terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O otimismo do secretário de Política Econômica.


Editorial no ESTADÃO de hoje comenta sobre o otimismo do secretário de Política Econômica, o que é sempre bom ler neste início de 2012.  

No primeiro Relatório de Inflação do ano passado, o Comitê de Política Monetária considerava que havia 50% de possibilidade de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechar o ano entre 4,8% e 6,3%. Na realidade, fechou em 6,5%, mais do que a previsão relativa a 30% das possibilidades. Isso mostra as dificuldades de prever a taxa de inflação no início do ano. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, numa entrevista ao jornal Valor, não teme correr o risco de afirmar que este ano a pressão sobre os preços será menor.

Para o secretário, no ano passado o Brasil enfrentou a conjunção de dois fatores que elevaram os preços: a alta de preço das commodities e o quadro de dificuldades nos países ricos. Ele reconhece, porém, que o modelo de política econômica brasileiro baseado no crescimento da demanda interna teve responsabilidade na inflação.

No momento há uma queda de preço das commodities em razão, basicamente, do arrefecimento econômico da China - queda mais sensível no caso dos minérios do que no dos produtos agropecuários, cujo destino não são apenas países asiáticos. Ora, a manutenção de um preço elevado desses produtos tem grande influência no custo de vida das pessoas de renda mais modesta. Podemos acrescentar, ainda, outros fatores, como a seca no Rio Grande do Sul, que poderá aumentar os preços de parte dos produtos agrícolas.

Márcio Holland se refere à elevação do preço do etanol: mesmo admitindo que a produção de cana seja maior e destinada à produção de etanol, há, agora, a possibilidade de exportar esse produto para os EUA sem aumentar a oferta interna.

O ponto que mais preocupa, assinalado pelo secretário, é o modelo de crescimento baseado em estímulos ao consumo. Márcio Holland nos lembra que, desde o primeiro mandato de Lula até agora, o valor real do salário mínimo, incluindo o novo, cresceu 66%. Não se pode menosprezar o último aumento, de mais de 7,5% em valor real, que levará ao crescimento do poder aquisitivo de uma parte importante da população, inclusive dos aposentados.

O secretário lembra que o brasileiro não tem o hábito da poupança. É, pois, possível que o aumento de renda seja gasto - e isso será ampliado por uma política de crédito generosa, especialmente quando fornecido por meio de empréstimos subsidiados. Holland admite que parte dos produtos consumidos será importada (em detrimento da indústria nacional) a um preço que, dependendo da taxa cambial, poderá tornar maior o déficit nas transações correntes.

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