Editorial da FOLHA DE S. PAULO DE HOJE, comenta que "dados mais recentes sobre economia
norte-americana são positivos, mas devem ser vistos com cautela, pois problemas
graves persistem." Pelo menos, uma esperança nestes tempos de crises.
O ano se inicia com renovada esperança
de uma recuperação mais consistente da economia norte-americana. Com efeito,
depois da decepção da primeira metade do ano passado, quando os EUA cresceram
menos de 1%, muito abaixo das expectativas, os resultados relativos aos últimos
seis meses têm sido vistos como sinal de alento.
O PIB teve alta de 1,8% no terceiro
trimestre e espera-se algo próximo a 3,5% nos três meses finais de 2011. A
geração de emprego também ganhou fôlego, atingindo a marca de 200 mil novas vagas
em dezembro, o que permitiu uma queda da taxa de desocupação de 9,2%, em junho,
para 8,5%.
Mesmo assim, se a estimativa do quarto
trimestre se confirmar, os EUA terão crescido apenas 1,7% no ano passado, pouco
mais da metade do prognóstico inicial. Espera-se uma taxa de expansão do PIB
perto de 2% para este ano, o que não é um desastre, mas está longe de repetir o
padrão habitual de recuperação -que apontaria para crescimento pelo menos duas
vezes mais elevado que o atual.
A performance fraca de 2011 foi fruto de
vários fatores. Com as informações disponíveis hoje, é possível concluir que o
crescimento da primeira metade do ano viu-se comprometido por alguns choques em
sequência, em especial a alta de 30% dos preços do petróleo, que reduziu a
renda disponível dos consumidores, e o terremoto no Japão, que interrompeu os
fluxos de produção global em cadeias industriais importantes.
Nos últimos meses, a despeito do
agravamento da crise europeia, é possível que esteja em curso uma compensação
desses efeitos, que, por sua natureza, são temporários. Convém, portanto,
cautela para não tomar os dados recentes como prenúncio de vigor prolongado ou
definitivo "descolamento" dos EUA da crise mundial.
Ao menos por ora, o peso das dívidas
imobiliárias e a situação desfavorável dos balanços dos bancos e do bolso dos
consumidores conspiram para conter uma aceleração mais forte.
Uma boa notícia para 2012 foi a
renovação dos estímulos fiscais para a geração de novos postos de trabalho e a
extensão do seguro-desemprego, aprovadas no fim do ano passado. O Congresso tem
dois meses para confirmar se elas valerão para o restante de 2012. Se isso
ocorrer, como parece provável, permitirá ao governo Obama pelo menos evitar um
indesejável aumento do aperto fiscal.
Com este pano de fundo, o Federal
Reserve (Fed, o banco central americano) tem mantido viva a possibilidade de
estímulos adicionais e deverá reforçar perante o mercado sua disposição em
manter os juros próximos de zero pelo menos até o fim de 2013.
Politicamente, a recuperação recente
pode melhorar as chances de Obama nas eleições presidenciais de novembro. Mesmo
com crescimento baixo, é possível que o alívio gradual das condições de emprego
faça a diferença em uma eleição que, apesar da aparente inexistência de um oponente
republicano de peso, se anuncia tensa e concorrida.
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