Antonio Delfim
Netto, especialmente para a FOLHA DE S. PAULO de 11.01.2012.
O observador desprevenido do caótico panorama mundial e das
incertezas que este introduziu no que ele supunha ser a "ciência
econômica" tem a tendência de fazer desta tábula rasa e procurar a
salvação no pragmatismo irresponsável.
A crise que estamos vivendo não é uma daquelas ínsitas no
particular sistema de economia de mercado, cujo codinome de guerra é
"capitalismo". Foi produzida por uma avalanche do pensamento único,
cujo codinome de guerra é "neoliberalismo", apoiado por Estados
corrompidos pelo sistema financeiro internacional.
Quebrou-se, assim, o importante equilíbrio entre a urna e o
mercado, que conduz, não linearmente, ao aperfeiçoamento civilizatório da
"economia de mercado" -processo este que se renova e se civiliza um
pouco mais a cada crise.
A economia tem a seu favor o fato de que muitas das suas
"escolas" nunca aceitaram a hipótese dos mercados "perfeitos e
capazes de se autorregularem", hipótese esta que produziu a tragédia em
que vivemos. E mais. Um punhado de economistas antecipou e chamou a atenção
para o que se armava em nome das "inovações financeiras" que iriam
"facilitar o desenvolvimento e diminuir os custos de transação".
É hora, portanto, de reafirmar que existem mesmo princípios
econômicos e realidades insuperáveis. Por exemplo, que há uma troca permanente
e incontornável entre o consumo maior e o investimento menor no presente em
contraposição a um consumo menor e a um emprego menor no futuro. Ou que é uma
grande tolice tentar violar as identidades da contabilidade nacional.
É preciso reconhecer que não há um modelo de equilíbrio geral
do qual se possam extrair recomendações normativas que permitam classificar,
"a priori", como prejudicial ao desenvolvimento econômico qualquer
política governamental.
É evidente, por outro lado, que não há nenhuma razão para
supor que o Estado tenha sempre -e necessariamente- um conhecimento superior da
realidade e, logo, que seja dotado da "onisciência" que recomenda sua
"onipotência" e "onipresença" na economia.
Porém, quando se trata de política de desenvolvimento
industrial, o Estado pode "contabilizar" melhor os efeitos diretos e
indiretos de suas compras.
Ele pode "ver" (porque teoricamente pode
agregá-los) os resultados sociais de uma produção industrial que o setor
privado não pode internalizar em seus preços, mas a sociedade recebe como
aumento de renda.
Não há nada de errado, "em princípio" e "a
priori", contra o benefício ao produtor, desde que seja compensado -no
custo das empresas compradoras- com créditos do Tesouro gerados pela alta da
receita criada pelo valor adicionado da produção interna.
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