Luiz Carlos Mendonça de Barros, também na FOLHA DE S. PAULO e
suas previsões para 2012.
Acredito que estejamos vivendo uma dolorosa fase de cura dos
desequilíbrios do passado
Nesta primeira coluna de 2012, não posso deixar de fazer
minhas previsões para o ano que se inicia. Essa responsabilidade, que já é
pesada e difícil em tempos normais, fica ainda mais delicada em momentos de
grandes incertezas como o que vamos viver em 2012.
Depois de quatro anos de crise, antigas referências de
análise econômica estão desgastadas e sem credibilidade.
Por isso, nós, economistas, navegamos em momentos quase
revolucionários, quando a ruptura de valores, já estabelecidos e aceitos como
válidos pelos mercados, deixa um grande vazio analítico.
Dou um exemplo desse fenômeno: os dados de dez recessões que
ocorreram nas economias desenvolvidas nas últimas décadas apontam para um
período médio de dois anos entre o pico e o vale dos ciclos de ajuste. Na crise
que se iniciou em fins de 2007, a queda do PIB dos Estados Unidos chegou a
quatro anos e serão necessários mais dois para que a economia entre em velocidade
de cruzeiro novamente.
Os analistas e os economistas estão sendo obrigados a entrar
no metabolismo das economias de mercado para tentar entender o que está
acontecendo nesse mundo novo e, com isso, terem condições de fazer algumas
previsões.
Sem as regras de bolo que o pensamento neoclássico dava a
seus seguidores e sem o treinamento necessário para entender a dinâmica
microeconômica dos mercados, vivem momentos de grande insegurança.
Alguns, principalmente os vinculados à maioria dos
"hedge funds", jogaram a toalha e mergulharam em um niilismo muito
engraçado.
Por outro lado, os economistas vinculados ao pensamento mais
heterodoxo vivem momentos de euforia por entenderem que a crise atual resgata o
papel dominante do Estado na economia de um país e mostra os perigos do chamado
neoliberalismo anglo-saxão. A súbita paixão de alguns deles pela política
econômica da Argentina peronista mostra, para mim, que entenderam muito pouco
da crise que vivemos e qual o papel do Estado nas economias de mercado no novo
século.
Como sempre mantive uma posição equidistante desses dois
extremos, tentando aplicar ao mundo de hoje os ensinamentos de Keynes, minha
visão sobre o ano de 2012 é menos pessimista. Acredito em uma recuperação lenta
e gradual das economias mais importantes, principalmente em razão das políticas
adotadas em vários países.
Esse prognóstico vale inclusive para a Europa. Com isso, não
trabalho com uma depressão econômica e uma ruptura no sistema bancário dos
países desenvolvidos. Em outras palavras, acredito que estejamos vivendo uma
dolorosa fase de cura dos desequilíbrios do passado e que deve durar ainda
alguns anos. Mas o capitalismo não vai entrar em colapso, como muitos pensam.
No caso do Brasil, mantenho a visão de que vamos continuar
crescendo entre 3% e 3,3%, com uma taxa menor nos dois primeiros trimestres do
ano e uma aceleração na sua segunda metade.
Graças à queda dos preços das commodities por conta da crise
no exterior, vamos ter um alívio na inflação ao longo do ano, o que vai permitir
ao BC reduzir os juros Selic para até 9,5% ao ano. Nessa questão, fico com o
economista Fabio Ramos, da Quest, que trabalha com um IPCA de 5,2% para 2012.
A fonte principal do crescimento continuará a vir do consumo
interno, sustentado pelo aumento dos salários, do emprego e do crédito ao
consumo. Nesse cenário, o Brasil vai continuar a receber volumes expressivos de
investimentos internacionais e, com isso, conseguir complementar nossa escassa
poupança interna e permitir manter um nível decente de investimentos.
Finalmente trabalho com a hipótese de um pouso suave da
economia chinesa, com a reaceleração de seu crescimento na parte final do ano.
Nesse cenário, os termos de troca do Brasil voltarão ao nível que tem
prevalecido nos últimos tempos, mantendo a força de nossas exportações e
garantindo a manutenção de um deficit em conta-corrente abaixo dos 3% do PIB.
Essa visão sobre a China é um ponto importante para meu
cenário de crescimento no Brasil e espero estar certo em relação a ele.
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