diferentes, mas que exigem um longo e consistente processo de superação. Não me parece exagero afirmar que alta taxa de juros brasileira de hoje ainda é decorrente da estabilização inacabada. Há uma agenda de reformas modernizadoras que foi abandonada e esquecida. Mais do que isso, houve reversão do projeto de tornar o estado menos ineficiente e a economia mais competitiva. A poupança privada pode ser estimulada através do desenvolvimento institucional e da educação, mas os resultados não são imediatos. A curto prazo só há um remédio: reduzir a despesa pública para compatibilizá-la com a taxa de poupança privada disponível, ou seja, reduzir o déficit público.

Tenho consciência de quão anticlimático é concluir que para baixar a taxa de juros é preciso reduzir a despesa e a dívida pública. Logo após o fracasso do Plano Cruzado, com a inflação explodindo para níveis até então nunca vistos, Pérsio Arida e eu, já fora do governo, mas ainda com restos da áurea de milagreiros, fomos convocados ao Palácio da Alvorada para uma reunião com o presidente da República. Ao terminarmos nossa exposição sobre a necessidade imperiosa de reduzir o déficit público, como condição para qualquer tentativa de controlar a inflação, o presidente José Sarney desabafou: "Para controlar a inflação por meio da redução dos gastos públicos eu não preciso de economistas brilhantes".

Infelizmente, com ou sem economistas brilhantes, para reduzir a taxa de juros e manter a inflação sob controle, a poupança voluntária deve ser capaz de financiar o investimento, público e privado, almejado. Para isso é preciso que as despesas correntes, especialmente os gastos correntes do setor público, sejam mantidas em níveis compatíveis com a taxa de poupança nacional. Em economia ao menos, não há milagres nem jabuticabas.

Após um dia de trabalho, chegando em Belém-PA!

terça-feira, 14 de junho de 2011

PIB gordo e salvador.

Recebi nesta data do Professor Carlos Pio, artigo de Raul Velloso, publicado ontem no Estadão sobre o PIB gordo e salvador.
Poucos perceberam, mas foi o efeito estatístico - que anabolizou o Produto Interno Bruto (PIB) - a salvação da economia sem a necessidade de uma forte rearrumação estrutural neste início de governo.
Entre 2003 e 2008 os resultados fiscais haviam aumentado firme e sistematicamente, passando, no caso da União, de 2,3% do PIB, no final de 2003, para 3,1% do PIB, em outubro de 2008, às vésperas da crise. Graças a isso e à melhora dos demais parâmetros relevantes, a razão dívida-PIB caiu de mais de 50% para 37,5% do PIB, um senhor ajuste. Nesse ínterim, tanto a receita quanto a despesa cresceram cerca de 9% ao ano acima da inflação, aproximadamente o dobro da atual taxa de crescimento sustentável do PIB. Viva o espetacular aumento da receita, pois graças a ele e dado que o valor inicial da receita era maior do que o da despesa, obviamente o superávit teria de aumentar.
Veio a crise e com ela a derrocada da atividade econômica e da arrecadação. Para se contrapor à crise, além das medidas de expansão monetária, o governo até aumentou o crescimento real dos gastos. Em consequência, os superávits agora caíam, chegando há pouco à faixa de 1,3% do PIB nos últimos 12 meses, se descontarmos o ganho temporário de 0,9% do PIB atribuído à operação de capitalização da Petrobrás, de setembro de 2010.
Analistas reclamaram dessa e de outras medidas que soaram como artificiais, mas em clima de otimismo o que vale não é a cifra pessimista de 1,3% do PIB, e, sim, a marca oficial de 2,2% do PIB para o superávit primário da União, nos últimos 12 meses, e no "fundo do poço" pós-crise correspondendo ao valor médio observado entre setembro e janeiro de 2011. Adicionando-se a essa marca oficial os resultados somados dos demais níveis, chega-se a um superávit total capaz de, juntamente com os demais parâmetros, gerar a queda e posterior estabilização da razão dívida-PIB para a atual marca de 40% do PIB, em que parece ter finalmente estabilizado e tranquilizado os mercados quanto à possível volta de temores de perda de controle da dívida. Registre-se que, depois de ter caído para 37,5% do PIB até setembro de 2008, essa razão, diante da crise, subira novamente para o nível de 43,5% em outubro de 2009.
Diante da necessidade de reafirmar a política de redução da razão dívida-PIB e da aceleração inflacionária decorrente do forte crescimento da economia e de outros fatores, o governo resolveu anunciar corte elevado de gastos para 2011, no contexto da revisão do Orçamento aprovado no Congresso Nacional. Como se tratava de corte em intenções, e não em relação aos gastos efetivos de 2010, o anúncio deixou muitas dúvidas. Para evitar uma maior subida das taxas de juros e/ou um pacote mais pesado de "medidas prudenciais", foi prometido um forte ajuste fiscal no primeiro semestre de 2011. Ou seja, um forte aumento do superávit na sua execução de caixa.
Conhecidos os números até abril, a reação geral dos analistas do mercado financeiro parece bastante favorável à gestão fiscal desses primeiros meses, como se percebe pela queda da inflação esperada, com base nas já tradicionais coletas do Banco Central. Mas há quem conteste o acerto da política adotada.
O que houve de fato? As autoridades sabem que, afora medidas atípicas, trata-se de aumentar a receita a taxas maiores que as das despesas primárias, para compensar a fase aguda da crise, quando se dera o contrário: a receita caiu, enquanto a despesa subia. No curto prazo, tudo vale. A longo prazo, depende de um projeto de ajuste estrutural do gasto, talvez conjugado com uma reforma tributária eficiente, algo que ainda não existe.
Nos primeiros trimestre e quadrimestre de 2011, a receita líquida da União cresceu entre 16% e 18% em termos nominais, basicamente na parcela puramente de natureza tributária, influenciada pelo elevado crescimento do PIB de 2010. Já a despesa total subiu bem menos: 7,1% e 9,7%, respectivamente. Fez-se, assim, o que era preciso fazer para recuperar os superávits perdidos.
No primeiro trimestre, Previdência e pessoal, com 64% do gasto total em 2010, cresceram, respectivamente, 5,1% e 3,6%, ou seja, abaixo da inflação. Isso se deveu em parte ao fato de que, pela política atual, o salário mínimo não teve aumento real positivo, algo que será compensado no ano que vem, com forte impacto no gasto futuro. E também porque o governo resolveu adiar para o mês de abril o pagamento das despesas relacionadas com sentenças judiciais de pessoal e Previdência, que costumavam ocorrer no primeiro trimestre. Assim, no primeiro quadrimestre, o crescimento desses dois itens aumentou para a faixa de 10% a 11%, ainda abaixo do aumento da receita. Note que os investimentos cresceram apenas 4,5% no primeiro quadrimestre, mas isso se explica porque 2010 foi ano eleitoral.Graças, principalmente, ao forte crescimento do PIB de 2010, que explica boa parte do desempenho da arrecadação, a batalha de curto prazo foi ganha até agora. Ponto para o governo. Mais à frente, com a economia desaquecida, as reformas talvez sejam a única saída.

