Moisés Naím, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escreve que “existe 'desigualdade
boa' e 'ruim', e o truque consiste em conter a segunda no nível mais baixo
possível”.
O principal tema político de 2012 será a desigualdade. Neste ano,
haverá eleições em países que concentram 50% da economia mundial. E, em todos
eles, os protestos contra a desigualdade e as promessas de reduzi-la fizeram
parte do debate.
A desigualdade não é nova. O que é novo é a intolerância em
relação a ela. As grandes maiorias nos países mais ricos, alquebradas por
desemprego e austeridade, começaram a interessar-se pela distribuição de renda
e pela riqueza. E o interesse pelo tema se globalizou. Por muito tempo o mundo
viveu em coexistência pacífica com a desigualdade (com ocasionais revoluções
que interromperam a coexistência).
Isso está mudando. Em todo lugar, a ideia de que a luta contra a
desigualdade é inútil ou desnecessária tornou-se indefensável. Aceita-se que
será certamente difícil alterar a distribuição desigual da riqueza, mas já não
está tão fácil quanto antes ignorar o assunto ou defender a ideia de que não é
preciso fazer nada a respeito disso.
A atenção voltada aos "1%" mais ricos tornou-se
obsessiva. Manchetes como a do "Los Angeles Times", "os seis
herdeiros da Wal-Mart são mais ricos que a soma dos 30% dos americanos com
renda mais baixa", são bom exemplo dessa tendência, assim como o fato de
os mais acirrados expoentes da direita radical dos EUA atacarem Mitt Romney por
ser rico e pagar poucos impostos.
Nem todos criticam a riqueza. Jamie Dimon, presidente do JPMorgan
Chase, declarou exasperado: "Não entendo nem aceito essa coisa de criticar
o sucesso ou agir como se todos os bem-sucedidos fossem maus". A
perplexidade de Dimon é baseada na suposição de que riqueza é o modo como a
sociedade estimula e premia inovação, talento e esforço. Quem é rico merece
sê-lo.
Mas nem sempre. Grandes riquezas também podem ser fruto de
corrupção, discriminação ou monopólios. Na lista dos mais ricos do mundo, há
muitos milhares de milionários que chegaram a isso mais graças ao Estado do que
ao mercado.
Por isso os estudiosos da desigualdade costumam compará-la ao
colesterol: existe desigualdade boa e ruim, e o truque consiste em incentivar a
boa enquanto a ruim é contida no nível mais baixo possível.
E aí está o risco: como reduzir a desigualdade sem desestimular
outros objetivos (investimento, inovação, tomada de riscos, esforços,
produtividade). Sabemos que alcançar uma sociedade mais igualitária foi o
objetivo de inúmeros experimentos que causaram mais desigualdade, pobreza,
atraso, perda de liberdades e até mesmo genocídios.
Mas a desigualdade econômica em alto grau é prejudicial à saúde de
um país: acarreta instabilidade política maior, mais violência e também
prejudica a competitividade e, no longo prazo, o crescimento.
Neste ano veremos inúmeras propostas para corrigir as disparidades
econômicas. Algumas serão velhas -e provavelmente más- ideias apresentadas como
novas. Mas com certeza aparecerão algumas novas e muito boas. Para os eleitores
e outros que possam influir sobre quais são adotadas e quais são rejeitadas, o
desafio será aprender com a história. E, como sabemos, não repetir os erros do
passado costuma ser mais difícil do que parece.
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