Editorial no ESTADÃO de hoje comenta sobre o otimismo do secretário de Política
Econômica, o que é sempre bom ler neste início de 2012.
No primeiro Relatório de Inflação do ano
passado, o Comitê de Política Monetária considerava que havia 50% de
possibilidade de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechar o ano
entre 4,8% e 6,3%. Na realidade, fechou em 6,5%, mais do que a previsão
relativa a 30% das possibilidades. Isso mostra as dificuldades de prever a taxa
de inflação no início do ano. O secretário de Política Econômica do Ministério
da Fazenda, Márcio Holland, numa entrevista ao jornal Valor, não teme correr o
risco de afirmar que este ano a pressão sobre os preços será menor.
Para o secretário, no ano passado o
Brasil enfrentou a conjunção de dois fatores que elevaram os preços: a alta de
preço das commodities e o quadro de dificuldades nos países ricos. Ele
reconhece, porém, que o modelo de política econômica brasileiro baseado no
crescimento da demanda interna teve responsabilidade na inflação.
No momento há uma queda de preço das
commodities em razão, basicamente, do arrefecimento econômico da China - queda
mais sensível no caso dos minérios do que no dos produtos agropecuários, cujo
destino não são apenas países asiáticos. Ora, a manutenção de um preço elevado
desses produtos tem grande influência no custo de vida das pessoas de renda
mais modesta. Podemos acrescentar, ainda, outros fatores, como a seca no Rio
Grande do Sul, que poderá aumentar os preços de parte dos produtos agrícolas.
Márcio Holland se refere à elevação do
preço do etanol: mesmo admitindo que a produção de cana seja maior e destinada
à produção de etanol, há, agora, a possibilidade de exportar esse produto para
os EUA sem aumentar a oferta interna.
O ponto que mais preocupa, assinalado
pelo secretário, é o modelo de crescimento baseado em estímulos ao consumo.
Márcio Holland nos lembra que, desde o primeiro mandato de Lula até agora, o
valor real do salário mínimo, incluindo o novo, cresceu 66%. Não se pode
menosprezar o último aumento, de mais de 7,5% em valor real, que levará ao
crescimento do poder aquisitivo de uma parte importante da população, inclusive
dos aposentados.
O secretário lembra que o brasileiro não
tem o hábito da poupança. É, pois, possível que o aumento de renda seja gasto -
e isso será ampliado por uma política de crédito generosa, especialmente quando
fornecido por meio de empréstimos subsidiados. Holland admite que parte dos
produtos consumidos será importada (em detrimento da indústria nacional) a um
preço que, dependendo da taxa cambial, poderá tornar maior o déficit nas
transações correntes.
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