SOBRE O SURGIMENTO DA CIÊNCIA ECONÔMICA

Leia abaixo artigo do colega Eduardo José Monteiro da Costa, Doutor em Economia pela Unicamp, professor da UFPA e Presidente do Conselho Regional de Economia do Estado do Pará (CORECON-PA), publicado no Jornal do Economista pelos 60 anos da profissão de economista no Brasil.
O ano de 2011 é uma data simbólica para a profissão de economista no Brasil. Neste ano comemoraremos 60 anos da Lei 1.411, sancionada no dia 13 de agosto de 1951, que regulamenta o exercício profissional do economista no Brasil. É uma data comemorativa e simbólica que enseja um conjunto de reflexões sobre o exercício profissional. Desta forma, em comemoração a data, escreverei uma série de artigos reflexivos acerca da economia e do exercício profissional do economista no Brasil contemporâneo e especificamente no estado do Pará. Propositadamente escolhi para este ensaio inaugural o surgimento da Ciência Econômica.
Os livros clássicos de introdução a economia apresentam que a etimologia da palavra economia deriva do grego oikonomia, na qual oiko significa casa, propriedade, riqueza ou fortuna, e nomos significa regra, lei, organização ou até mesmo gestão. Neste sentido, na Grécia Antiga a economia era o ramo do conhecimento que cuidava da administração da comunidade doméstica, indo desde aspectos micro relacionados ao oikos até aspectos macro relacionados à Pólis (cidade, campo ou território). Convém ressaltar, entretanto, em que pese alguns poucos autores insistirem que Xenofontes (430-355 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) teriam sido os autores seminais desta ciência, que na Grécia Antiga não havia um estudo sistemático que observasse princípios autônomos neste ramo do conhecimento. A economia era apenas um campo do conhecimento integrante da “Ciência mãe”, a filosofia, estando integrada a um arranjo social e político mais amplo da qual não podia ser dissociada.
Um estudo mais aprofundado sobre a etimologia da palavra economista nos revela que ela deriva do latim oeconomus e esta do grego oikonomo, significando literalmente servo, mordomo ou dispensado, podendo ser entendida no sentido mais usual da época como o administrador de uma grande propriedade ou de uma instituição pública ou particular. Ou seja, em seus primórdios, na Grécia Antiga, o economista era claramente um servidor público, entendido este como aquele que serve aos outros ou a coisa pública. Esta visão mais de mil anos depois pode ainda ser encontrada em São Tomaz de Aquino (1225-1274), um clássico teólogo e filósofo da Idade Média que denominava de economos quem administrava bens, rendas e despesas do lar ou, como ele mais usualmente utilizava, monastérios.
No ano de 1615 um autor mercantilista francês denominado Antoine de Montchrétien (1575-1621) publicou a obra Tratado de Economia Política na qual pela primeira vez a expressão Economia Política aparece. Esta obra é simbólica na medida em que com ela pode-se perceber que a economia passa a figurar para os autores mercantilistas como um campo do conhecimento relacionado à gestão do Estado, inclusa, portanto, no campo de interesse das Ciências Políticas, sobrepujando desta forma as demais visões que denominavam este campo do conhecimento de “Crematística” ou “Catalactica”, palavras derivadas do grego khrema e katallactein que significam respectivamente Ciência da Riqueza e Ciência das Trocas.
Em 1755 foi publicada post-mortem a obra Ensaio sobre a Natureza do Comércio em Geral do irlandês residente na França Richard de Cantilon (1680-1734), escrita ainda na década de 1730. A obra de Richard de Cantilon permaneceu obscura até por volta de 1880 quando William Stanley Jevons (1835-1882), um renomado economista da Escola Neoclássica, deu os devidos créditos ao ineditismo deste livro destacando-o como a mais metódica e completa formulação econômica anterior a Adam Smith, chamando o autor inclusive de primeiro economista político. De fato é indiscutível a influencia que as idéias de Cantilon tiveram sobre as formulações da Escola Clássica, a começar por Adam Smith, e da Escola Fisiocrata, com destaque para a teoria dos salários relativos, a visão circular da renda, a teoria do valor da terra, o papel dos metais preciosos na economia internacional e a relação entre moeda e inflação.
