Rubens Barbosa, hoje no O Estado de S. Paulo e a sua análise sobre 2012.
O novo ano nasce sob a marca da
instabilidade política no cenário internacional e da volatilidade e da
incerteza na área econômica. A democracia e o mercado estarão em xeque em 2012.
O mundo vive em sobressalto diante da
crise econômica e financeira que se abate sobre os EUA e a União Europeia (UE).
Não bastasse, são igualmente inquietantes alguns sinais que, isolados, podem
não parecer preocupantes, mas, quando vistos em conjunto, adquirem o caráter de
uma possível grave crise nos próximos meses.
O quadro mais complexo está no Oriente
Médio. Permanece a possibilidade de um ataque, aberto ou por meio de ações
clandestinas, às instalações nucleares no Irã. Notícias de que o Reino Unido e
Israel se preparam militarmente para atacar o Irã diminuíram, mas não
desapareceram, como evidenciado pela questão da passagem do petróleo pelo
Estreito de Ormuz. A concentração de tropas norte-americanas no Kuwait e o
lançamento bem-sucedido de mísseis de longo alcance israelense e iraniano
indicam que preparativos de lado a lado se intensificam. Isso não quer dizer
que o ataque seja iminente nem que será levado a efeito, mas esses fatos ajudam
a aumentar a tensão na área, agravada pelos ataques recíprocos Israel-Hamas,
apesar da retomada das conversações. O estado de guerra civil na Síria contra o
governo de Bashar Assad pode propiciar a repetição da fórmula utilizada pela
Otan na Líbia. Para complicar ainda mais a situação, depois da queda dos
regimes autoritários da Tunísia, do Egito e da Líbia, no Norte da África a
primavera árabe começa a se defrontar com as inevitáveis rivalidades internas,
questões tribais e religiosas afloram e ameaçam a transição para a democracia,
podendo reacender focos de guerra civil. A retirada do Afeganistão e do Iraque
das forcas militares dos EUA não contribuirá para reduzir as tensões e vai concentrar
as atenções nas ações do Irã nesses dois países. O Paquistão nuclear continuará
a preocupar pela instabilidade política.
As Nações Unidas, locus para a discussão
de questões de paz e de segurança, saíram desgastadas depois dos episódios na
Líbia. A resolução aprovada permitindo medidas necessárias para proteger vidas
humanas foi ampliada, sem autorização da comunidade internacional, pelos
membros da Otan, liderados pelo Reino Unido e pela França, com a tácita
cumplicidade dos EUA. Não só para interferir numa guerra civil, mas para caçar
e matar Muamar Kadafi. A experiência líbia é o primeiro caso de aplicação do
novo conceito estratégico de atuação de uma forca da segurança global capaz de
intervir em outros países com ou sem autorização do Conselho de Segurança.
Estabeleceu-se perigoso precedente que poderá ser invocado a qualquer momento
contra a Síria, o Irã ou outros países vistos como ameaça à comunidade
internacional. O Brasil, que corretamente se absteve quando da aprovação da
resolução sobre a Líbia, está apresentando proposta para limitar esse tipo de
excesso, sugerindo que a preocupação da ONU seja não só no sentido de exercer a
responsabilidade de proteger, mas também ao proteger.
Por outro lado, o pedido da Autoridade
Palestina de ingresso como membro permanente da ONU, feito ao Conselho de
Segurança, foi esquecido. Os EUA e Israel retaliaram, com corte de dotações
orçamentárias, a decisão de entrada da Palestina na Unesco.
Ao preocupante cenário político
internacional devem-se acrescentar a instabilidade e o baixo crescimento, que
deverão perdurar entre cinco e dez anos em razão das crises econômicas na
Europa e nos EUA.
A crise europeia continuará a manter
alta a temperatura política no continente, por causa da negociação de um novo
tratado de responsabilidade fiscal e da possibilidade concreta de que outros
países tenham de ser socorridos a fim de evitar a ameaça de rompimento do
sistema monetário ou mesmo da união política do continente.
O G-20 continuará procurando se
consolidar como um fórum para o exame da evolução da crise econômica e o dólar
continuará a perder valor. A produção de petróleo não está aumentando, o que
manterá os preços altos por muito tempo, acrescentando mais um elemento de
pressão contra a volta do crescimento.
As demonstrações anticapitalismo, fruto
da frustração da classe média, que surge como grande perdedora, espalhar-se-ão
por diversas capitais e continuarão a exercer pressão sobre os principais
centros financeiros, embora sem consequências práticas.
Os países emergentes, China à frente,
continuarão a liderar o crescimento da economia global e deverão superar em
2012, em termos de produto interno bruto, os países desenvolvidos. O Brasil
deverá ter seu crescimento reduzido pela crise. O comércio internacional deverá
estagnar ou registrar uma expansão menor, em função da desaceleração econômica
nos EUA e na UE e da restrição dos financiamentos a exportação.
Eleições em 24 países, inclusive nos
EUA, na França, na China e na Rússia, definirão os novos líderes que terão de
enfrentar os desafios impostos pelas incertezas e instabilidades.
Os EUA, no meio de uma continuada crise
de confiança, de baixo crescimento e de aumento do desemprego, começam a se
preparar para as eleições presidenciais. A campanha para as prévias, do lado
republicano, mostra como o sistema político naquele país está disfuncional, com
efeito negativo direto sobre o funcionamento do governo. O fator preocupante é
que os neoconservadores - fundamentalistas falando inglês - estão de volta, com
toda a força, e a reeleição de Barack Obama - que até aqui parece a melhor
perspectiva - não está assegurada. A vitória de um candidato republicano
certamente teria um impacto expressivo sobre o cenário político e econômico
global.
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