LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, especialmente na FOLHA DE S. PAULO de hoje. Publicado, apesar de divergir de alguns tópicos anotados pelo autor. Afinal, estamos em 2012 e este é um blog que busca publicar as diversas visões da Economia.
Desde os anos 1970 os dirigentes das
instituições financeiras e os economistas viram seu poder político crescer, mas
o mundo também viu um imenso aumento da instabilidade financeira.
Enquanto financistas ganhavam milhões e
milhões, o prestígio e o poder dos economistas aumentava. Enquanto estes,
muitos transformados em financistas, aumentavam seus ganhos, as crises
financeiras se multiplicavam, e a renda de cada país se concentrava nos 2% mais
ricos.
Podemos buscar várias explicações para
isso, mas creio que o fato histórico novo que teve papel determinante nessa
mudança foi a decisão do presidente Nixon em 1971 de suspender a conversão do
dólar em ouro ou, mais especificamente, a conversão das reservas em dólares dos
outros países em ouro, se seus dirigentes o solicitassem.
A partir desse momento, o dinheiro
perdeu referência com a economia real; a criação, o fluxo e a destruição de
moeda passaram a ocorrer com grande facilidade; o endividamento do setor
privado saiu de controle e, na falta de uma verdadeira âncora para a economia,
as crises financeiras se tornaram, além de mais frequentes, também mais
profundas.
O poder dos financistas e dos
economistas aumentou porque eles passaram a ter um papel estratégico: seriam os
gestores desse novo quadro monetário-financeiro -da "financeirização"
da economia mundial. Mas, passados 40 anos, verificamos que fracassaram.
Os financistas, porque se preocuparam
apenas em ganhar mais dinheiro para eles e para os rentistas. Os economistas,
porque construíram uma teoria matemática -a teoria econômica neoclássica- que
"demonstrava" que os mercados eram autorregulados, de forma que não
havia por que gerir as economias nacionais e a economia mundial. Os dois,
porque, ao desregularem os mercados financeiros, estavam "desgerindo"
a economia.
Dani Rodrik informou em artigo recente
(publicado no "Valor", 19.dez.2011) que um grupo de estudantes
abandonou o curso de seu colega na Harvard University Greg Mankiw, protestando
contra o fato de que "o curso propaga ideologia conservadora disfarçada de
ciência econômica e ajuda a perpetuar a desigualdade social".
Os alunos foram benignos com a teoria
econômica ortodoxa: deviam ter acrescentado que ajuda também a aumentar a
instabilidade financeira e causar baixo crescimento.
Rodrik defendeu o colega, argumentando
com o seu "paradoxo da globalização": que nos cursos os economistas
neoclássicos ensinam uma teoria econômica sofisticada, onde as falhas de
mercado são devidamente salientadas, mas, na hora de proporem políticas, adotam
um liberalismo econômico simplista. Ele está enganado.
Essa teoria econômica matemática que se
ensina nas grandes universidades, baseada nos pressupostos do "homo
economicus" e das expectativas racionais e no modelo do equilíbrio geral é
essencialmente falsa, porque usa o método hipotético-dedutivo e porque adota
como critério de verdade a coerência lógica, não a conformidade com a
realidade.
Mas não é uma teoria falsa por engano; o
é por arrogância matemática que lhes dá monopólio sobre o saber e porque
interessa aos economistas ensinar que os sistemas econômicos são
autorregulados, bastando para isso corrigir suas pequenas falhas.
Dessa forma eles usam a teoria econômica
neoclássica para justificar "cientificamente" o neoliberalismo -uma
ideologia reacionária que durante 30 anos (1979-2008) promoveu o atraso e a
desigualdade em todos os países que a aceitaram. E, ao mesmo tempo, dizem aos
cidadãos desses países que fiquem calados, já que não dominam o "conhecimento"
matemático e preciso.
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