Outra data importante para a história desta ciência é o ano de 1758 quando o autor fisiocrata francês François Quesnay publicou o tratado Tabela Econômica mostrando pela primeira vez que a atividade produtiva funcionava a partir de uma lógica sistêmica, com a economia nacional sendo formada por conjuntos interdependentes (agricultura, indústria e comércio) articulados pela formação, distribuição e consumo das riquezas.
Entretanto, o surgimento formal da Ciência Econômica é atribuído ao lançamento do livro Um Inquérito sobre a Natureza e as Causas das Riquezas das Nações do filósofo escocês Adam Smith no ano de 1776, obra que estabeleceu a economia como ramo do conhecimento independente da Filosofia e da Ciência Política. Nesta obra Smith construiu um modelo abstrato e relativamente coerente da natureza, estrutura e funcionamento do sistema capitalista, no qual havia importantes ligações entre as principais classes sociais, os vários setores da produção, circulação e distribuição, riqueza e renda, comércio, moeda, formação dos preços e dinâmica de crescimento econômico. Este sistema, para Smith, poderia ser explicado por sua própria lógica interna.
Sua formulação teórica foi o reflexo de três progênies. Em primeiro lugar foi enfaticamente influenciada pelo ambiente da Grã-Bretanha nos idos da Revolução Industrial, aonde a visão de mundo anteriormente apregoada iria ruir em prol de uma nova sociedade regulada pelo e para o mercado. O segundo pilar estrutural de sua análise fundamentava-se no pensamento sociológico influenciado diretamente pela doutrina do individualismo através do pensamento de Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704), Anthony Ashley-Cooper – Terceiro Conde de Shaftesbury – (1671-1713), Francis Hutcheson (1694-1746), Bernard Mandeville (1670-1733) e David Hume (1711-1776). A terceira fonte de influência foi o iluminismo, mais especificamente a concepção de “ordem natural” das coisas, importando a idéia de que o mundo é regido por “leis naturais” como arquitetada por Isaak Newton (1643-1727) para as ciências naturais. Tal fenômeno filosófico derivou-se, fundamentalmente, do surgimento na Europa do racionalismo embutido nos ideais iluministas no qual o homem começou a buscar explicações racionais para os acontecimentos, suplantando a idéia de “ordem natural”. Assim, influenciada pela filosofia das luzes, a sociedade passava de uma visão de mundo teocêntrica para outra racional, visando transpor leis comportamentais do mundo físico para o âmbito do social, dando início à Economia Política como disciplina autônoma na qual a preocupação com a “lei natural” pressupunha a identificação de um princípio unificador que reduzisse todos os fenômenos da vida econômica a um sistema inteligível e coerente.
Não há dúvida que a obra de Smith apresenta um conjunto teórico mais amadurecido e consistente que os seus antecessores, mas a alcunha de “Pai da Economia” certamente só lhe foi outorgada pelo fato do autor de A Riqueza das Nações ter participado do movimento das luzes, ter escrito na língua inglesa e em um período de intensas transformações pelo qual passava a Grã-Bretanha, posteriormente batizado de Revolução Industrial, no qual se tornava fundamental a formulação de modelos teóricos de referência que permitissem a explicação dos fenômenos econômicos e sociais. Assim, a partir de Adam Smith a economia passou a estudar a formação, distribuição e consumo das riquezas com base em modelos econômicos autônomos, estando este desiderato muito claro nas formulações de autores clássicos como Thomas Robert Malthus (1766-1834), John Stuart Mill (1806-1873), David Ricardo (1772-1823) e Jean Baptiste Say (1767-1832).

domingo, 12 de junho de 2011

É a economia, Obama!

Objetivo e direto editorial da FOLHA DE S. PAULO sobre a atual situacao de Barack Obama.
Foram efêmeros os efeitos positivos do assassínio de Bin Laden na popularidade do presidente americano, Barack Obama. Segundo pesquisa do jornal "Washington Post" com a rede de TV ABC, sua aprovação era de 47% em abril, pulou para 56% após a morte do terrorista e, neste mês, retornou ao nível anterior.
Não é bem uma surpresa. Nada menos que 59% dos americanos desaprovam, hoje, a condução da economia pelo presidente, nível mais alto desde a eleição do candidato do Partido Democrata. O descontentamento é generalizado e profundo: 89% acreditam que a economia é um problema, e 57% dizem que o país nem começou a sair da recessão.
Se as eleições fossem hoje, um dos potenciais contendores do Partido Republicano, Mitt Romney, teria 49% dos votos dos eleitores registrados, contra 46% de Obama. Um empate técnico, já que a margem de erro é de 3,5 pontos para mais ou para menos.
As pesquisas mostram fraqueza de Obama, mas dizem pouco sobre o que poderá ocorrer em 2012. O quadro pré-eleitoral nos EUA é sempre muito variável, e a corrida para selecionar um candidato republicano está longe de uma definição. Há várias facções influentes e antagônicas, como o movimento conservador Tea Party.
A economia, de fato, vai mal. A volta do crescimento para o patamar próximo de 2,5%, entre meados de 2009 e o primeiro trimestre deste ano, não tem sido suficiente para gerar empregos rapidamente. Apenas 2 milhões de postos de trabalho foram criados desde 2009, uma fração das 8,5 milhões de vagas perdidas na crise.
A persistir o ritmo recente, de 200 mil novos postos por mês, o emprego retornaria ao nível pré-crise apenas em 2014. Mesmo assim, a taxa de desemprego, atualmente em 9,1%, persistiria muito acima do padrão histórico -próximo de 5%- por mais de uma década. O desemprego se tornou um problema crônico: o tempo médio sem trabalho passou de 15 semanas (média desde 1980) para quase 40 semanas, atualmente.
Ainda pesam sobre os ombros das famílias americanas o excesso de endividamento e a queda dos preços dos imóveis. O crédito bancário permanece estagnado, mesmo depois da injeção de US$ 1,85 trilhão na economia.
A apreensão com o deficit público, da ordem de 10% do PIB, indica que em 2012 os maciços programas de expansão de gastos públicos devem reduzir-se, o que afetará o crescimento no ano eleitoral.
Obama certamente terá problemas na eleição por conta da situação econômica. Mas os republicanos também enfrentarão dificuldades, entre elas encontrar um candidato com propostas convincentes para gerar empregos.

Carta de DILMA para FHC - Parabéns 80 anos!

Fiquei extremamente satisfeito com a mensagem abaixo enviada pela presidente Dilma ao presidente Fernando Henrique na comemoracao de seus 80 anos. Isso demonstra que, apesar de tudo, ainda existe educacao e civilizacao neste país. Parabéns a ambos.

Em seus 80 anos há muitas características do senhor Fernando Henrique Cardoso a homenagear.

O acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.

Mas quero aqui destacar também o democrata. O espírito do jovem que lutou pelos seus ideais, que perduram até os dias de hoje.

Esse espírito, no homem público, traduziu-se na crença do diálogo como força motriz da política e foi essencial para a consolidaçãoo da democracia brasileira em seus oito anos de mandato.

Fernando Henrique foi o primeiro presidente eleito desde Juscelino Kubitschek a dar posse a um sucessor oposicionista igualmente eleito.

Não escondo que nos últimos anos tivemos e mantemos opiniões diferentes, mas, justamente por isso, maior é minha admiraçãoo por sua abertura ao confronto franco e respeitoso de ideias.

Querido presidente, meus parabéns e um afetuoso abraço!

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...